Renato ia da porta do quarto até a janela, dela até a cama e voltava para a porta, numa triangulação frenética. Sua cabeça era um estádio lotado de pensamentos. Seu rosto queimava, o suor brotando no rosto e as mãos formigavam. Imaginou os prints de suas conversas com Wesley rodando pelo Facebook, Twitter, Instagram e sabe-se lá Deus por onde mais, sem nenhum controle, pois todo mundo sabe que, uma vez na rede, as informações seguem caminhos incontroláveis. Ele sempre acreditou que Suzy era uma peste. No entanto, não imaginava que ela pudesse são tão maligna quanto se mostrara. Como alguém tão nova podia ser tão do mal? Se naquela idade, Suzy já estava fazendo a vadia chantagista, imagina quando chegasse aos 15 ou 18 anos. Renato sabia, também, que as ameaças da irmã não era ameaças vazias. A possibilidade de ela cumprir com a promessa de expô-lo era real. Disso ele não tinha dúvidas.
Como sair daquele enrosco? Ele bem que poderia contar toda a verdade para a mãe, claro. Mas cadê a coragem? Lá no fundo, ele até desconfiava de que a mãe já sabia tudo a seu respeito, não dizem que as mães sempre sabem? E ainda tinha o fato de seu melhor amigo ser o Silas. Silas carregava uma luz na testa anunciando que era gay. E se os dois não desgrudavam, a conta era muito simples: era só somar dois mais dois que o resultado seria a homossexualidade de ambos. Ainda mais considerando o fato de que ninguém acreditaria na amizade, sincera, de um hétero com um gay. Fruto de um mundinho bem preconceituoso!
No entanto, a sua situação era diferente, era bem mais complexa do que qualquer pessoa pudesse imaginar: não era apenas de sua vida que tudo aquilo dizia respeito. Suzy tinha jogado Wesley na roda também. Mais do que expor ele próprio a execração pública, sua irmã estava ameaçando fazer o mesmo com um cara que nada tinha a ver com suas rusgas fraternas. Ao queimar o filme do irmão, por tabela, a garota queimaria o de Wesley também e isso não era justo. Por outro lado, será que Wesley é assumido?, ele pensou. Era bem possível que o peão lidasse bem com sua própria orientação sexual e talvez para ele não fizesse diferença; ele estava tão à vontade na quermesse de Rio das Pedras, não parecia o tipo de pessoa que vive trancada no armário (como você, né, Renato?). A possibilidade existia, sim, talvez Wesley fosse realmente assumido. Talvez, Renato, talvez. No entanto, mesmo que o cowboy fosse a pessoa mais fora do armário de todas; era tudo sobre a vida de uma terceira pessoa. Uma pessoa que não escolhera ter uma irmã horrorosa como Suzy.
Zonzo de tanto andar de um lado para outro no quarto, com os músculos em frangalhos de tanta tensão; além de ter que lidar com uma avalanche de pensamentos invasores, Renato desabou na cama e ficou estático olhando para o teto. Alguns planos para se livrar da irmã – e de toda aquela merda que ela criou – passaram pela sua cabeça. Complementos da ideia que teve na cozinha, quando precisou conter a vontade de atacar Suzy com aquela faca de pão. Ele poderia muito bem atrair a irmã até o lago da cachoeira e afogá-la. Ele seguraria a cabeça de Suzy embaixo da água enquanto ela se debatia, uma hora ela apagaria lá no fundo do lago. Depois ele voltaria para casa e fingiria não ter visto aquele projeto de megera. Quando o corpo fosse achado, ele choraria e ficaria com o olhar parado em um ponto fixo, com a expressão abobalhada por algum tempo, fingindo sofrimento, até convencer os presentes. Era um plano perfeito.
Havia as vacas também. Talvez se ele roubasse um daqueles compridos que a mãe tomava para dormir (ela jurava que nunca usara nada para dormir, mas ele sabia que era mentira), colocasse a pílula em uma bebida de Suzy, esperasse ela cair num sono profundo, ele poderia entrar sorrateiramente no quarto dela, arrastá-la para fora da casa e depois a jogaria no curral durante a madrugada. A irmã seria pisoteada pelas vacas, com certeza. Outro plano maravilhoso.
No entanto, independentemente de qual plano escolhesse, a sequência natural seria ele virando personagem de algum documentário do canal ID – irmão assassino – será que esse programa já existia? Se ainda não existisse, poderiam criar usando sua história com Suzy para o show de estreia.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...