Cap. 51 - AREIA E SOL

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A primeira semana depois da conversa estranha que tivera com o pai, para dizer o mínimo, passou e Renato ainda não sabia exatamente em que pé estava sua relação com Wesley. Nos últimos dias, eles vinham se falando com uma frequência cada vez menor, cada um alegando que estava envolto com atividades escolares exaustivas e urgentes. De um lado e de outro, ninguém questionou nada e ambos agradeciam aos céus por não precisar dar maiores explicações.

Tentando afastar o fantasma daquela situação chata, Renato acabou aceitando o convite de Elvis para ir à praia. Era um domingo de sol forte, coisa rara em Paraíso, o que favorecia e muito uma manhã estirado nas areias brancas da orla do Estige.

Às dez em ponto, Elvis estava em frente ao prédio do amigo, esperando-o. Renato desceu, trazendo um guarda-sol em uma das mãos e uma sacola estilo carteiro cruzando o corpo; ele cumprimentou o colega com um abraço e disseram amenidades, antes de atravessarem a avenida em direção à praia de água doce. Instalaram-se em um dos poucos metros quadrados livres, nitidamente, os dois não foram os únicos a terem a brilhante ideia de curtir uma agradável manhã ensolarada.

Assim que encontraram o bendito lugar disponível, Elvis deu início a seu ritual de praia: jogou uma enorme toalha com as cores do arco-íris sobre a areia e tirou a camiseta, ficando apenas de short. Na verdade, um micro short. Com cuidado, colocou sua enorme sacola ao lado da toalha, sentou-se e começou a procurar alguma coisa.

Em silêncio, Renato apenas observava o amigo. Menos afeito à exposição solar, ele abriu o guarda-sol e também esticou sua toalha sobre a areia, uma toalha bem mais discreta do que a de Elvis. Sentando-se, com as pernas cruzadas, ele puxou, de dentro da bolsa, um Kindle.

- Bicha, não acredito nisso! – protestou Elvis.

- O que foi? – perguntou Renato, sem entender o tom de indignação do amigo.

- Você vai ler? Num dia lindo com este – ele apontou para o céu.

Renato deu de ombros.

- Quem disse que o dia precisa estar feio para que se possa ler?

- Amada, é tipo a música do moço lá, acho que é Gilberto Gil: livro combina com dia frio! Hoje temos um sol espetacular... é dia de se bronzear!

- Você sabe que eu não sou muito chegado nessa história de ficar tostando no sol, Elvis. Para de show! E depois, a música é do Djavan.

Elvis fez uma careta impaciente.

- Tanta faz de quem seja a música. Mas o fato é: a senhora precisa de um sol, gata!

- Eu estou muito bem, obrigado.

- Não está, não. Eu já te disse e repito: essa sua palidez não é natural, fofa. Uma pessoa desbotada assim – ele aponta para o amigo – não pode ser saudável.

- Elvis, me deixa!

- A senhora é estranha – sentenciou Elvis, tirando o bronzeador de dentro de sua sacola e começando a passá-lo pelo corpo, em movimentos circulares e suaves. – Eu quero ficar linda e poderosa, com uma pele bem acobreada, sabe? Hoje eu só saio daqui, quando estiver com o bronzeado da Anitta na loja!

Renato soltou um risinho.

- Meus Deus, vai ficar uma diva.

- Eu sou uma diva, meu amor – garantiu Elvis, colocando seus óculos escuros e olhando ao redor. – Gente, isso aqui hoje está um fervo.

- Você sabe como é raro um dia de sol aqui em Paraíso; então, as pessoas estão aproveitando.

- Verdade... uma cidade com um rio tão bonito, uma praia tão linda, mas que vive nublada praticamente o tempo todo. Parece até castigo divino – Elvis fez um bico.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora