- O que ele tá fazendo aqui? – perguntou Renato pausadamente, com a respiração ofegante e a raiva pulsando nas veias.
- Era para eu ter conversado com vocês antes, mas...
- Ele não vai voltar pra casa, né? – interrompeu o garoto.
- Então, meu bem – disse Joana, virando-se para encarar o filho no banco de trás do carro –, era justamente sobre isso que eu queria conversar com você e com sua irmã. Eu e seu pai, nós... nós decidimos que... era melhor...
- Fala sério! Você é inacreditável!
Renato embolou o fio dos fones de ouvido de qualquer jeito e o empurrou para dentro do bolso da calça junto com o aparelho, abriu a porta do carro e desceu, batendo-a com força ao sair.
- Renato, espera! A gente precisa conversar! Renato! – gritou Joana abrindo a porta do motorista, mas o filho já havia tomado uma distância considerável. E pelo tom das pisadas, ele não parecia muito disposto a ouvir o que a mãe tinha a dizer também. Por melhores que fossem seus argumentos.
Desanimada, a médica voltou para dentro do carro, posicionando-se atrás do volante e olhando para frente, com o olhar fixo na entrada da casa, sem dizer nada. Estava se sentindo como uma adolescente pega em flagrante ao fazer algo de errado. Ela não sabia se entrava logo na casa e enfrentava aquela situação ou se dava a ré no carro e voltava correndo para Rio das Pedras.
- É sério que você e meu pai vão voltar, mãe?
Joana olhou para Suzy com carinho. Em meio àquela ameaça de tempestade, pelo menos alguém parecia feliz, e isso era um fragmento de luz em meio à escuridão que se avizinhava.
- Parece que sim.
- Caramba, que máximo! Melhor presente de férias.
- Seu irmão não parece ter ficado tão empolgado quanto você, não – comentou Joana, desanimada.
- Quem liga? O Renato é um escroto!
- Suzy, não fala assim do seu irmão.
A menina fez uma careta antes de continuar.
- Fala sério, mãe. O Renato é insuportável! Se ele não quiser viver com o papei que venha morar aqui com a vovó. Aliás, acho que ele deveria fazer isso mesmo.
Joana revirou os olhos. Era só o que faltava: Suzy e Renato – que já não eram lá grandes amigos – começarem uma guerra por causa daquela situação.
- Esquece, Suzy. Não tem a menor chance de isso acontecer.
- Droga! Nem tudo é perfeito – bufou a menina.
- Acho melhor a gente entrar, né?
As duas desceram do Honda e seguiram para o interior da casa de Vanda, sem trocar uma única palavra. Joana sentindo o ar ficar cada vez mais denso, como se estivesse penetrando em área inimiga.
***
Quando entrou na sala, Renato encontrou seu pai sentado no sofá com uma lata de cerveja na mão, enquanto sua avó tomando café parada junto à janela. O pai exibia um semblante calmo, uma serenidade que era estranha a Renato. Vanda, por sua vez, não parecia confortável com a presença daquele homem ali na sua sala.
- Renato, meu querido, vocês voltaram cedo. O passeio foi interessante? – disse Vanda, tentando parecer à vontade.
- Foi maçante. E já não havia muito mais o que ver em Rio das Pedras – revelou o rapaz, sem tirar os olhos do pai.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Ficção AdolescenteQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...