Cap. 26 - Pais e filhos.

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Renato aproximou-se da escada, segurou o corrimão e começou a descer quase cantarolando, sem pressa alguma. Embora tivesse sido tomado por aquela coragem sobrenatural de enfrentar seus parentes (o que lhe causava espanto), não estava lá tão a fim de encontrar seu pai e sua mãe, a coragem era uma coisa, o desejo de ficar frente a frente com Manuel e Joana, era outro; de modo que não sairia correndo pela casa, esbanjando felicidade. Eles que esperassem.

Na sala, encontrou a avó preenchendo um livrinho de palavras-cruzadas. Vanda retirou os óculos e os deixou pendurados no pescoço por uma correntinha charmosa de prata e encarou o neto, sorrindo, assim que percebeu sua presença.

- Olá, querido. Tudo bem?

- Tudo maravilhoso – disse Renato, sem muita empolgação. A quem ele queria enganar? A coragem que o tomara iria desaparecer assim que entrasse na biblioteca, ele podia sentir no ar.

Vanda ficou observando-o por mais alguns segundos, tentando decifrá-lo. Desde pequeno, ela nunca vira o neto sorrindo pelos cantos, ou alegre. Muito pelo contrário, Renato sempre fora um garoto introvertido, fechado, carrancudo. Ela diria até mal-humorado. No entanto, Vanda podia jurar que, naquele momento, havia algo mais ali. Renato parecia querer passar uma falsa impressão. Ele estava sorrindo, ou era ela quem estava vendo coisas?

-Tem certeza de que está tudo bem? – Vanda insistiu.

- Tenho, sim. Não se preocupa comigo. Eu estou muito bem, juro.

- Ok. Se você está dizendo...

- Minha mãe tá na biblioteca, né?

- Sim. Acompanhada do seu pai.

Renato respirou fundo. É claro que o seu pai estava lá também. Por que não estaria afinal de contas?

- Beleza – murmurou, e seguiu em direção ao encontro inevitável.

Joana estava sentada na cadeira atrás da enorme e pesada mesa de madeira, enquanto o marido se encontrava à vontade em uma das poltronas, em frente à esposa.

- Renato – disse Joana, tentando forçar uma simpatia que definitivamente não cabia ali. –, venha cá. Senta aqui perto da gente, precisamos conversar um pouco.

Renato olhou ao redor. Só havia os três ali dentro. Onde será que Suzy tinha se metido? Ele podia apostar que a irmã participaria daquela encenação toda. Aliás, todo aquele circo seria uma verdadeira festa para a miniatura de megera.

Após os trinta segundos, ou menos, que precisou para confirmar que a irmã não faria parte da reunião, ele seguiu até a segunda poltrona, ao lado do pai, e sentou-se firme. Não vou demonstrar medo! Vocês vão precisar de muito mais do que uma reunião misteriosa e isolada para intimidar.

- Você está ótimo – Joana sorriu para o filho. – Adorei essa camiseta. Ela é tão... é tão... original, não é? É nova? Não me lembro de ter comprado essa.

Joana estava tentando deixar o clima o mais favorável possível e Renato sentiu pena da mãe por um segundo, ela fracassava miseravelmente nessa missão. Coitada, pensou o menino, Joana não passava de uma personagem risível naquele momento. De modo algum conseguiria transformar o clima tenso na biblioteca em algo mais respirável. Ele estava bastante nervoso, esfregando as mãos pelas pernas e a mãe também estava desconfortável, ele tinha certeza disso. Quanto a seu pai, esse parecia muito bem, obrigado. O que não era de se espantar, afinal, seu Manuel sempre teve o controle da situação, de qualquer situação – ou pelo menos fingia muito bem.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora