- Calma aí. Então quer dizer que sua mãe ficou de boa? – perguntou Elvis, levando-se da cama e indo em direção a Renato, que estava encostado no armário.
- Melhor do que eu imaginava.
- Bicha, então finalmente a senhora está livre! – Elvis abraçou Renato, quase sufocando o amigo.
- Livre? – disse Renato, tentando se livrar do abraço do amigo. – E desde quando eu estava preso, Elvis?
- Claro que a senhora estava presa. Presa em um armário, esqueceu? Mas agora, um mundo todo se abre à sua frente... vamos causar muito no mundo gay!
- Não exagera, Elvis.
Renato riu, saiu de onde estava e foi se sentou na cama do amigo.
- Mas quer saber? – continuou Renato - Parece que eu tirei um peso das minhas costas, impressionante. Estou me sentido tão mais leve.
Elvis sentou-se na cama também, do lado oposto ao de Renato.
- E eu não sei? Não tem nada melhor do que a gente se assumir, mana. Tirar aquela pressão de cima da gente, sabe?
- Sei.
- Quando todo mundo sabe, não ficamos com medo de alguém descubra. Questão de lógica, né? – brincou Elvis.
- Se bem que, no seu caso, esse lance de sair do armário nem deve ter sido tão dramático. Aliás, acho que você nem precisou sair de lá. – Brincou Renato.
Elvis jogou a cabeça para trás, como se jogasse uma enorme cabeleira e revirou os olhos.
- Não sei do que você tá falando.
- Ai, Elvis, para. Você se assumiu com quantos anos? Cinco?
- Tá louca? – protestou Elvis. – Eu não era tão velha assim!
Os dois caíram na gargalhada e deitaram cama, mirando o teto.
- E eu contei para ela sobre o Wesley também...
- Nossa. Então foi pacote completo?
- Aham...
- E como ela reagiu?
- No fundo, no fundo, eu não sei, talvez tenha ficado chocada. Mas pelo menos não disse nada messe sentido e ainda falou que acha ele "legal".
- Isso é ótimo.
- Sim, é ótimo com certeza.
- Vem cá, e quando será o jantar?
- Que jantar?
- O jantar de apresentação? Ai, mona, agora você tem que apresentar o cowboy oficialmente pra sua família.
Renato suspirou fundo.
- Família é muita gente, Elvis.
Elvis rolou na cama e repousou o rosto no braço, para encarar o amigo.
- Já pensou em como vai ser quando seu pai ficar sabendo?
- Essa é a segunda parte da trama...
- E talvez a mais complicadinha...
- Pode apostar que é.
- O importante é que agora você não está sozinho nessa guerra. Tem sua mãe ao seu lado.
Renato respirou fundo, saiu da cama e foi se sentar na cadeira junto à escrivaninha de Elvis.
- Só não sei até onde ela seria capaz de ir comigo nessa luta.
Elvis também saiu da posição esparramada na cama e se sentou de frente para o amigo.
- Peraí, viado. Você acha que sua mãe seria capaz de fazer a egípcia diante do seu pai?
Renato pensou um pouco. Se Elvis tivesse feito essa mesma pergunta há alguns meses, com certeza, a resposta seria que ele acreditava no engajamento de Joana. Porém, agora, diante de tudo que estava acontecendo em sua casa. Observando o fato de a mãe ter aceitado o pai de volta, depois de tudo que eles passaram nas mãos de Manuel, ele já não tinha tanta certeza assim do que sua mãe era capaz de fazer para ajudá-lo.
- A minha mãe tem um comportamento um tanto quanto misterioso. Nunca sei o que ela vai fazer, como vai agir. Às vezes, ele me decepciona um pouco.
- Está falando do fato de ela ter levado seu pai para dentro de casa, mesmo ele sendo uma pessoa... – Elvis ficou gesticulado com as mãos, procurando a palavra certa.
- Violenta? Preconceituosa? Homofóbica? – interferiu Renato. – Exatamente isso! Ela sabe muito bem como é o comportamento do seu Manuel, e mesmo assim, lá está ele. Morando debaixo do mesmo teto que ela.
- Complicado, hein?
- Muito.
- Ok – Elvis quase deu um pulo na cama, batendo palminhas e espalhando sorriso. – Vamos deixar de baixo astral, vamos pensar em coisas boas: metade dos seus problemas estão resolvidos. A sua história feliz com o garoto propaganda do sertanejo universitário está a um passo da realização.
Renato riu e sentiu milhares de borboletas no estômago.
- Tomara!
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...