Cap. 48 É PIOR DO QUE COBRA CASCAVEL

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O Bar do João era muito popular em Paraíso, principalmente entre jovens estudantes e velhos homens das forças policiais da cidade. Instalado em um velho depósito da área industrial da cidade, o estabelecimento era um verdadeiro pé sujo, que ganhou a simpatia de pessoas ricas e outras nem tanto. À noite, muita gente se espremia ali dentro para encher a cara de chope, cerveja, água ardente, ou simplesmente comer petiscos de qualidade (e aparência) duvidosa, além de jogar bilhar.

Com uma única porta de entrada e saída (que favorecia muito o clima escuro do lugar), o Bar era o lugar perfeito para quem queria pensar na vida, enquanto tomava umas e outras, sem ser visto por ninguém.

Manuel estava sentado junto ao balcão, tomando a terceira garrafa de cerveja e assistindo ao jogo de futebol que passava na TV presa acima da prateleira onde ficavam as garrafas de cachaça.

O barulho dos fregueses, animados ao ver o Clube Atlético de Paraíso vencendo o rival vizinho – Clube de Regatas Ressurreição, mal era percebido pelo policial (as únicas pessoas que o incomodavam formavam um grupinho empolgado. Jovens que, certamente, estudavam na Universidade de Paraíso). No entanto, a mente do policial estava em outro lugar. Mais precisamente no apartamento no segundo andar de um dos prédios da universidade. Entre um gole e outro de cerveja, Manuel se culpava por não ter sido mais enfático com aquele moleque metido a cowboy. Talvez não tivesse dado a ele o recado necessário. Isso poderia ser interpretado pelo rapaz como uma demonstração clara de fraqueza.

Um dos atendentes se aproximou e trocou a pires de amendoim torrado diante de Manuel, deu um pequeno sorriso e fez um cumprimento de cabeça. Tentando ser educado o moço, pensou o pai de Renato, mas não se deu ao trabalho de emendar uma conversa. Não estava com saco para papo furado.

- Dia complicado, seu Manuel?

Manuel virou-se para ver quem havia acabado de sentar ao seu lado e estava puxando assunto.

Juliano estampou um sorriso de orelha a orelha, uma verdadeira caricatura do gato de Alice.

- Eu te conheço, rapaz? – perguntou Manuel, com a cara fechada.

- Eu sou o Juliano – ele estendeu a mão para o policial, que não se moveu. – Sou amigo do seu filho... do Renato. – Juliano recolheu a mão, meio sem graça.

- Nunca te vi lá em casa – Manuel começou a medir o rapaz.

- Na verdade, fiquei amigo do Renato há pouco tempo. A gente se conheceu tipo mês passado lá em Rio das Pedras. Eu sou de lá – Juliano insistia em manter o sorriso na cara.

- Ah tá.

- Me mudei para cá para poder estudar...

- Sei...

- Aí, sabe como é, quando não temos aulas à noite, a gente se reúne aqui no Bar do João. Este lugar é icônico.

Manuel olhou ao redor.

- E cadê sua turma?

- Meus amigos? Ah, eles estão espalhados por aí. Tem uns lá em cima jogando dardos, tem outros ali nas sinucas...

- Aham...

Juliano tomou um gole do seu drink colorido.

- Você tem idade pra tá bebendo isso aí, rapaz?

- Com certeza! Não sou mais criança, relaxa – ele riu. – Eu sei que o senhor é policial, mas não precisa se preocupar comigo. Eu vim e vou voltar de Uber. Nunca ia dirigir depois de beber.

- Acho bom mesmo.

Juliano depositou o copo com o líquido azulado sobre o balcão, observou a banqueta com o forro do acento rasgado, disfarçou a cara de nojo e se sentou, tentando se sentir mais confortável.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora