Cap. 22 - Posso segurar a sua mão.

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Enquanto Renato deixava a sede da fazenda no banco do carona da S10 de Vanda, que era conduzida por Wesley, tudo aconteceu como se fosse em um filme: o carro cruzou com o Corolla de Manuel, que voltava sabe-se lá de onde. Os automóveis passaram um pelo outro e isso se deu por um breve momento. Um instante curto, mas suficiente para que Renato pudesse ver o olhar macabro de Suzy – que estava do lado do passageiro do Corolla. Ele podia jurar que ela havia arqueado a sobrancelha numa atitude ameaçadora.

A ação pareceu ocorrer em câmera lenta, e Renato se sentiu preso na Sessão da Tarde. Ele sentiu-se como a mocinha inocente do filme que foge da irmã megera. E quando viu a expressão gélida de Suzy no outro carro (aquela sobrancelha não lhe saia da cabeça), ele percebeu que tomara uma sábia decisão ao sugerir que fossem para longe da fazenda. Ter que conviver com a irmã, naquele momento, seria uma tragédia anunciada. Ela poderia jogar alguma piadinha na mesa e ele correria o risco de comprar a provocação e acabar falando mais do que deveria.

- Algum problema? – quis saber Wesley.

Renato estava com o coração e a alma aliviados. Não ia ser uma Suzy qualquer – mesmo com cara de demônio – quem iria estragar seu dia. Ele havia beijado o cowboy, havia sentido o gosto de seus lábios tocarem os de Wesley e nem mesmo sua irmã maligna seria capaz de estragar aquele momento. Ele estava muito feliz para ser arrastado ao mundo sombrio que a irmã frequentava.

- Problema algum. Está tudo perfeito.

Wesley exibiu um sorriso avassalador.

- Assim que gosto. Nada de baixo astral.

A picape avançou aos solavancos pela estrada de cascalho, espalhando poeira pelo caminho, cobrindo a visão da fazenda de Vanda. Cobrindo a energia ruim que Manuel e Suzy estavam espalhando pelo local. Acho que você vai perder essa guerra, irmãzinha, pensou Renato. Sua coragem tinha se revigorado após aquele beijo. Impressionante como a pessoa muda sua perspectiva de vida, quando tudo parece bem.

Um caminhão atravessava a BR em altíssima velocidade, obrigando Wesley a pisar no freio e esperar um pouco para continuar.

- Aonde nós vamos?  Para onde você quer que eu te leve? Rio das Pedras? – perguntou Wesley.

- Tanto faz...

- Acho que merecemos um sanduíche gigante. Tá certo que você me disse que não está com fome, mas eu não acreditei. – Disse Wesley, sem tirar os olhos da estrada. – Eu conheço o melhor hambúrguer de Rio das Pedras. Com certeza, ele vai matar sua fome.

- Acho que já experimentei o sanduíche de Rio das Pedras. Pelo menos aquele que servem no shopping. Acho que aquilo era um shopping.

Wesley riu.

- Tá tirando onda com a nossa cara, menininho da cidade grande? – Wesley brincou, fingindo indignação. – Mas concordo contigo. Aquilo não é um shopping. E aquele hambúrguer não é hambúrguer. É uma coisa estranha. Muito industrial... vou te levar num lugar onde se come hambúrguer de verdade. Uma verdadeira bomba!

- Daqueles que engordam só de olhar?

Wesley deu uma boa avaliada em Renato.

- Tá com medo de ficar gordinho, rapaz?

- Não me preocupo com isso.

- Nem deveria. Você está ótimo. Na verdade, está bem gostosinho...

Renato sentiu seu rosto queimar e teve medo de ficar com o rosto vermelho. Assim, procurou ficar o mais relaxado possível. Na verdade, ele não tinha mais nenhum motivo para ficar tímido na frente de Wesley. Sem contar que ele tinha adorado aquele elogio e não reclamaria se viessem outros.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora