Há dois dias que Renato não via Wesley pela fazenda. O rapaz tinha ido à cidade de Paraíso para efetivar sua matrícula no curso de Veterinária na Universidade Federal de Paraíso. A ausência do cowboy provocou um efeito curioso em Renato: ele passou os dias com um vazio gigantesco no peito, um buraco que doía, embora ele não soubesse onde; uma tristeza que não conseguia explicar ou definir. O poder que Wesley vinha exercendo em sua vida era maior do que o garoto podia imaginar.
Na impossibilidade de ver Wesley por perto, Renato praticamente se trancou no quarto e passou horas e horas mergulhado na leitura, ouvindo música, desenhando ou simplesmente olhando para a parede sem pensar em nada especificamente. Ele só deixou o estado de letargia que o dominara, quando a mãe o convidou para dar uma volta pela cidade de Rio das Pedras (era possível uma maluquice dessas?).
- O que eu vou fazer nessa cidade, pelo amor de Deus? – questionou Renato.
- Andar um pouco, ver gente diferente, sair de dentro deste quarto... sei lá. Se continuar assim, daqui a pouco você cria raízes neste cubículo.
- Minha vó não vai gostar de saber que você tá chamando um dos quartos da casa dela de cubículo.
Joana revirou os olhos.
- Deixa de gracinha, Renato. Anda logo, sai dessa cama e vamos dar uma volta.
- Mãe, eu não quero sair. Não quero dar volta. Nem desta cidade eu gosto, pra início de conversa. Caraca, será que nem ficar aqui em paz eu posso?
- Não, não pode. Não é normal alguém ficar trancado em um quarto por tanto tempo. Isso não é saudável. Você vai ficar doente se não pegar um pouco de sol. Sabia que todo mundo precisa de vitamina D?
- Eu não sou todo mundo.
- Realmente você não é todo mundo, mas até que me provem o contrário, você é humano e todo ser humano precisa de vitamina D.
- Quem garante que sou humano?
Joana bufou impaciente e sentou-se aos pés da cama do filho.
- Eu sei que você odeia sair comigo...
- Quem te disse isso? Eu não odeio sair com você – resmungou Renato, sem convencer nem a si mesmo.
- Você é adolescente, é natural que odeio sair em companhia da sua mãe. Mas, faça isso por mim. Só hoje. Prometo deixar você em paz o resto da semana.
Renato ficou olhando para a mãe e pensando na proposta. Seria chato dar uma volta pela cidade de Rio das Pedras com ela? Com certeza. No entanto, passar o resto da semana sem ter que agradá-la era uma boa ideia. Talvez fosse um ótimo negócio trocar alguns dias por poucas horas, afinal.
- Tudo bem, eu vou contigo.
- Ótimo – Joana levantou-se tão empolgada que deixou o filho desconfiado. – Espero você lá fora... não demora. – ela deixou o quarto cantarolando alguma coisa indefinida.
Assim que colocou a mão na maçaneta do Honda, Renato foi surpreendido pela chegada repentina de Suzy. Ela encostou-se na porta, forçando-a a se fechar novamente. Renato puxou a mão, dominado pelo susto repentino, como se quisesse evitar que ela ficasse presa.
- Tá doida, Suzy? Quase prendeu minha mão!
- Deixa de ser patético. Sua mão estava na maçaneta e não na porta. Olha só – ela endureceu o tom de voz –, seu tempo está esgotando, maninho – ela apontou para o relógio no próprio pulso.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...