Cap. 31 - Escrito nas estrelas

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Sentado no banco de trás da S10 de Vanda, com o vidro aberto, sentindo o vento batendo em seu rosto. Renato quase não ouvia o que a avó e Wesley conversavam na parte da frente da cabine da caminhonete. Sabia que eles estavam discutindo sobre rações, vacinas e outras coisas do gênero. Um assunto do qual ele não entendia bulhufas. Distraído, olhando a vista que passava pela janela, ele colocou os fones do celular no ouvido e tentou se concentrar na música. Ele amava Beatles, mas o som da banda inglesa só foi registrado pelo seu cérebro por uns três ou quatro minutos. Não demorou muito para que ele viajasse para bem longe dali.

No ano anterior, Renato tentara engatar um romance com um garoto do terceiro ano. Eles se conheceram em uma festinha na casa de um primo de um amigo de Elvis.

- Como assim amigo? – questionou Renato.

- Ué, um amigo... qual o problema? – protestou Elvis.

- Elvis, você não tem amigos. Eu sou seu único amigo.

- Quem disse?

- Ninguém precisou dizer. Eu sei. Eu te conheço.

Elvis deu de ombros.

- Pelo visto não conhece tão bem. É claro que eu tenho outros amigos – Elvis girou no calcanhar e ficou de frente para Renato. – Quer saber? Chega de papinho! O negócio é o seguinte: você quer, ou não, ir à festinha? – ele fez uma pausa dramática. – Vai ser um escândalo.

Renato bufou derrotado.

- Ok. Eu vou.

Pronto. Sem saber, Renato deu permissão para que um garoto do terceiro ano entrasse em sua vida. Eles saíram quatro vezes: um cineminha, um teatro, um sorvete domingo à tarde e uma visitinha ao quarto de Renato na segunda à noite, para ver um episódio de alguma série que ele não se lembrava qual era. O garoto era uma graça e Renato sentiu seu corpo manifestar o desejo natural de ir além, no entanto eles não passaram dos beijinhos. O fato de estar na casa dos pais, aliado à timidez exarada de Renato, impediu qualquer avanço naquele encontro. Decepcionado com a performance (ou falta dela) de Renato, o garoto se afastou e acabou se envolvendo com outro cara da escola.

Mas, hoje, analisando o caso, Renato concluiu que aquele casinho tinha valido a pena. Pelo menos tinha aprendido a beijar. Já era alguma coisa.

Com o olhar perdido, Renato percebeu uma enorme plantação de girassóis um pouco além de um trecho de plantação nativa. Desde quando essa fazenda de girassóis está aí?. Ele não se lembrava de ter visto aquelas flores. Na verdade, ele não se lembrava de ter reparado em muitas coisas em Rio das Pedras. Quantas coisas – como aquela plantação de girassóis – teriam passado despercebidas graças a sua má vontade com aquela cidadezinha? Quantas oportunidades perdidas? De repente, Renato percebeu que estava em Rio das Pedras há menos de um mês, mas a sensação era a de que havia passado meses... anos. Muita coisa tinha acontecido em tão pouco tempo. Coisas que lhe haviam transformado completamente.

Renato fechou os olhos, repousou a cabeça no encosto do banco da S10 e relaxou.

***

Wesley parou a caminhonete ao lado de uma loja de produtos agrícolas e os três desceram. Enquanto Wesley entrava na loja, Renato permaneceu parado ao lado da calçada, observando a fachada do estabelecimento. Vanda se aproximou do neto e colocou as mãos sobre seus ombros.

- Nós vamos comprar algumas coisas aqui, se você quiser, pode dar uma voltinha aí pela rua. Aproveita para ver se acha alguma coisa que te agrada.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora