Cap. 04 - Um mundo de segredos

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Alguma coisa estava acontecendo na casa daquela fazenda. Alguma coisa muito estranha. Renato percebeu que algo estava errado, quando ninguém falou uma palavra durante o almoço. O clima era de velório. O único som que se ouvia na enorme sala de jantar era  dos talheres batendo nos pratos. Como se não bastasse o silêncio sepulcral, Vanda e Joana evitavam se olhar, enquanto a médica não tirava os olhos do prato, a fazendeira olhava para um canto e outro da sala, onde a filha não estivesse. Definitivamente, algo não ia bem.

Desde que era muito novo, Renato se lembrava da avó como uma mulher ativa e falante. Vanda costumava aproveitar os momentos que tinha com os netos para contar histórias e mais histórias, era algo que fazia parte dela. Ela era assim. No entanto, naquela tarde, a avó estava estranhamente calada.

Joana parecia distraída, empurrava os pedaços de brócolis no prato de um lado para outro. E o tempo entre uma garfada e outra era cada vez maior. Suzy estava ouvindo música enquanto comia, alheia ao clima pesado. Suzy estava com o celular à mesa e a mãe não tinha falado nada! Realmente, a coisa era muito séria.

- Tá tudo bem, gente? – Renato começou.

- Oi? – perguntou a mãe distraída.

- O que é que está acontecendo aqui?

- Como assim?

- Isso é um almoço ou um velório?

- Tá tudo bem, não se preocupe – disse Joana, sem parecer muito convencida do que falava.

- Vó?

- Sim...

- O que foi que eu perdi?

Vanda olhou para Joana, que balançou a cabeça negativamente. Então, ela voltou-se para o neto e forçou um sorriso.

- Está tudo na mais perfeita paz.

- Não está, não.

- Renato, por favor, não começa – sugeriu a mãe.

- Não começa o quê? Vocês duas estão... sei lá... esquisitas...

- Esquisitas? Não sei do que você está falando – tentou disfarçar Joana.

- Ninguém fala nada, ninguém comenta nada. Vocês duas brigaram?

Joana riu sem graça.

- De onde você tirou uma maluquice dessas?

- Basta olhar para cara de vocês pra ver que tem algo estranho aí.

- Renato, - Joana respirou fundo. – Será que dá pra gente comer em paz, sem discutir? Olha esse almoço maravilhoso – ela apontou para a mesa – que tal a gente aproveitar um pouco?

- Eu já estou aproveitando, falta a senhora e a vovó aproveitarem também.

- Confesso que comi algumas besteiras na cozinha e fiquei um pouco sem fome, mas te garanto que estou aproveitando cada grãozinho, cada folhinha servida aqui nesta mesa.

- Tudo bem... não vou insistir.

- Melhor assim.

O almoço continuou no mesmo clima fúnebre. Joana forçou-se a comer um bife para dar ao filho a ideia de que estava tudo bem, Vanda terminou seu prato de salada e passou direto para duas doses de conhaque. Renato acabou perdendo o apetite depois daquela discussão sem futuro e não tocou no doce de mamão que haviam colocado ali para sobremesa. A única realmente feliz, talvez por não ter presenciado o debate à mesa, era Suzy, que se atracava com dois pedaços generosos de costelinha de porco assada com batatas e cobertos por molho madeira. Observando o apetite da irmã, Renato sacudiu a cabeça e pensou no quão bom era ignorar os problemas ao redor.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora