- Meu Deus, parece que estamos cercados de cobras! – disse Renato ao entrar no carro.
- Não vamos nos estressar agora. Não precisamos entrar em pânico, isso é bem típico do Juliano. Ele adora uma intriga. Ele está querendo nos desestruturar.
- E acho que tá conseguindo. – Renato apoiou a cabeça no encosto do banco. – Então ele e a Suzy agora são amiguinhos de Face, Whats e sabe lá Deus de mais o quê? Era só o que me faltava.
- Realmente, essa aí foi de lascar.
Renato meneou a cabeça indignado.
- Dois demônios juntos. Não sei por que isso ainda me surpreende. Eles são iguaizinhos, estava na cara que iam virar amigos. Fico até imaginando o que a duplinha anda tramando pelas minhas costas.
Wesley tomou o rosto de Renato entre as mãos, virou-o em sua direção e lhe deu um beijo na boca demorado e caloroso.
- Sem pânico – disse, soltando Renato, que levou alguns segundos para se recompor e abrir os olhos. – Calma. Não vamos sofrer antes da hora... se tivermos que enfrentar o Juliano, a sua irmã, sua mãe, seu pai, o Estado Islâmico... vamos fazer isso juntos. Ok?
- Droga!
- O que foi?
- E ainda tem esse lance do meu pai. – suspirou Renato. – A gente nem precisa se preocupar com o Estado Islâmico, temos uma pessoa pior perto da gente. – Renato riu e balançou a cabeça. – Acho que estou prestes a sair do armário...
- Como assim?
- A Suzy e o meu pai juntos debaixo do mesmo teto? Os dois de tititi com o Juliano pelas ruas de Rio das Pedras? É uma questão de segundos até que ele fique sabendo de cada detalhe sórdido sobre a minha vida secreta.
- Eu sinto muito – disse Wesley e sua voz estava carregada de sinceridade.
- Tudo bem. – Renato deu de ombros. – Isso ia acontecer uma hora ou outra mesmo, não é?
Wesley fez que sim com a cabeça. Embora dissesse que estava tudo bem, ele sabia que nada estava realmente bem. O Rosto de Renato denunciava o que seu coração sentia. Os olhos assustados, revelando que ele estava perdido e desesperado. Wesley só queria ter o poder de fazer tudo aquilo passar o mais rápido possível e com danos mínimos.
Wesley sabia, por experiência própria, que expor-se à família não era tarefa das mais fáceis. Por isso conseguia imaginar o conflito que Renato estava vivendo naquele momento. Considerando o fato de ter um pai complicado, os problemas de Renato poderiam ser ainda piores.
O cowboy sentia muito, de verdade, por tudo o que o namorado estava passando. Namorado?, espantou-se Wesley com seu próprio pensamento. Mas, afinal, qual era mesmo a natureza daquela relação? Eles eram namorados ou estavam apenas ficando? Ele observou Renato de soslaio e foi tomado por um sentimento profundo de proteção. Não tinha como negar o que sentia, estava gostando muito daquele rapazinho.
Wesley gostaria muito de dizer a Renato que tudo ficaria bem, que não havia com o que se preocupar, mas ele sabia que isso não era verdade. A família dele sabe que ele gay, pensou. A família sempre sabe. Os pais sempre sabem. Ok, isso podia ser verdade, mas outra verdade também é que existe uma diferença enorme entre saber (e não comentar) e ter certeza. E ninguém é capaz de prever o que se passa na cabeça de outra pessoa.
- Você quer ir para algum outro lugar? – perguntou Wesley, quebrando o silêncio incômodo que tomava conta da cabine da S10.
- Se a gente seguir reto aqui, em quanto tempo chegaremos em outro país?
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...