Cap. 17 - Uma confissão e um toque

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No meio da tarde, cansado de ficar enclausurado em seu quarto rabiscando uma HQ que ele vinha criando há bastante tempo, Renato decidiu sair da casa e ler ao ar livre – o que era estranho demais em se tratando dele. Mesmo contrariando todos os prognósticos a respeito do seu próprio comportamento, Renato pegou um livro na bolsa, vestiu um casaco, colocou o celular no bolso e deixou o quarto. O corredor estava misteriosamente calmo e silencioso. Ao passar pelo quarto da irmã, ele parou atrás da porta e encostou o ouvido nela. Não ouviu nenhum som vindo lá de dentro. Embora a chuva tivesse dado um tempo durante todo o dia, o tempo lá fora continuava frio. Renato imaginou que Suzy tivesse aproveitado o clima gelado para dormir à tarde e ficou feliz com essa possibilidade. A última coisa que queria, naquele momento, era encontrar a irmã. Melhor ela continuar bem longe dele.

Assim que desceu as escadas, ele encontrou Vanda ajeitando algumas rosas em um vaso de flores que estava sobre o aparador grudado à parede. Renato franziu a testa estranhando a atividade da avó. Desde que chegara à fazenda, nunca vira plantas pela casa, apenas aqueles móveis antigos, escuros e antiquados. Toda a sede da fazenda de Vanda parecia uma grande loja de antiguidades. Mesas, cadeiras, sofás, cristaleiras, tudo feito de madeira rústica e as porcelanas pareciam vindas nas caravelas junto com Cabral.

- Oi, vó.

Vanda virou-se para ver o neto, que já havia vencido metade da escada, e sorriu.

- Oi, meu amor. Tudo bem?

- De boa... Escuta: a senhora viu a minha mãe por aí?

- Subiu para tirar uma soneca. Disse que este climinho frio estava perfeito para ficar debaixo dos cobertores.

- E a Suzy? Onde se enfiou?

- Seguiu o exemplo da sua mãe. Uma hora dessas, deve estar sonhando com os anjos.

Ou com o próprio diabo, pensou Renato.

– Por que você quer saber? Está precisando de alguma coisa?

- Não, não estou precisando de nada. Só curiosidade mesmo. A casa tá tão silenciosa.

Vanda voltou a se concentrar em seu arranjo, permanecendo de lado, sem dar as costas ao neto.

- É verdade. Até parece que não tem ninguém aqui – ela riu novamente. – Mas eu não estranho mais, já estou acostumada. Está casa já está silenciosa há muito tempo, e a há muito tempo também, está precisando de alguma vida – ela deu uma mexida nas flores, como se quisesse ter certeza de que estavam bem organizadas; em seguida, deu um passo para trás, apreciando o próprio trabalho. – O que você achou?

Renato observou com mais atenção o arranjo de rosas. Eram rosas bonitas e enormes. Um misto de rosas brancas e vermelhas bem harmônicas.

- Ficou massa.

- Não é? Eu adoro trabalhar com plantas, mas nunca gostei muito de trazê-las para dentro de casa, prefiro que elas fiquem no jardim... no entanto, como eu disse: esta casa está precisando de um pouco de vida.

A última frase saiu quase como uma confissão. Com um leve tom de tristeza e Renato lembrou-se do dia em que a avó e sua mãe pareciam estar chateadas uma com a outra. Naquele dia, elas se recusaram a falar o porquê daquele clima tenso e ele não insistiu no assunto quando viu que ninguém queria falar sobre o tema. Hoje, ali diante da avó, que exibia aquele tom melancólico na voz, Renato chegou à conclusão de que as coisas ainda não iam muito bem.

Por um breve segundo, ele quis perguntar a Vanda se havia algum problema que ele devesse ficar sabendo, mas achou que era melhor ficar quieto. Ele sabia que a relação de Joana e Vanda, durante um bom tempo, fora bem conflituosa e ambas vinham, nos últimos meses, tentando aparar as arestas. Melhor era ficar caladinho e deixar o barco seguir seu curso.

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora