Vanda entregou o dinheiro para o rapaz do carrinho de lanches, pediu que ele ficasse com o troco e voltou para dentro do hospital. Passou sorridente pelo segurança na entrada, acenou para as moças no balcão e seguiu pelo corredor. Virou à direita em outro corredor quase interminável e encontrou Joana sentada em um dos bancos de espera. Ela era a única pessoa ali, dando ao lugar um aura de tristeza e abandono.
Vanda sentou-se perto da filha com uma latinha de Coca-Cola na mão. A médica moveu os ombros, tentando relaxar os músculos e jogou o copo vazio de cappuccino na lixeira ao lado. Voltando-se para mãe, sentiu um cheiro que não combinava com aquele refrigerante.
- Mãe, a senhora está bebendo cerveja? - sussurrou.
Vanda deu de ombros.
- Meu neto acordou. Eu precisava comemorar de alguma forma.
- Nós estamos em um hospital, dona Vanda!
- Eu sei. Por isso eu coloquei a cerveja nessa latinha – ela exibiu radiante a falsa Coca-Cola. – E também eu não queria criar atrito com o segurança, sabe? – confidenciou.
- Meu Deus, a senhora não tem jeito mesmo.
- Eu acho um absurdo a gente ter que contrabandear uma cervejinha aqui para dentro. Somos adultos, afinal.
Joana balançou a cabeça em tom negativo. A alguns metros, um rapaz apareceu no corredor, limpando o chão absurdamente branco, enquanto ouvia música em um fone de ouvido. Parecia fora da realidade. Em uma dimensão paralela. O pensamento de Joana voou para longe também.
- O que foi? – Vanda trouxe a filha de volta à realidade.
- O quê?
- Por que você está aí com essa cara de derrotada? O Renato acordou. Ele está bem. Temos que sorrir e não ficar com essa cara morta.
- Eu sei, mãe, eu estou muito feliz pelo Renato... mas...
- Mas o quê? – Vanda a interrompeu. – Ah, já sei... mas a Suzy não está aqui para comemorar.
Joana não disse nada, apenas encarou a mãe. Ela, no fundo, não sabia como defender a filha.
- Joana, você sabe que se a Suzy estivesse aqui, ela não estaria comemorando a recuperação do Renato. Ela estaria com raiva, isso sim.
- Para, mãe. A senhora não tem como saber disso.
O rapaz que limpava o chão parou e mexeu no celular, trocando a música. Vanda bufou impaciente com a filha.
- Eu conheço aquela garota melhor do que você possa imaginar. – Ela fez uma pausa. – Ok. Eu sei que é difícil para você aceitar as coisas do jeito que elas são. Afinal, a Suzy é sua filha. Eu te entendo. Você teve notícias dela? Conseguiu falar com ela, pelo menos?
- Tentei, mas ela continua irredutível. Não quer falar comigo. Ela me culpa por tudo que está acontecendo com o pai dela... sabe como é... essa possibilidade de ele perder o emprego e tudo o mais.
Vanda assentiu.
- Um dia, ela vai cair na real. Dê tempo ao tempo.
- Deus te ouça – disse Joana. – Sabia que ela vai estudar fora?
- Como assim?
- O Manuel conseguiu uma vaga para ela em uma dessas escolas bem exclusivas.
Vanda fez uma careta incrédula.
- Nossa. Como ele conseguiu isso? Tá com dinheiro sobrando, pelo visto.
- É uma escola que pertence a uma entidade religiosa. Você sabe que ele é metido nessas coisas de igreja.
Vanda fez uma careta.
- Pior que sei mesmo. E a Suzy topou?
Joana franziu a testa.
- Segundo o Manuel, ela disse que aceitava qualquer coisa que me mantivesse longe dela. Que ela não quer me ver nunca mais... mas essas são palavras dele, entende?
- Sei como é.
- Eu não sei até onde isso é verdade. Ou o quanto dessa história é uma forma que o Manuel achou de me torturar.
- Não sofra com isso, meu bem. Não perca sua paz interior. Não vale a pena. As coisas sempre se ajeitam.
- Minha filha me odeia, mãe.
Vanda colocou suas mãos sobre as da filha.
- Não odeia não. Como eu já te disse: dê tempo ao tempo.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...