Cap. 52 - CONVIDADOS ESPECIAIS

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- Acho que já deu por hoje, né? – perguntou Renato, abanando-se exageradamente e de forma dramática com o Kindle. Tinha a esperança de que Elvis se compadecesse dele e decidisse voltar para casa imediatamente.

Lenta e preguiçosamente, Elvis, que estava deitado de bruços sobre a toalha, começou a dar sinais de vida, pegou o celular na sacola, conferiu as horas e fez uma careta, desanimado.

- Ainda tá cedo, bicha...

- São 15h30, Elvis. Nós já estamos torrando aqui neste sol há, tipo, um ano!

Elvis puxou os óculos escuros para a ponta do nariz e olhou por cima das lentes, a fim de ver o amigo.

- Quem tá torrando, gata? Você que não é. Sua majestade real nem saiu de debaixo desse guarda-sol, Bella Cullen! Um rio incrível desse a princesa vampira aí nem foi lá botar os pezinhos na água. Affff....

- Gosto de água no chuveiro.

- Credo! A senhora é realmente muito chata, nem consegue se divertir. Aproveita o tempo para dar uma olhadinha nos boys, fofa – Elvis olha ao redor. – Tem uns caras bem gostosos aqui.

Renato fechou os olhos e suspirou alto.

- Mas então? Vamos embora ou não?

Com nítida má vontade, Elvis começou a recolher suas coisas e foi se levantando.

- Já ouviu falar em vitamina D, bicha?

Renato fez uma careta de desdém para o amigo.

- Qualquer dia – continuou Elvis –, a senhora vai ficar coberta de mofo. Anota o que eu estou dizendo...

Os dois deixaram a praia embaixo de uma chuva de protestos de Elvis. Renato decidiu responder às provocações do amigo apenas com caras e bocas. Ele sabia que, quando Elvis estava atacado, não havia argumento que pudesse convencer o rapaz de que ele estivesse errado. E depois, ele estava cansado demais para entrar em um debate com o amigo.

Depois de comprarem sorvete de um ambulante, Elvis decidiu por não subir, preferiu ir direto para casa (ia aproveitar o resto do dia para colocar seus trabalhos escolares em dia), então os dois ficaram ali em frente à portaria do prédio de Renato falando bobagens, enquanto esperavam o Uber. Um Renegade laranja, que certamente não era o carro indicado pelo aplicativo, entrou na área de recuo em frente ao prédio e parou ao lado dos dois amigos. O vidro do passageiro abriu e eles puderam ver um Juliano sorridente ao volante.

- Oi, meninas! Tudo bem com vocês?

Elvis e Renato se olharam sem entender o que estava acontecendo. De cara, Renato sentiu vontade de soltar alguns palavrões e mandar Juliano ir procurar sua turma. Quem era ele para chegar assim, na intimidade, usando inclusive expressões femininas para se dirigir aos dois? Eles não eram amigos e ele não tinha dado essa intimidade ao rapaz.

- Estamos ótimos, Juliano – disse Renato, seco e direto. – Obrigado por se preocupar. – Concluiu com um tom de ironia na voz.

- Ai, que bom. Eu fico feliz quando meus amigos também estão felizes...

"Amigo é o caralho!", pensou Renato.

- O que você tá fazendo perdido por aqui, mona? – Elvis entrou na conversa, deixando claro seu ar de debocho ao pronunciar cada palavra da frase. – Você não mora do outro lado do rio? Veio aproveitar a praia de Paraíso, já que em Ressurreição só tem barranco e pedras?

Juliano sorriu.

- Eu vim procurar vocês!

- Procurar a gente? Pra quê? – quis saber Renato, num misto de espanto e curiosidade.

Ainda sorridente, Juliano abriu o porta-luvas do carro e retirou de lá de dentro dois envelopes pretos.

- É o seguinte, gatas. Vou dar uma festa este final de semana, sabe como é, preciso avisar às bichas locais que eu estou na área – ele ri mais ainda. – Eu preciso marcar território!

- Vai mijar na cidade inteira? – perguntou Elvis.

Renato não segurou a gargalhada, Juliano apenas exibiu um sorriso amarelo para Elvis e uma cara de quem não havia achado nada engraçado naquele comentário.

- Na verdade – continuou Juliano, tentando parecer normal –, só vou dar a maior festa LGBT particular que Paraíso e Ressurreição já viram. E adoraria que vocês dois estivessem presentes, mesmo porque vocês foram as pessoas que acolheram por estas bandas. – Ele finalmente passou os envelopes para os dois.

- Nós somos uns amores – ironizou Elvis.

Quase em sincronia, Elvis e Renato pegaram os envelopes e começaram a analisá-los. O papel era de ótima qualidade e seus nomes estavam gravados em letras douradas do lado de fora. Dentro, um pequeno convite individual também em preto e dourado.

- E então? Posso contar com vocês?

- Nós vamos pensar, Juliano, talvez a gente vá – disse Renato, tendo a certeza de que não pretendia passar nem na porta do evento.

- O seu ex-namorado vai estar lá...

- Como é que é? – quis saber Renato.

- Acabei de entregar o convite do Wesley. Ele me garantiu que vai.

- E desde quando o Wesley e o Renato são ex-namorados? A senhora tá drogada, bicha? – questionou Elvis.

Juliano fez cara de surpresa.

- Ai, desculpa, acho que me informaram errado então. É que a Suzy me disse que vocês haviam terminado, ela deve ter se confundido... mas se vocês estão bem, que bom. Fico feliz. Vão poder namorar a noite toda na festa. – Juliano exibe os dentes num sorriso forçado.

- Com certeza! Afina, o Wesley e eu estamos ótimos! – garantiu Renato, embora sem muita convicção.

- Muito bem... então, espero vocês sábado lá em casa. Vai ser ótimo! Festa à fantasia, ok?

- Nós estaremos lá, gata. Lindas e maravilhosas! – disse Elvis.

- Tenho certeza de que estarão – falou Juliano, engatando a primeira marcha e colocando o carro em movimento. Logo ele se misturou ao trânsito e desapareceu na avenida Beira Rio, enquanto Renato e Elvis o encaravam desaparecendo no trânsito.

- Não vou nessa festa nem fudendo! – disse Renato.

- Ah, mas vai sim! A senhora vai nessa festa e vai chegar arrasando!

- Tá louco, Elvis? O que eu vou fazer lá?

- Pra início de conversa, vai ser uma ótima oportunidade pra você e pro Wesley se reencontrarem longe dos olhares do louco do seu pai; depois: você vai esfregar seu romance e toda a sua felicidade na cara dessa bicha nojenta.

Renato franziu a testa.

- Não sei não... será que vale a pena?

- Renato, nós não vamos deitar pra essa bicha Juliano! Não vamos deixar essa viada Chernobyl sair por cima!

Renato olhou na direção que Juliano tinha tomado. Sim, ele iria à festa. 

Entre Meninos (Romance gay) - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora