- Acho que já deu por hoje, né? – perguntou Renato, abanando-se exageradamente e de forma dramática com o Kindle. Tinha a esperança de que Elvis se compadecesse dele e decidisse voltar para casa imediatamente.
Lenta e preguiçosamente, Elvis, que estava deitado de bruços sobre a toalha, começou a dar sinais de vida, pegou o celular na sacola, conferiu as horas e fez uma careta, desanimado.
- Ainda tá cedo, bicha...
- São 15h30, Elvis. Nós já estamos torrando aqui neste sol há, tipo, um ano!
Elvis puxou os óculos escuros para a ponta do nariz e olhou por cima das lentes, a fim de ver o amigo.
- Quem tá torrando, gata? Você que não é. Sua majestade real nem saiu de debaixo desse guarda-sol, Bella Cullen! Um rio incrível desse a princesa vampira aí nem foi lá botar os pezinhos na água. Affff....
- Gosto de água no chuveiro.
- Credo! A senhora é realmente muito chata, nem consegue se divertir. Aproveita o tempo para dar uma olhadinha nos boys, fofa – Elvis olha ao redor. – Tem uns caras bem gostosos aqui.
Renato fechou os olhos e suspirou alto.
- Mas então? Vamos embora ou não?
Com nítida má vontade, Elvis começou a recolher suas coisas e foi se levantando.
- Já ouviu falar em vitamina D, bicha?
Renato fez uma careta de desdém para o amigo.
- Qualquer dia – continuou Elvis –, a senhora vai ficar coberta de mofo. Anota o que eu estou dizendo...
Os dois deixaram a praia embaixo de uma chuva de protestos de Elvis. Renato decidiu responder às provocações do amigo apenas com caras e bocas. Ele sabia que, quando Elvis estava atacado, não havia argumento que pudesse convencer o rapaz de que ele estivesse errado. E depois, ele estava cansado demais para entrar em um debate com o amigo.
Depois de comprarem sorvete de um ambulante, Elvis decidiu por não subir, preferiu ir direto para casa (ia aproveitar o resto do dia para colocar seus trabalhos escolares em dia), então os dois ficaram ali em frente à portaria do prédio de Renato falando bobagens, enquanto esperavam o Uber. Um Renegade laranja, que certamente não era o carro indicado pelo aplicativo, entrou na área de recuo em frente ao prédio e parou ao lado dos dois amigos. O vidro do passageiro abriu e eles puderam ver um Juliano sorridente ao volante.
- Oi, meninas! Tudo bem com vocês?
Elvis e Renato se olharam sem entender o que estava acontecendo. De cara, Renato sentiu vontade de soltar alguns palavrões e mandar Juliano ir procurar sua turma. Quem era ele para chegar assim, na intimidade, usando inclusive expressões femininas para se dirigir aos dois? Eles não eram amigos e ele não tinha dado essa intimidade ao rapaz.
- Estamos ótimos, Juliano – disse Renato, seco e direto. – Obrigado por se preocupar. – Concluiu com um tom de ironia na voz.
- Ai, que bom. Eu fico feliz quando meus amigos também estão felizes...
"Amigo é o caralho!", pensou Renato.
- O que você tá fazendo perdido por aqui, mona? – Elvis entrou na conversa, deixando claro seu ar de debocho ao pronunciar cada palavra da frase. – Você não mora do outro lado do rio? Veio aproveitar a praia de Paraíso, já que em Ressurreição só tem barranco e pedras?
Juliano sorriu.
- Eu vim procurar vocês!
- Procurar a gente? Pra quê? – quis saber Renato, num misto de espanto e curiosidade.
Ainda sorridente, Juliano abriu o porta-luvas do carro e retirou de lá de dentro dois envelopes pretos.
- É o seguinte, gatas. Vou dar uma festa este final de semana, sabe como é, preciso avisar às bichas locais que eu estou na área – ele ri mais ainda. – Eu preciso marcar território!
- Vai mijar na cidade inteira? – perguntou Elvis.
Renato não segurou a gargalhada, Juliano apenas exibiu um sorriso amarelo para Elvis e uma cara de quem não havia achado nada engraçado naquele comentário.
- Na verdade – continuou Juliano, tentando parecer normal –, só vou dar a maior festa LGBT particular que Paraíso e Ressurreição já viram. E adoraria que vocês dois estivessem presentes, mesmo porque vocês foram as pessoas que acolheram por estas bandas. – Ele finalmente passou os envelopes para os dois.
- Nós somos uns amores – ironizou Elvis.
Quase em sincronia, Elvis e Renato pegaram os envelopes e começaram a analisá-los. O papel era de ótima qualidade e seus nomes estavam gravados em letras douradas do lado de fora. Dentro, um pequeno convite individual também em preto e dourado.
- E então? Posso contar com vocês?
- Nós vamos pensar, Juliano, talvez a gente vá – disse Renato, tendo a certeza de que não pretendia passar nem na porta do evento.
- O seu ex-namorado vai estar lá...
- Como é que é? – quis saber Renato.
- Acabei de entregar o convite do Wesley. Ele me garantiu que vai.
- E desde quando o Wesley e o Renato são ex-namorados? A senhora tá drogada, bicha? – questionou Elvis.
Juliano fez cara de surpresa.
- Ai, desculpa, acho que me informaram errado então. É que a Suzy me disse que vocês haviam terminado, ela deve ter se confundido... mas se vocês estão bem, que bom. Fico feliz. Vão poder namorar a noite toda na festa. – Juliano exibe os dentes num sorriso forçado.
- Com certeza! Afina, o Wesley e eu estamos ótimos! – garantiu Renato, embora sem muita convicção.
- Muito bem... então, espero vocês sábado lá em casa. Vai ser ótimo! Festa à fantasia, ok?
- Nós estaremos lá, gata. Lindas e maravilhosas! – disse Elvis.
- Tenho certeza de que estarão – falou Juliano, engatando a primeira marcha e colocando o carro em movimento. Logo ele se misturou ao trânsito e desapareceu na avenida Beira Rio, enquanto Renato e Elvis o encaravam desaparecendo no trânsito.
- Não vou nessa festa nem fudendo! – disse Renato.
- Ah, mas vai sim! A senhora vai nessa festa e vai chegar arrasando!
- Tá louco, Elvis? O que eu vou fazer lá?
- Pra início de conversa, vai ser uma ótima oportunidade pra você e pro Wesley se reencontrarem longe dos olhares do louco do seu pai; depois: você vai esfregar seu romance e toda a sua felicidade na cara dessa bicha nojenta.
Renato franziu a testa.
- Não sei não... será que vale a pena?
- Renato, nós não vamos deitar pra essa bicha Juliano! Não vamos deixar essa viada Chernobyl sair por cima!
Renato olhou na direção que Juliano tinha tomado. Sim, ele iria à festa.
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Entre Meninos (Romance gay) - Concluído
Teen FictionQuando a mãe de Renato o avisa de que eles passarão o mês de férias na fazenda da avó, o rapaz fica indignado. Amante de roque, cinema, séries e literatura; Renato é um típico menino da cidade. Passar um período entre vacas e cavalos, no meio do mat...