21. JACOB

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   Uma das coisas mais egoístas que podemos fazer na vida é prender alguém quando não temos a intenção de ficar com ela

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Uma das coisas mais egoístas que podemos fazer na vida é prender alguém quando não temos a intenção de ficar com ela. Todos tem o direito de se sentir plenamente amados. De se sentirem suficientes. Mas o ser humano tem essa mania egoísta de querer tudo para si. De não saber abrir mãos das coisas, mesmo que às vezes elas nos façam mais mal do que bem.

   Eu sei definir o momento exato em que meu casamento com Chloe se tornou essa coisa.

   É desnecessário dizer que tudo mudou naquela noite. Quando encontramos Jason na boate. Quando os segredos que nos esforçávamos tanto para guardar a sete chaves durante anos vieram à tona. Tudo por conta de um simples olhar.

   Sei que foi esse acontecimento o ponto de virada em meu relacionamento com Chloe, mesmo que tenha sido apenas uma consequência da falta de diálogo e transparência entre nós desde o princípio. Foi uma consequência dos sentimentos que não admitíamos ter por outras pessoas, por nós mesmos.

   Os primeiros dias daquela discussão foram marcados pela raiva. Nós não nos olhávamos na cara, falando o mínimo possível um com outro. Só tínhamos contato quando era algo que se tratava de Lucy. Nada além. Eu passei a dormir no sofá da sala, deixando nosso quarto para Chloe. Não foi preciso dizer nada. Simplesmente peguei meu travesseiro e um cobertor e migrei para o outro cômodo.

    Nossa filha estranhou no início. Franzia as sobrancelhas loiras cada vez que me via aconchegando as almofadas do sofá e constantemente nos perguntava o porquê. Dizíamos a mesma coisa que toda pessoa mais velha diz quando não sabe como explicar algo para uma criança: "Isso é coisa de adulto, querida. Um dia você vai entender".

   E apesar de curiosa, Lucy não nos questionava sobre. Era quase como se sentisse que ao insistir, provocaria mais dor para nós.

   Algumas semanas depois, veio a tentativa de reconciliação. Voltamos a trocar cordialidades. Chloe se sentava ao meu lado as vezes, para assistir um filme. Levávamos nossa filha para os parques e até chegamos a dar as mãos numa tarde.

    Mas tudo parecia... forçado. Como aquela sensação que temos em vestir uma calça da nossa adolescência e perceber que não nos cabe mais. Não entra, não encaixa.

    Deixou de ser natural. Os toques e carícias pareciam frias, por obrigação. O que de fato era, de alguma forma. Nós dois sabíamos que Lucy sempre viria em primeiro lugar. E não importava o quão distante estivéssemos um do outro, eu e Chloe nos conhecíamos como ninguém mais. Eu vi durante todo esse tempo a angústia por trás de suas íris cor de mel. A vontade de mudar de vida sem querer afetar a vida da filha.

   Vi isso em seus olhos e sabia que o mesmo sentimento refletia nos meus.

   Nosso relacionamento mecânico perdura até hoje. Mais de um ano se passou desde aquela noite. Às vezes, no silencio da noite, penso comigo mesmo: e se fosse o contrário? E se eu tivesse esbarrado com Megan numa festa qualquer? Eu a olharia da mesma maneira que Chloe olhou para Jason, depois de tanto tempo?

Todos os dias deixados para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora