A noite chegou rápido e hoje eu estava ainda menos cansada do que ontem, mas pretendia ficar deitada até pegar no sono. Kim havia deixado a porta do quarto entreaberta, por que ela fazia um barulhão quando era aberta e isso podia acordar alguma de nós caso a outra decidisse sair do quarto. Pela abertura da porta vi uma silhueta passar pelo corredor e ouvi passos leves descendo as escadas, imaginei que poderia ser Rosa que desceu mais uma vez para tomar água, mas esperei a pessoa voltar e não voltou.
Levantei da cama devagar e desci as escadas até a sala, vi a porta da frente aberta e uma silhueta sentada na escada um pouco mais a frente. Era Nathaniel, ele parecia absorto em pensamentos e não notou minha presença até que eu me sentasse ao seu lado.
- Eu acho que sim. - Ele acariciou meu pescoço e sorriu ao ver as marcas que deixou. - Eu não tinha visto essas de manhã.
- Estavam cobertas por maquiagem. - Esbocei um sorrisinho.
- Hum. - Estranhei a resposta.
- O que aconteceu? - Levantei minha cabeça.
- Não, nada. - Ele balançou a cabeça como se quisesse afastar alguma ideia.
- Eu te conheço Nathaniel, pode falar. - Ele suspirou.
- Bem, é que, eu não quero parecer chato, ou possessivo. - Ele coçou a nuca.
- Fala.
- É que eu te vi beijando o Castiel na faculdade. E eu sei que você não me deve absolutamente nada, principalmente depois da minha provocação. - Ele respirou fundo.
- Sim, e? - O olhei como se não fosse nada.
- É que, eu te vejo tão próxima dele, não que não fossem antes, mas agora estão muito mais. Parece algo..
- Eu e Castiel não temos nada além de nossa amizade. - Cortei a frase dele.
- Nada? - Seus olhos pareciam culpados.
- Nada.
- Tudo bem. - Ele pareceu aliviado. - Me desculpa Ária, eu sei que não tenho nenhum direito em te cobrar nada, eu só fiquei inseguro. E sei que não tenho direito a isso também. - Ele passou as mãos no cabelo.
- Tá tudo bem. - Acariciei suas costas. - Existem muitas coisas que temos que acertar.
- Sim. - Ele segurou minha mão. - Mas tudo fica mais fácil quando tenho você.
- É muito bom ouvir isso. - Sorri feliz.
- É bom finalmente abrir as barreiras pra você. - Ele disse isso, mas ainda percebi um tom temeroso em sua voz.
- É, levei muita pancada pra chegar aqui. - Ele deu uma risada. - Mas valeu a pena.
- Como tem tanta certeza?
- Eu não tenho. - Acariciei seu rosto. - Mas estou feliz por estar nesse momento com você, por termos acertado algumas coisas.
- Eu estava com saudade de você, mais do que imagina. - Ele pegou minha mão e me puxou para mais pertinho dele.
- Eu também. - Me aconcheguei perto dele e encostei minha cabeça em seu ombro.
Ficamos em silêncio por muito tempo, apenas apreciando a presença um do outro e observando o céu e o mar. A lua estava linda, tão linda, iluminava tudo, a areia parecia cintilante. Eu não sei bem o que aconteceria entre Nathaniel e eu, mas eu estava feliz com os pequenos passos que estávamos dando. Eu ainda o sentia com medo de se aproximar, sabia que ele não estava totalmente confiante comigo e isso é extremamente compreensível, com o tempo eu o traria de volta pra mim. Esse homem ainda me ama e precisa saber que eu o amo mais do que tudo.
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Os dias passaram rápido, quando me dei conta já estava pondo a bagagem na mala do carro do Castiel para voltarmos para West City. Suspirei ao precisar me despedir daquele lugar, eu definitivamente gostaria de morar na praia.
- Nos vemos em casa. - Nathaniel me deu um selinho e entrou no carro da Kim.
- NoS vEMos eM caSA. - Castiel debochou.
- Não seja tão maldoso.
- Você fica insuportável quando ta apaixonada. - Ele revirou os olhos.
- Eu estou feliz. - Sorri que nem uma idiota.
- Nesse caso eu também estou. - Ele me olhou e não pôde conter o sorriso.
- Espero que agora fique tudo bem, que a gente consiga se acertar de vez.
- Vai dar certo sim. Dessa vez vai.
- Obrigada. - Segurei seu braço. - Agora vamos pra casa.
A volta para casa foi tranquila, Castiel parou em um posto de gasolina para comprarmos algo para comer e depois seguimos direto para minha casa. Chegamos ao anoitecer, Castiel me deixou no meu apartamento e seguiu para o dele. Por impulso peguei meu celular para enviar uma mensagem ao Nathaniel, mas esqueci que não tenho o telefone dele desde que nos separamos. Pensei em pedir para Rosalya, mas todos nós acabamos de chegar de viagem, estamos cansados e eu não posso ser a garota grudenta, nós acabamos de nos entender.
Decidi desfazer logo as malas e me deitar cedo, eu estou de férias da faculdade, mas não do trabalho. Amanhã começariamos de volta na academia, por que a Kim é que nem rapadura, é doce, mas não é mole. As coisas agora ficariam menos estranhas no trabalho, agora que estou bem com Nathaniel, não vou precisar evita-lo.
A verdade é que todo o discurso de que eu já havia superado e fui obrigada a voltar era balela. O tempo todo que morei fora tive medo de um dia precisar voltar, mas quando a situação com Rayan ficou insustentável, ou eu ia embora ou ele perdia o emprego. Eu podia encontrar outra faculdade para terminar minha graduação, mas ele não conseguiria outro emprego tão bom, por que a fama o seguiria. Então eu voltei e voltei com muito medo, demais para assumir até para mim mesma. Ainda me sentia como a adolescente perdida que pisou na Sweet Amoris a procura do representante de turma, e quando o encontrei tive a mesma reação daquele dia, ele estava tão lindo, tão novo pra mim. Deitei na minha cama e sorri ao lembrar dos momentos que vivi com Nathaniel durante a viagem, não podia negar que estava criando expectativas e embora ele tivesse mais motivos para ter medo de se envolver comigo novamente, eu ainda sentia um frio na barriga ao imaginar que ele poderia simplesmente perceber que não me quer mais.
