XLVIII

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A nevasca parecia ter aumentado quando saímos do restaurante do hotel, o vento soprava forte e flocos de neve acertavam nossos rostos, meu nariz estava gelado e vermelho por conta do frio. Nathaniel me abraçava forte e andava rápido, tentando, em vão, fugir da neve.

- Minha nossa, esse frio ta de gelar a medula. - Nathaniel reclamou quando finalmente conseguimos entrar no chalé.

- Eu não conseguia nem abrir a boca. - Me abaixei para acender a lareira. - Acho que meu maxilar tinha congelado.

- Eu não sabia que estaria tão frio. - Ele se sentou ao meu lado e começou a tirar as botas.

- Bem, você ganhou uma viagem pra esquiar. - Me sentei e tirei minhas botas também.

- É verdade. - Ele sorriu pra mim e depois ficou me encarando.

- O que foi?

- Ainda não acredito que estamos juntos, que aceitou voltar a namorar comigo.

- Espero não me arrepender. - Dei um sorrisinho.

- Eu não posso te dar 100% de garantia sobre isso, mas posso dar de que dedicarei todas as minhas horas em te fazer feliz, do jeito que você merece.

- Isso basta, por enquanto. - Prendi meu cabelo para poder tirar o casaco.

- Quer ajuda?

- Seria bom. - Me virei de costas pra ele. 

Nathaniel tirou meu casaco, mas não permitiu que eu me virasse de volta, seus lábios começaram a beijar minha nuca suavemente, lentamente suas mãos começaram a desabotoar minha blusa, o toque de seus dedos gelados em minha pele recém descoberta me causava arrepios.

- Nathaniel, acho que isso pode esperar mais um pouco. - Segurei suas mãos.

- Hum. - Ele se afastou um pouco. - Você tem razão, precisamos recomeçar do jeito certo.

- Sim. - Suspirei. Embora eu também quisesse muito, algo ainda me impedia.

- Estou muito feliz desse jeito. - Ele me puxou para si e me abraçou por trás. - É tudo que eu preciso.

Ficamos um bom tempo abraçados desse jeito, conversando sobre a vida e fazendo planos, quando nos demos conta de que era madrugada, fomos para o quarto. Amanhã iríamos voltar para casa, embora eu estivesse muito feliz por estar lá, nada é melhor do que o nosso lar.

Na manhã seguinte acordamos bem cedo e saímos logo, acho que nós dois estávamos ansiosos para voltar, tudo foi muito bom, mas o lugar era frio demais e não era bem nosso passeio preferido. A experiência de esquiar foi legal, mas eu não recomendo. O caminho inteiro eu senti aquela sensação de que pela primeira vez, em muito tempo, tudo estava em seu devido lugar, meu estômago estava estranhamente calmo e essa sensação sempre me dava um pouco de medo, sabe, de algo ruim acontecer logo em seguida. Como a calmaria antes da tempestade.

- Acha que nossos amigos já imaginam que estamos juntos? - Nathaniel desviou a atenção para mim.

- Rosa deve imaginar, ela me mandou muitas mensagens e eu não respondi.

- Tem várias ligações da Kim no meu celular. - Ele riu.

- Bom, eles precisam superar a curiosidade. - Apoiei minha cabeça no banco e senti a brisa.

- É. - Ele riu. - Aí, quer parar pra ver o pôr do sol?

- Claro.

Nathaniel fez uma curva e logo nos encontramos na orla, agora sim estávamos em um lugar que gostávamos de verdade. O céu já estava assumindo seu tom dourado quando nos sentamos na areia, as ondas acariciavam nossos pés e as gaivotas já se recolhiam. O vento que soprava do mar era mais quente e convidativo, quase um abraço de boas vindas. Ficamos sentados olhando para o horizonte até que as estrelas tomassem o lugar do sol, é incrível como tudo na praia é lindo, tudo nos acalma. 

- Quer uma água de Coco? - Nathaniel levantou.

- Eu quero sim. - Me levantei e caminhei com ele até um quiosque.

Pegamos nossos cocos e saímos caminhando sem rumo pela faixa de areia, pouco tempo depois estávamos segurando nossos sapatos e caminhando de mãos dadas, o vento estava enchendo o meu cabelo de nós, mas isso não me importava nem um pouco, estava tão feliz e tão completa. Perdemos a noção do tempo na nossa caminhada, só notamos que estava um pouco tarde quando passamos em frente à um restaurante beira mar e o cheiro de lagostas na manteiga fez nossos estômagos roncarem.

- Vamos jantar. - Nathaniel saiu andando e segurando minha mão.

- O quê? - Tentei parar. - Nath, nós estamos descalços, eu estou descabelada e com os pés cheios de areia.

- É um restaurante a beira mar, amor, todo mundo tem areia em algum lugar.

Achei que ficaria morrendo de vergonha, mas o restaurante era bem rústico por dentro, bem praiano mesmo, as pessoas ainda estava com suas roupas de banho e as crianças com o cabelo duro de tanta areia, então nós estávamos no nível local. Fomos muito bem recebidos e o cheiro de frutos do mar imediatamente invadiu nossas narinas quando nos sentamos, um dos melhores cheiros do mundo.

- Esse cheiro tá tão bom. - Nathaniel inspirou.

- Está mesmo, to salivando. - Mordi um pedacinho do pão que estava sobre a mesa.

- Vamos pedir logo. - Nath chamou o garçom.

- Boa noite, como posso ajudá-los? - Um garçom bem simpático veio até nós.

- Você pode nos recomendar algo? - Sorri de volta. 

- Bem, nós temos porções de caldeirada como entrada, nossa lagosta na manteiga com camarão a anéis de Lula e, como sobremesa, temos uma cocada mole de maracujá.

- Tudo isso parece uma delícia. - Nathaniel sorriu.

- São carros chefes da casa. - O garçom assentiu.

- Então vamos pedir todos. - Nathaniel sorriu e eu arregalei os olhos. Eu amo frutos do mar, mas pratos com eles custam muito caros.

- Nath. - Chutei o pé dele por baixo da mesa.

- Você pode nos recomendar alguma bebida sem álcool? - Ele ignorou meu chute.

- Claro. - O sorriso do garçom se alargou. - Temos muitas batidas de frutas tropicais.

- Escolhe, amor. - Ele me olhou sorrindo.

- Eu quero uma de abacaxi com gengibre.

- Eu quero uma de acerola. - O garçom  anotou os pedidos e saiu.

- Você ta doido? Isso vai sair muito caro. - Briguei com ele.

- Mas é pra isso que eu trabalho, dinheiro foi feito pra gastar, quando eu morrer, não vou levar nem meu corpo.

- Vou te ajudar a pagar.

- Na próxima.

- Não, Nathaniel.

- Ária, esse é o final do fim de semana perfeito, eu tenho toda a riqueza do mundo de volta pra minha vida, qualquer dinheiro que eu gaste agora, não vai me deixar nem um pouco mais pobre. - Ele segurou minhas mãos e me olhou nos olhos.

- Da próxima vamos comer cachorro quente. - Tentei não sorrir.

- Desde que eu possa ver seu nariz sujo de mostarda, por mim tá tudo bem. - Ele tocou meu nariz com o dedo indicador.

- Você sempre fez bullying comigo, só por quê não consigo comer cachorro quente sem me sujar.

- É fofo.

Em pouco tempo a nossa entrada chegou e eu devo dizer que era a coisa mais gostosa que havia comido em muito tempo, a lagosta superou qualquer expectativa que eu tivesse, parecia que minha língua ia cair, paladar de pobre não é acostumado com coisas requintadas.

Devo dizer que realmente foi o final do fim de semana perfeito, naquela noite quando entrei em meu apartamento tudo parecia diferente. Eu não sei o que o futuro me reserva e espero não me arrepender da escolha que fiz, mas vou me permitir viver esse momento.

Back to me - Nathaniel Onde histórias criam vida. Descubra agora