Depois de toda aquela discussão de mais cedo, a Béni seguia seu fluxo como se duas pessoas jamais tivessem travado uma guerra em sua recepção. Maria estava na sua sala quando ouviu a voz de Miguel a chamando. Ela logo se apresentou diante dele.
— Maria, pegue suas coisas que nós precisamos sair para ver alguns fornecedores de tecido. Juan está preparando uma nova coleção.
— Sim, Sr. Miguel! — Ela quase quis bater uma continência, mas não o fez.
"Meu Deus, eu sou louca. Só pode!"
Ela pegou sua bolsa, desligou o computador e partiu para encontrar o chefe que já a esperava na porta. Eles começaram a caminhar, e Maria percebeu que aquele trajeto em que andavam não era o da saída. Reparou que seguiram para um ambiente bem grande com as paredes divididas por blocos com várias araras nos compartimentos. A sala tinha um ar metalizado; cadeiras dispostas para breves reuniões; umas mesas largas com muitas revistas, tesouras, tecidos e tudo mais que um ateliê de alta costura podia ter. Havia também uma pequena passarela e no fundo uma cortina preta e grossa, dali saía as modelos que experimentaram as roupas da nova coleção. Era o santuário de Juan Roriz.
Quando eles se apresentaram, Maria observou que Marina estava lá conversando com altas gargalhadas junto de Juan. Quando ela foi avistada pelos dois, sentiu o seu coração estremecer.
— Não acredito que você teve a coragem de trazer esse ser horripilante aqui — O estilista se levantou e declarou com sua voz de desdém. — Ai Miguel, como pode conviver com alguém assim? Por isso seu humor tem ficado cada dia pior. — Juan revirou os olhos, exalando sua insatisfação pela assistente do presidente.
Miguel estreitou o olhar e de relance reparou que Marina escondia o riso atrás da mão. Ele sentiu um aparente desprezo brotar no peito ao notar aquilo. Maria procurou não se afetar com aquelas palavras maliciosas, mas desejava sair urgentemente dali. Pela providência divina, Marta apareceu e a levou para a ala das costureiras enquanto o presidente resolvia suas pendências com o estilista mal educado.
— Juan, já falei com você sobre não tratar a Maria assim.
— Miguel, não queira ser o defensor dessa feia. — Juan apontou para Maria, que seguia junto de Marta. — Só você mesmo para fazer com que a Béni, uma das maiores empresas de moda deste Estado, seja sua funcionária.
— Contratamos pessoas pelo seu serviço, não pela aparência. — Ele parou um pouco, olhou para Marina também e disse mais: — As vezes, alguém sem tanta vaidade é bem melhor de coração do que aqueles que tem pérolas pelo pescoço.
Marina parou de rir com aquela fala de Miguel, na verdade ela se ofendeu com aquela conversa.
Notou que ele pareceu não se importar com sua chateação. Juan, por outro lado, fez cara de paisagem, deixando seus ouvidos abertos para que da mesma forma que as palavras entrassem, elas também saíssem.
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Tudo Outra Vez
SpiritualDizem que a verdadeira beleza vem da alma, mas para Maria a falta dessa características no lado exterior lhe prejudicava aos montes. Ela queria um emprego, contudo, sua aparência não cooperava. Feia! Desengonçada! Aberração! Eram esses e muito mais...