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A chuva estava forte naquela noite escura, refletindo bem a situação de Miguel em toda aquela semana. Pela sacada da sala de seu apartamento pensava em todos os embates que teve de enfrentar: Primeiro aquela reunião com todos os acionistas contra a sua ideia; depois seu pai e o desentendimento familiar, que até aquelas alturas ainda não tinha se resolvido e nem tinha esperança de quando poderia ser, se um dia fosse; Marina encheu sua paciência todos os dias depois da reunião, tentando dissuadi-lo de sua ideia por roupas mais modestas e baratas; Antony se afastou e se encontrava sempre ocupado para não ter que enfrentar a situação de frente; a única que lhe trazia um pouco de conforto era Maria, sua amizade era um bálsamo para ele. Miguel ainda podia se lembrar das palavras dela numa das tardes em que ele experimentava o sentimento de derrota, enfrentando todos os opositores.

"O SENHOR será também um alto refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia.* Lutas sempre serão recorrentes na vida do cristão, mas temos o auxílio que o mundo não tem, o nosso Senhor".

"O nosso Senhor". Aquela declaração dela o fez se sentir mais íntimo e confortado, o Senhor, era algo que eles compartilhavam e tinham grande amor por Aquele Ser Divino.

Miguel orou a Deus, ansiando por seu refúgio, pois se sentia fraco e cansado. Não podia ser, nem conseguiria ser forte o tempo todo. Após lançar sobre Ele toda aquela tribulação, ele se sentiu melhor e fortificado. Seguiu até a cozinha para beber um copo de água quando ouviu o celular tocar. Já era tarde da noite, então pensou que se fosse para alguém ligar naquela hora deveria ser importante. Atendeu a ligação e ouviu:

"É o Conrado, Miguel" o corretor que ele havia encontrado no Rio de Janeiro. Os dois, antes de Miguel partir para São Paulo novamente, concordaram em investigar o caso mais profundamente, era bem certo que o presidente da Béni não tinha avançado em decorrência desse assunto, pois estava atolado com os outros problemas. Esperava ao menos uma boa notícia depois de tudo.

"Diga, Conrado" ele respondeu, enquanto enchia seu copo de água.

"Achamos o cara que fez o contrato com Antony"

NOSSA! O coração de Miguel deu até um salto no peito.

"Como vocês o encontraram?"

Conrado explicou que eles monitoraram as câmeras ao redor do edifício e viram quando um dos seus funcionários entrou no ambiente carregando alguns imóveis, ele identificou o sujeito e percebeu que ele havia saído da corretora sem aviso prévio, então o procuraram e acabaram achando num dos interiores do RJ.

"Acontece que o homem não diz de jeito nenhum quem o pagou para fazer isso" declarou Conrado.

"Era de se esperar, mas com um pouco de tempo ele confessa." Miguel tinha certeza que a pressão de ficar atrás das grades abriria a boca do homem. "Muito obrigado pela notícia."

Conrado se despediu, e Miguel ali mesmo entregou aquela questão ao Senhor Deus, pedindo seu auxílio para descobrir tudo que era necessário. Enfim, conseguiu descansar.

*

A manhã começou agitada na Béni, principalmente, porque parecia que Paola se sentia a rainha daquela empresa.

— Vão trabalhar, seu bando de desocupados — a loira aguada ordenava com animosidade aos outros funcionários.

— Quem você pensa que é para nos mandar fazer alguma coisa? — Aretha perguntou com desdém se escorando na bancada em que Paola trabalhava.

— Sou a secretária da presidência, me respeite!

Aretha a imitou, repetindo os trejeitos da loira sem esconder o deboche.

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