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Maria respirou e resolveu fazer o esperado para aquelas situações: apresentá-los.

— Vicente, esse é o Miguel, meu ex-chefe. Miguel, esse é o Vicente, um amigo. Ele veio comigo ao casamento.  — Ela mordeu os lábios e entrelaçou os dedos.

Miguel olhou para aquele homem e pensou o que ele poderia representar realmente na vida de Maria. Teria ela passado todo aquele tempo na companhia dele? Um desconforto pesou no peito. 

— Olá, tudo bem? — Vicente o cumprimentou e Miguel apertou a mão dele.

— Vicente — Maria deu um sorriso acanhado —, Miguel me pediu para que tivéssemos uma conversa. É importante. Eu prometo que não demoro.

Vicente a fitou e entendeu muito bem a situação. Ele reconheceu aquele olhar dela em direção ao ex-chefe. Era o mesmo tipo que sua noiva tinha para ele. Sinceramente, não se preocupou por isso. Sabia que Maria trazia alguém no coração. Sempre soube. E parecia que tinha acabado de conhecer esse alguém. Ele riu ao fim de tudo.

— Eu vou ficar com a minha tia. Fique à vontade. Qualquer coisa estarei aqui. — Ele apertou levemente o ombro dela.

— Obrigada! — Maria sentia muita gratidão por Vicente ser compreensivo.

Miguel o viu se afastar e ficou parado por uns instantes. Ele não esperava que tivesse explicações, mas Maria resolveu falar:

— Ele tem sido um bom amigo durante esses tempos. Me ajudou bastante.

— Acredito que sim — Miguel deu um sorriso leve. — Me acompanha, por favor.

Ele seguiram até um local mais afastado da festa. Era um espaço ao ar livre, onde tinha uma mesa abaixo de uma árvore. O vento soprava fraco ali e o silêncio era mais presente. De início, os dois se sentaram um a frente do outro e nada disseram. Miguel contemplou a face de Maria. Ela estava linda, não podia negar. Porém, ainda que a aparência tivesse sido transformada o mesmo jeito, olhar meigo e amoroso tinham sido preservados. Aquela beleza interior tinha irradiado para fora e isso era realmente maravilhoso. Seu coração não estava agitado, mas estranhamente confiante. A paz que o invadia naquele instante era resultado de suas inúmeras orações. O seu amor não era como uma paixão avassaladora. Não. Era calmo e capaz de raciocinar, ainda sim, cheio de imensa saudade.

— Você mudou muito, Maria. — Foram as primeiras palavras que ele disse.

Maria sorriu e abaixou a cabeça.

— Esse tempo longe foi realmente importante para você, não foi?

— Sim, eu precisava me encontrar e me conhecer. Tem momentos na vida que isso realmente é preciso — ela falou.

— Eu entendo. Apesar de ter sido bem difícil saber que você tinha partido. — Miguel declarou sem medo. — Afinal, perdi minha melhor funcionária.

Maria riu do fala cheia de graça dele. Ela compreendeu que Miguel estava querendo suavizar o momento.

— Eu sinto muito.

Miguel assentiu e novamente se calaram. Ele repensou em tudo que havia vivido durante aquele tempo em que estiveram afastados. Muitas coisas dentro dele mudaram também. Então ousou falar:

— Maria, eu tenho muitas coisas para dizer, mas uma delas é o agradecimento. — Ela o olhou na hora. — Eu sinceramente não sabia o quanto você tinha sofrido por causa das palavras preconceituosas que recebeu a vida toda, porém, naquela noite, eu tive um despertar sobre tudo, o que refletiu na minha irmã e minha família.

Miguel contou sobre a exposição de Linda e a reconciliação com os pais. Ele sentia que tinha de agradecer por Maria ser parte, ainda que não soubesse, de uma revolução tão importante dentro do seu seio familiar.

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