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Maria abriu a porta do chalé, depois da longa caminhada feita naquela manhã ensolarada. Logo se sentou numa poltrona que ficava numa varanda de frente para aquele panorama exuberante da natureza. Nem acreditava que estava ali, escondida do mundo como sempre desejou. Deus havia mesmo respondido suas orações. Enquanto aproveitava o calor do sol sobre sua pele pálida, lembrou-se novamente das palavras que há dias percorria sua memória: "Maria, eu amo você". As lágrimas desceram novamente. Toda vez que lembrava daquela declaração e lembrava da expressão de Miguel, ela chorava. Queria acreditar naquele amor, mas não podia, não conseguia. Seus pensamentos ainda eram inquietantes, uma disputa sobre crer ou não na fala do ex-patrão. Porém, fora interrompida de sua luta interna quando ouviu a porta se abrir e a dona da casa entrar.

— Marta! — Maria a recebeu com um abraço. A mulher a acolheu tão bem quanto pôde. — Eu agradeço muito por ter me enviado para seu sítio. É lindo demais! Tudo que eu precisava.

— Eu sei, minha querida. Eu sei. — Marta deu leves batidinhas nas mãos de Maria e a conduziu a se sentar no sofá à frente dela.

Marta havia visto como Maria saiu arrasada da galeria depois daquela mulher dizer suas atrocidades, observou como Miguel correu atrás dela e depois que voltou todo molhado sem nada dizer sobre Maria, decidiu ir até a casa dela, sem ninguém saber. Encontrou a amiga arrasada de todas as formas possíveis, conversou com os pais da jovem, convencendo-os a deixá-la passar um tempo no seu sítio em Paraibuna, um interior perto de São Paulo. Maria pediu muito que os pais deixassem e após eles contemplarem a aflição da filha, consentiram.

Maria partiu naquela mesma noite. Pediu aos pais para não contarem nada a absolutamente ninguém, nem ao Bento. Pedido que realmente chocou os seus genitores, pois Maria não escondia nada do amigo. Enfim, na madrugada chegou ao sítio. Marta a instalou e disse que voltaria em três dias para ficar com ela, tudo que precisava era somente terminar as questões na Béni e se desaparecesse assim, poderiam desconfiar. A menina consentiu e até agradecia, pois naquele momento realmente não desejava conversar com ninguém. Somente ficar a sós com sua dor. Todavia, depois de cinco dias aproveitando todo aquele lugar sozinha, ficou feliz em ver a amiga.

— Acho que você gostaria de saber que Raul e a Paola foram desmascarados ontem. A Béni está salva e a Trésor agora é uma empresa próspera. — Marta contou a notícia com satisfação. — E tudo isso graças ao seu trabalho eficaz. Você lutou muito por aquela empresa.

Maria olhou para o chão e sentiu o peito apertar. Béni tinha um sabor doce e amargo na boca.

— Eu não fiz nada sozinha. Foi salva porque o Senhor é bom, e todos nós trabalhamos unidos. Seu... — Ela respirou fundo antes de pronunciar — Miguel merecia realmente vencer todas aquelas tempestades. Agora está livre. — A voz dela embargou.

— Ele não teria conseguido sem você, Maria. Acredito que foi a melhor assistente que um presidente poderia ter tido — Marta afirmou, sabendo que o nome do chefe mexia com a menina.

A jovem apertou os lábios e olhos marejaram. Aquelas feridas ainda estavam tão aberta. Miguel não era culpado, mas o sentimento por ele fazia todos os outros machucados doerem. Marta a vendo daquele modo, disse:

— Por que não me conta o que a aflige?

Maria a olhou e nem soube direito o que falar.

— Você tem duas opções, Maria: jogar tudo para fora ou morrer com todos esses sentimentos. Te afirmo que eles têm o poder de afundá-la no poço da amargura. — Marta foi direta ao ponto. Sabia muito bem onde queria chegar.

Maria suspirou e sentiu um nó engatar na garganta. Sua consciência dizia para nada falar, afinal, aquilo não faria diferença nenhuma. Mas ela ponderou que nunca realmente abriu o coração e Marta era uma mulher cristã e sábia de verdade. Deveria mesmo expor tudo? Sim, deveria.

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