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Maria ficou paralisada por sentir aquelas mãos fortes segurando seus braços e aos poucos levantou os olhos para enxergar, surpreendentemente, Miguel. Ele a apoiava para não deixá-la cair e seus olhos castanhos estavam carregados de preocupação.

— Maria, por que está correndo? — perguntou.

— Seu Miguel! — ela exclamou para logo em seguida se entregar a um pranto dolorido e devastador.

O corpo dela começou a tremer e o choro angustiante a impedia de comunicar qualquer coisa. Aqueles sentimentos de rejeição outrora enterrados e as palavras de escárnio jogadas para algum lado do subconsciente voltaram com toda a força. Será que ela nunca seria nada além da menina feia para todos? As pessoas não seriam capazes de olhar para além da aparência? Os apelidos, as falsas palavras, os destratos e as humilhações nunca teriam fim?
Miguel não entendia o porquê daquela lamentação, mas sabia que o cortava por dentro. Ele não queria vê-la sofrer de modo algum. Então a abraçou, oferecendo seu ombro para que ela molhasse com as lágrimas. Contudo, de repente, vozes de outros homens invadiram aquele momento.

— O que encontramos aqui? — Gael declarou com aquele sorrisinho zombador de sempre. — A Maria-assombração esbarrou em alguém. Como você não se assustou, Bro?

Maria quis virar-se, mas Miguel a impediu deixando-a de costas para o homem. Ele bufou de ódio com aquele homem, e a raiva foi tão grande ao ouvir tamanhas grosserias que tinha um único intuito: de acertar um belo soco na boca daquele ser desprezível.

— Eu vou falar só uma vez: deixe-a em paz! — ele disse de maneira soturna.

Gael se sentiu estimulado a brigar. Ele gostava de ser afrontado ao ponto de poder mostrar a força do punho.

— Se não vai fazer o quê, engomadinho? Acha que aguenta um racha? — inquiriu com arrogância e também se confiando nos dois amigos que já haviam chegado.

Miguel olhou para os três e não teve medo de enfretá-los, mas refletiu sobre Maria ali e não seria sábio agir de modo violento, não que seu instinto não pedisse muito.

— Não vai dizer nada? — Gael insistiu no desdém. — Maria e eu estávamos prestes a brincar, não é? — ele foi ousado em querer toca-la, mas Miguel segurou o mão dele no percurso.

— Não, você não vai querer fazer isso — a voz firme e grave despertou o senso de Gael. — Se vocês três não saírem daqui agora, podem ter certeza que entrarei em contato com meus advogados, e todas as vezes que conseguiram escapar da polícia será trazida a tona e uns bons anos na cadeia talvez faça bem a vocês. — Mirou os três homens, que de repente perderam a pose de durões. — Então vocês vão embora e nunca mais nem olharão para Maria, estão me entendendo?

Gael engoliu a saliva, pois possuía a clareza do quanto sua ficha era suja. Ele não fez nenhum movimento de cabeça e para não sair por baixo declarou:

— Nos encontraremos de novo, engomadinho! — E saiu com os outros dois homens.

Miguel observou enquanto eles partiam e se voltou para Maria, que permanecia do mesmo modo.

— Eles já foram.

Aos poucos, ela foi se afastando e com o rosto todo vermelho olhou para o chefe. Nem sabia o que dizer. Mas ele não fez perguntas, apenas a conduziu a um banco mais próximo, onde tinha poucas pessoas ao redor. Ele segurou as mãos dela, permitindo-a chorar mais. Maria queria parar, mas era como se as comportas do seu coração se abrissem e uma tristeza sem fim a dominasse. Ela olhou para Miguel e sua alma parecia rasgar ao meio, pois sabia o quanto estava apaixonada e também entendia muito bem que toda aquela afeição seria extremamente repelida por ele. Ela, a feia, ousando se apaixonar pelo chefe? Ele riria dela, essa era a verdade. Então a angústia a dominou completamente, como uma áurea negra em cima de si.

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