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— Seu Miguel, tem certeza mesmo que foi uma boa ideia me trazer? — Maria indagou ao chefe enquanto tentava desviar sua mala dos outros no aeroporto. Ao seu ver, aquele lugar era imenso, já que ela nunca tinha pisado num local daquele. E ela estava sentindo que passaria muita vergonha.

— Maria, você é minha assistente.— Miguel desacerelou os passos e voltou a atenção a sua funcionária, falando de uma forma que deixava claro e óbvio que a função dela era auxiliá-lo. — E agora eu preciso mesmo dos seus conhecimentos financeiros. Tudo bem? — Ele olhou para ela com uma seriedade até então desconhecida para a jovem, que apenas assentiu.

— Darei meu melhor, seu Miguel!

Ele balançou a cabeça satisfeito e voltou a andar com ela tentando acompanhar seu passos.

Não foi muito fácil para Maria convencer os pais de que viajaria com o chefe. O Sr. Evaristo só faltou ter um treco, mas a sabedoria de dona Bete ajudou o marido a compreender que ambos estariam sempre acompanhados de pessoas, dormiriam em quartos separados, e que ele precisava confiar na filha. Mais do que isso, no temor dela a Deus. Maria entendia bem os conflitos do pai e, talvez, sua desconfiança, mas agradeceu a mãe por ser tão generosa com ela.

Os dois permaneceram o tempo da espera do embarque em silêncio, apesar de poderem conversar sobre algo, ambos preferiram se recolher em seus próprios mundos. Depois de uma hora, o anúncio foi dado para começarem a embarcar e tudo ocorria muito bem até Maria entrar dentro do avião e ver aquele compartimento fechado, no mesmo instante sua respiração começou a falhar, mas ela procurou controla-la para não ser um fardo para o chefe.

Após colocar a mala no bagageiro e se sentar na cadeira, ao lado da janela, Maria começou a contar em sua cabeça a fim de ir melhorando gradativamente sua claustrofobia. Sabia que manter a calma era o mais importante, contudo, quanto mais via pessoas entrarem e perceber que aquele espaço confinado ficava mais cheio, um desespero começava a despontar no peito e ela não sabia até quando permaneceria controlada. Maria começava a remexer as mãos e virar o corpo para lá e para cá, e Miguel, ao seu lado, começou a estranhar àquele comportamento inquietante de sua assistente.

— Maria, você está bem?

Ela se virou para ele, levando-o a ser pego de surpresa por vê-la com olhos e nariz vermelho.

— Não consigo... Não vou conseguir... — ela dizia para ele num fio de voz. Estava atordoada demais.

— Você tem pavor de lugar fechado? — ele indagou.

Ela só balançou a cabeça e uma fraqueza começou a se apoderar dela.

— Minha pressão... — ela só conseguiu dizer isso, pois a sensação de desmaio veio em cheio.

Miguel, de imediato, repousou a cabeça da sua assistente no seu peito e chamou a aeromoça para que trouxesse água, a moça ajudou no mesmo instante. De gole em gole ele foi dando para Maria que, de pouco a pouco, foi tendo um gradativa melhora.

O avião terminou o embarque e começou a se locomover pela pista, não demorando para decolar. Quando Maria começou a retornar mais a realidade, ela reparou melhor que estava deitada sobre o peito do chefe e notou como um dos braços dele rodeava seu ombro e a outra mão segurava a sua. Aquilo era terrivelmente bom para ela, mas ponderou como podia ser impróprio e resolveu se afastar, porém, sentiu como os braços dele se enrijeceram contra o afastamento dela.

— Você ainda está fraca, pode ficar aqui — ele disse com um tom firme, mas preocupado.

— Mas...

— Durma, Maria! Quando abrir os olhos já estaremos no Rio de Janeiro.

Ela sorriu para si e obedeceu ao chefe, sabendo que nunca esqueceria aquele cheiro de sabonete de algodão que exalava de Miguel.

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora