Tudo Outra Vez

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"Grandes Vitórias vem com grandes riscos".

Miguel pensava nessa frase constantemente. Aquela conversa com Maria foi como se Deus abrisse seus olhos para algumas coisas. É bem certo que a escolha de depositar o dinheiro para a empresa fantasma tinha sido responsabilidade inteiramente dele e de Antony, mas a graça do Senhor faz com que coisas ruins possam produzir bençãos no futuro. Consequências teriam sem dúvidas, mas lições seriam aprendidas nesse percurso.

Ele pensava acerca dessas coisas em quanto checava pela décima vez o financeiro da empresa. Praticamente todo o dinheiro do orçamento para a nova coleção tinha sido dado para a Ac&Cia, fazendo com que tivesse que mexer com a outra receita e assim mexer até mesmo no Capital da Béni para tentar reparar esse furo gigante. Oh, pai amado! Mas tinha uma esperança: eles poderiam produzir peças mais baratas e populares, isso seria uma grande ajuda. Resolveu apresentar essa questão para os acionistas da Béni, assim que voltou de viagem.

— Não vou fazer parte disso! Meu nome é Juan Roriz, o melhor estilista de marcas e peças internacionais, jamais reduzirei meu talento a produção de peçinhas de roupas para qualquer mulherzinha da periferia usar — Juan declarou seu discusso com muito desdém. — Se você fosse um presidente tão responsável não teria feito algo assim.

A fala de Juan era a demonstração perfeita de todos os olhares dos acionistas na direção de Miguel naquele momento, mas ele permaneceu em sua posição firme.

— Meu filho, como você fez um depósito nesse nível para uma empresa que nem conhecia o histórico no mercado? Eu já tinha lhe dito sobre esse tipo de perigo — disse Antônio, pai de Miguel, que havia voltado de uma viagem com sua esposa.

— Miguel, por que você não falou comigo? Eu poderia ter lhe ajudado nessa decisão. — Marina, com sua voz aguda, participou da reunião.

— Nós estávamos certos de que seria um bom investimento, mas infelizmente... — Antony pronunciou com a voz baixa e, de certo modo, envergonhado.

— Infelizmente vocês afundaram essa empresa em dívidas. Se os bancos souberem disso não irão nos proporcionar seus empréstimos — Raul proferiu com o tom duro, mas seu coração exultava com a aparente queda de seu oponente. — Miguel Cavalcanti não terá mais um nome confiável diante dos negociantes. Eu acho realmente que ele deveria ser deposto de seu cargo, e eu assumisse essa empresa. Assim, a Béni talvez tivesse a chance de se manter em pé.

E tantos outros falaram o que mais queria. Miguel permaneceu calado diante deles, mas dentro do seu coração orava continuamente para ser sábio perante aquelas circunstâncias. As críticas eram fortes e duras, porém ele tentava não responder com irritação. Era naquela hora que ele precisava mostrar sua diferença.

— Eu acredito que se mudarmos essa coleção para peças mais populares e roupas mais modestas podemos alcançar novos mercados e seria mais lucrativo. — Depois de um tempo, ele enfatizou o que havia dito no início da reunião.

— Miguel, a Béni tem um nome a zelar de peças sofisticadas para o alto mercado da moda e não de coisas populares — Marina o contrapôs. — Como ficarão nossos clientes ao saber que nosso nome se tornou popular no mercadão? Eles não comprarão mais nossas coleções, pois não seremos mais uma marca exclusiva e sim qualquer coisa que se encontra na beira da esquina.

— E o nome Ruan Roriz não é algo para ser achado na praça a céu aberto. Cruzes! — exclamou o estilista fazendo o sinal da cruz.

— Creio que podemos ser uma marca tão boa que produz roupas tanto para os mais beneficiados quanto para os com menos recursos também — replicou o presidente com sua postura.

— Encerremos nossa reunião por aqui. Vamos trabalhar num novo plano de ação e nos reuniremos dentro de uma semana — Antônio deu fim a discussão que começava a se instaurar na sala.

Todos começaram a se levantar da mesa, mas antes de sair Raul jogou seu veneno:

— Eu sabia que uma hora ou outra você cairia do seu cavalo de homem sem defeitos, caro presidente. — Seu sarcasmo fora tão grande que Miguel cerrou o punho. — Até breve!

Raul saiu, deixando somente Antônio e Miguel na sala.

— Miguel, como você...

— Pai — ele o interrompeu —, eu sei que falhei e que fiz algo que não é aconselhável. Eu errei e compreendo mais do que ninguém isso. — Ele respirou fundo. — Mas também sei que todo profissional na sua área já falhou, passou por perrengues e no final venceram. O senhor e todos os outros não podem esperar sempre perfeição de mim, mas devem saber que eu posso errar e ter a chance de poder consertar, se não for assim como poderia me aperfeiçoar?

Antônio respirou fundo e se tornou pensativo por alguns momentos.

— Está certo, meu filho. Eu no início também errei demais. Na verdade, todos nós temos na nossa caminhada erros e acertos. — Ele franziu o cenho e declarou: — Porém, está fora de questão essa ideia da Béni produzir peças populares. Não foi para isso que criei esta empresa. Se reúna com a Marina e pensem em novas ideias. Já falei para você que ela é a mulher que precisa ter ao seu lado. Miguel, não seja tão intransigente.

Os sentimentos de Miguel começaram a se remexer. Como seu pai poderia continuar insistindo nessa questão?

— Estamos numa crise e o senhor vem com essa questão novamente! Por que faz isso? — Miguel perguntou irritado.

— Porque você é meu filho e sei o que é melhor para você! Todo pai quer o melhor para os filhos.

Aquilo doeu fortemente em Miguel.

— Todo pai ao querer o melhor para o seu filho não deveria ser esquecer de um deles...

Antônio olhou imediatamente para Miguel e suas pupilas se dilataram. Um nervosismo tomou conta do homem, levando seu rosto a ruborizar.

— Já disse que não tenho nada a ver com essa menina!

— Por que faz isso? Ela é sangue do seu sangue!

Antônio bateu na mesa, erguendo-se abruptamente e, dominado por uma fúria sem igual, saiu da sala. Maria, estando na recepção, acabou avistando Antônio saindo da sala de reunião com passos pesados, questionando sobre o que teria acontecido.

— Parece que uma nuvem negra está passando por esta empresa — declarou Paulina perto de Maria, assistindo a mesma cena que a assistente do presidente.

— É, e parece que estamos só no início dela — Aretha, que se aproximou, proferiu.

"Deus tenha misericórdia de nós!" Maria pensou.

*

O fogo no parquinho começou de vez