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Miguel, Maria e Caio entraram num reservado café e se sentaram em um canto mais distante da visão dos demais, nenhum deles quis nada além de água. Sinceramente, Maria e o chefe estavam bem curiosos sobre o que o ex fornecedor poderia revelar. 

— Então, o que você tem a nos dizer? — Miguel perguntou sem demora.

— Bom, eu queria antes de tudo, pedir desculpa de verdade a vocês dois. — Miguel estreitou o olhar desconfiado e Maria sentiu que realmente era verdadeiro o arrependimento de Caio. Até ela já não suportava carregar aquela mágoa.

— Acho que você se arrependeu mesmo — ela declarou com um leve sorriso.

— Maria, foi com você que eu mais errei — Caio, sem pedir licença, segurou a mão dela na mesa, o que a fez ficar surpreendida, e Miguel fincou os olhos naquele gesto do homem, o qual desaprovou profundamente. — Você me tratou com toda educação, simpatia e respeito, e eu usei da sua bondade para tirar proveito. Me perdoe.

— Tudo bem, Caio. Eu perdoo você. Ainda bem que aprendeu com seus erros — Maria disse e recolheu suas mãos para baixo da mesa. Caio sentiu que ela não ficou confortável com aquele toque e Miguel a admirou por ser tão respeitável em seus modos.

— Eu também desculpo você. Afinal, todo mundo erra. Mas espero que não esteja aprontando de novo — Miguel declarou e sua voz possuía um leve tom de ameaça para que o homem não ousasse mentir novamente.

— De jeito nenhum. Por isso estou aqui. Desde o dia em que a Maria me falou que a Béni ia fechar uma compra com a Ac&Cia eu fiquei com uma pulga atrás da orelha, já tinha ouvido falar sobre a tal empresa. Porque foi por meio dela que me contrataram para ser o vendedor dos maquinários. Eu tentei falar com você — ele olhou para Maria —, mas não quis me dá atenção, o que não lhe julgo. De certa forma, foi bom para que eu buscasse algumas respostas.

— E o que descobriu? — Miguel perguntou.

Mas antes que Caio respondesse, a garçonete trouxe a água para os três. Contudo, Maria acabou decidindo pedir algo a mais porque seus estômago já reclamava pelas horas que eram.

— Descobri que é uma empresa fant...

— Fantasma — Maria e Miguel respondeu junto, mostrando que isso não era novidade, porém não abalou Caio.

— Sim, mas quem "regia" essa empresa era Felipe Duarte, o funcionário de uma corre...

— Corretora, no Rio de Janeiro — Miguel interpelou o homem mais uma vez. — Nós fomos ao Rio para averiguarmos melhor, e conversei com o diretor da corretora. — E ainda ontem eles conseguiram capturá-lo.

— Isso é bom — Caio falou pensativo.

— Era tudo o que tinha para nos falar? — Maria indagou, enquanto recebia seu prato de comida.

— Não. — Caio engoliu em seco. — Porque eu sei quem é que estava por trás de Felipe.

— E como é que você sabe disso? — Miguel olhou firmemente para o homem.

— Porque... Porque é o mesmo que estava por trás de mim para eu conseguir a venda das máquinas para a Béni.

— Não acredito! — Miguel deu um tapa na mesa, o que fez Maria dá um pulinho. Mas ela também estava estarrecida com a revelação.

— Em todo esse tempo era Raul por trás dessas vendas e compras terríveis para a Béni? — Maria perguntou de forma retórica.

"Oh, pai amado! Quando eu penso que chegamos no fundo do poço, ele afunda mais um pouco. Como disse Jeremias sobre Jerusalém: "Estamos arrasados!" Maria fez mais uma de suas breves orações.

— Primeiro, ele manda um fornecedor para vender máquinas — Miguel então parou e indagou: — Aquelas máquinas prestavam, Caio?

O homem soltou o ar e disse:

— Não sei. Eles só me deram aquelas imagens com os equipamentos para mostrar a vocês. Provavelmente nem existiam.

— Então, de novo, iríamos depositar dinheiro sem receber nada em troca — Miguel proferiu as palavras mais para ele mesmo do que para os outros. Ele olhou para Caio de novo — Mas espera aí, você disse "eles". Eles quem?

Maria olhou para Caio com decepção, por vê-lo está envolvido com algo tão corrupto. E aquilo abalou um pouco o rapaz.

— Existe uma outra pessoa que passa informações da empresa para o Raul. Assim ele sabe onde atingir. — Caio explicou, levando os outros dois a um novo enigma.

— E quem é essa pessoa? — Maria questionou ao homem a sua frente.

— Eu não sei. Acho que Raul o deixa escondido justamente para não perder sua fonte de informações.

Miguel respirou fundo. Ele pensou do porquê Raul ter tanto ódio dele a ponto de querer destruir a empresa que era fonte de lucro até mesmo para ele. Miguel bem sabia o quanto Raul Diaz sempre deixou claro sua antipatia em relação a ele, apesar de nunca entender realmente quais os motivos o levavam a àquele extremo. Porém, se fosse somente com ele estava bem. Mas atingir uma empresa onde existe pessoas que necessitam de seus salários somente para se vingar por ter perdido a presidência, ou sabe se lá porque mais, era demais!

— Preciso descobrir quem está passando as informações da Béni — Miguel disse.— Primeiro, a compra de máquinas, que por muito pouco não depositamos o dinheiro. Segundo, pela compra de tecidos, o que infelizmente aconteceu o roubo. E o que mais ele irá aprontar? Temos que ser mais espertos.

— Agora sei porque você não quis entrar na Béni — Maria disse a Caio. — Essa pessoa o veria e lhe denunciaria.

— Sim, e é por isso que depois dessa conversa irei viajar. Mas antes, eu precisava consertar esse erro. Sabe, não sou esse tipo de homem cafajeste. Eu estava necessitado de grana e essa péssima oportunidade de ser um vendedor fajuto apareceu. — Ele olhou para os dois a frente. — Obrigada por me desculparem e se eu pudesse ajudaria mais, contudo minhas informações acabam aqui. Espero de verdade que vocês peguem a todos. — Ele se levantou, deu um aperto de mão em Miguel e beijou o dorso da mão de Maria. — De verdade, Maria, você é uma mulher bela. Não pelos padrões da sociedade, mas por causa do seu caráter. Espero que seja muito feliz.

As palavras de Caio comoveram Maria. Ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas. Miguel não disse nada, porém concordou piamente com as palavras do ex-fornecedor, que não demorou e partiu. Ficando somente Maria e Miguel no café.

— Parece que temos uma pequena quadrilha contra a Béni — Maria disse ao chefe, enquanto arrumava os óculos na face.

— Sim, e precisamos saber quem são todos. Já sabemos que Raul e Felipe estão no meio. Raul nem me surpreendo tanto. — Miguel bem conhecia o caráter do homem.

— Acho que sei quem pode nos ajudar.

— Quem seria? — o chefe quis saber.

— O Bento! Ele é o melhor na área de computação. Ele pode entrar no sistema de comunicação da Béni e descobrir muitas coisas — Maria, ao falar do amigo, disse com brilho nos olhos, levando Miguel a se sentir desconfortável.

— Aquele seu amigo?

— Sim, o Bento. O senhor já o conheceu. E aí, aceita contratá-lo durante uns dias para nos ajudar nessa empreitada?

— Ele ficaria na Béni, não é?

— É o melhor. Ele pode trabalhar na minha sala. Só colocar uma mesinha lá — ela deu uma sujestão.

— Não! Ele vai ficar na minha sala. — Miguel olhou para o lado meio desconfiado. — É o melhor. Está bem?

— Se o senhor acha melhor assim, tudo bem. — Ela deu de ombros.

Ela terminou a refeição, e ambos voltaram para a empresa.

*

Não veio no sábado, mas veio na terça!
E aí, quem será o informante? 

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