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Miguel entrou na sua sala e, antes de conseguir sentar na sua cadeira, ouviu um fungado angustiado ao longe. Ele balançou a cabeça achando que era só um som aleatório, mas de novo escutou o ruído do assoado de um nariz e resolveu ir em direção ao som, sendo que vinha da saleta de Maria. Ele entrou e pegou sua assistente com os olhos e nariz vermelhos e um lenço na mão, que servia para limpar as lágrimas no rosto. Ela estava quase com o corpo jogado na cadeira e fitando algo debaixo da mesa, aparentemente, nada.

Ela estava devastada e totalmente assolada por sentimentos que a esmagavam para baixo. As palavras de Caio iam e vinham na sua mente constantemente, fazendo-a sofrer mais e mais vezes. Ouvir aquilo a fez relembrar de todas as vezes que foi machucada e ferida por pessoas de mau gosto, principalmente, na escola e certamente por aquele... Aquele... Ela soltou o ar pesado. Não, não podia se deixar ir tão fundo nas suas emoções. Estava cansada mentalmente!

— Maria, você está bem? — Ela deu um salto da cadeira ao escutar a voz grave de Miguel.

— Sr. Miguel, me perdoe por estar assim.— Ela se sentou devidamente, colocou os óculos e jogou o lenço no lixo.

— O que aconteceu? Por que está chorando tanto? — Ele franziu a testa e se aproximou mais dela. Seu coração partiu ao vê-la sofrer daquela forma.

— Não é nada, senhor. — Maria passou a mão no rosto e deu um sorriso vazio para ele, querendo-o convencer do contrário.

— Algo aconteceu. Você não estava assim horas atrás. Me conte agora!

Maria sentiu o tom imperativo do chefe e se recolheu um pouco, sabendo que Miguel não estava para brincadeira. Porém, não achava que ele devia se meter naquilo. Aquele problema era dela.

— Maria?! — ele insistiu.

Ela o fitou com um olhar baixo e amedrontado.

— Eu... Eu... — As palavras ficavam engatadas na sua garganta. Nunca conseguiu dizer o quanto aquilo lhe feria. Só sabia que passaria. Deus a ajudaria como fez tantas vezes. — Por favor, senhor. Não é nada — ela disse e logo em seguida uma lágrima caiu, para desmenti-la de que realmente não havia nada.

Miguel se aproximou e, sem temer está sendo íntimo demais, tocou a pele da face dela limpando aquela lágrima solitária. Ele sentiu aquela dor, era como se fosse com ele mesmo. Nunca foi tomado por um sentimento daquele e nem o saberia explicar se alguém pedisse uma explicação, mas só tinha a certeza que não queria vê-la sofrer por nada.

— Essa lágrima aqui não é de "nada". Se você não me contar, eu vou tomar minhas próprias providências e pode ser que erre o alvo.

Maria surpreendeu-se com aquele toque tão repentino. Ele estava mesmo tocando seu rosto? Mas sentiu que aquele impulso foi por consolo (não teria outro motivo) e ela realmente estava precisando de um. Ela suspirou e, inevitavelmente, fechou os olhos sentindo aquela mão firme e quente, mas ao mesmo tempo mansa e carinhosa no seu rosto. Uma sensação de conforto apossou-se dela e lhe deu uma breve coragem, contando ao chefe o que ocorrera. Após Miguel ouvir o que tinha acontecido as suas pupilas se dilataram, os batimentos cardíacos e a respiração se elevaram, seu fluxo sanguíneo no músculo o deixaram tenso, como se estivesse pronto para atacar seu alvo. Até seu punho cerrou.

— Maria, não se preocupe. Isso não ficará assim — ele disse entre os dentes e com passos pesados saiu da sala, deixando sua funcionária assustada pensando no que ele faria, pois ela vira o semblante do chefe mudar totalmente.

Miguel andava diretamente até seu objetivo, pois sabia que Caio ainda estava na empresa. Ele ia com o coração ardendo de raiva e pedindo a Deus para não se deixar tomar totalmente pela ira. Ele não viu e nem ouviu ninguém no decorrer do caminho, era como se tudo tivesse sumido ao seu redor.

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora