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"O sonho da vida perfeita"

Já tiveram esse tipo de sonho? Ele sempre acontece, na maioria das vezes, naquele momento antes de dormir, não é? Fechamos os olhos e deixamos nossa mente viajar pelos caminhos da vida que queríamos ter. Sonhamos com aquele artista sendo nosso marido e junto um casal de filhos, caminhando de mãos dadas pelo parque. Às vezes sonhamos que estamos viajando pela Europa e conhecendo aqueles grandes castelos do século XIX. Não se pode negar que deveria ser bom ter vivido naquela época, pois as coisas pareciam ser mais certas e não tão confusas. Mas, na situação de Maria, qualquer época seria difícil. Ah, sempre se pode sonhar sendo rica e usando aqueles carros sports e mais ainda, sendo uma mulher muito bonita, que atrai vários olhares. Contudo, todavia e entretanto, a jovem sonhadora não é assim e é preciso acordar para a realidade da vida, sendo ela de uma moça pobre, sem beleza e desempregada, que necessita urgentemente arranjar um emprego.

"Dring! Dring! Dring!".

Maria bateu o despertador que ficava ao lado da cama e sentou, esticando o braço para se despreguiçar. Ela se olhou no espelho e estava exatamente como pensou: com olheiras e os cabelos ondulados cheios de frizz! Oh, vida dura! Esfregou os olhos e se arrastou para o banheiro. Com o passar de alguns minutos, seguiu para a cozinha e lá encontrou sua mãe fritando alguns ovos.

— Maria, venha comer rápido! — Dona Bete disse, apressando a filha, porque sabia que logo mais deveria pegar o ônibus.

— Eu estou sem fome, mãe. — Ela sentou à mesa e se serviu de um pouco de café com leite.

— Não quero saber — falou a mãe, já jogando uma porção de ovos dentro de um prato branco à frete da menina. — Vai passar o dia todo fora e sair de estômago vazio? Daqui a pouco a pressão cai de novo, podendo morrer pelos cantos da cidade.

— Assim é bom, pelo menos me livro de vez desse mundo velho. — Maria deu um sorriso seco e a sua mãe lhe bateu na nuca.

— Olha como fala, menina!

Maria murchou os ombros e deu graças antes de comer. Realmente estava bom e se sentia mais fortalecida para enfrentar o combate de ir em empresa após empresa atrás de trabalho. Parecia que de nada servia ser formada em administração e até ter uma especialização, se ninguém a dava uma chance. Complicada essa situação! (Ela Bufou).

— Bom, agora tenho que ir. — Maria levantou e pegou sua bolsa, deu um abraço na mãe e pai, que havia chegado depois dela. Ela também tinha um irmão de 12 anos, o Joaquim, mas ele já havia ido pra escola.

— Tenho fé que Deus ouvirá nossas preces, Maria! — Dona Bete disse, e a filha pôde reparar a emoção instalada nas expressões de sua mãe.

Ela assentiu e suspirou, já que pra conseguir algo só uma operação milagrosa de Deus mesmo. Se bem que nos últimos dias, ele não parecia querer produzir um milagre e, sim, a fazer rodar hora após hora entregando um currículo. Mas a vida é assim mesmo.

***

Havia se passado duas horas desde que a jovem desempregada saiu de casa, e depois de enfrentar mais umas quatro empresas e ouvir as mesmas desculpas: "Nosso quadro de funcionários está preenchido, mas ficaremos com seu currículo caso apareça alguma vaga". Ela estava cansada. Maria reparou também que as mulheres que sempre a diziam aquelas mesmas palavras, apesar de serem de lugares diferentes, possuiam em comum o mesmo timbre vocal: com uma entonação aguda e levemente anasalada. Que coisa!

Ela se sentou numa calçada, em frente a uma cafeteria, e ficou lá pensando em fazer alguma coisa com aquela triste vida dela. Mas, o que ela faria? Era melhor que virasse uma estátua ali e quem sabe até viraria uma atração turística. A pobre menina até podia imaginar a história que seria contada: "Uma jovem sentou aqui tão sem esperança que se petrificou na espera de um emprego". Seria uma boa forma de finalizar sua existência. Ela riu e soprou o cabelo em seu rosto quando...

"SPLASH!"

De repente foi despertada dos seus desvaneios, pois um carro prateado passou por uma poça de água e a ensopou. Ela olhou para o céu e disse: "A forma como demonstra a sua bondade para comigo é única!". O veículo estacionou logo depois e não muito distante de onde ela se encontrava. De dentro dele, saiu um homem bem vestido, de cabelos castanhos e uma barba bem feita. Não podia negar o quanto era bonito... E também um idiota por tê-la molhado inteira.

— Você está bem? — ele perguntou, se aproximando e vendo mais de perto o estrago que causou.

Se bem que não dava para piorar o que já era ruim.

(Você ficou surpreso pela reação dele? Maria ficou. A maior parte desses homens tão nem aí para o que fazem).

— Me desculpa, eu não vi você.

— Conte-me uma novidade — ela murmurou, baixinho.

— Se eu puder fazer algo para compensar. — Ela olhou pra ele e percebeu que o mesmo tinha realmente um olhar gentil.

Ele surpreendentemente pareceu não ter levado em conta a aparência desleixada, com as  meias no meio da perna e o vestido largo que mais parecia um saco de batatas. Tratou-a como alguém normal. Isso era bom!

— Se você tiver uma vaga de emprego pra mim, compensaria muito — Maria brincou. Já estava com o pé na lama mesmo, decidiu se lambuzar de vez.

Ele riu. E puxa! Ele tinha um sorriso lindo.

— Você gostaria de que tipo de emprego — ele pareceu gostar da zoação e querer participar também, então ela não perdeu a linha da meada.

— Qualquer um, desde que eu ganhe um salário.

— Você é formada em quê?

— Me formei em administração e tenho uma especialização em controladoria e finanças corporativas.

— Tá bom, então. Eu te dou um emprego!

Os olhos dela quase escapuliram para fora da caixa, de tanto que esbugalhou os olhos. NÃO PODIA SER!

Ela soltou uma risada esganiçada que mais parecia um porco. Que vergonha!

— A brincadeira foi boa, mas eu tenho que ir — ela disse sacudindo a mão no ar, querendo parar de se iludir.

— Não é brincadeira. Eu administro uma empresa e estou a procura de uma secretária. — Ele estava sério, o que a fez ver que realmente dizia a verdade. — Esse é o cartão da empresa. — Estendeu pra ela um papel branco cortado em retângulo com escritos nele. — Apareça lá amanhã às 7h e terá seu emprego. Caso não vá, nada mais poderei fazer. Tudo bem?

Maria ficou num silêncio pasmo diante daquela oportunidade que se desenrolava bem a sua frente e sem fazer esforço nenhum. Como assim?

— Tudo bem? — a voz grave dele a despertou.

— Sim, sim. Amanhã às 7h eu estarei lá!

— Ótimo! — Ele sorriu e entrou na cafeteria.

Ela o acompanhou com os olhos, ainda desacreditada no que tinha acabado de acontecer. Olhou pro céu de novo e disse: "Realmente o Senhor me ama e, de um jeito estranho faz as coisas acontecer, mas me ama!".

Então saiu pulando pela calçada e até fazendo uma dancinha. As pessoas a olhavam estranho, mas não estava nem aí. Agora tinha um emprego e, pra completar, um chefe muito bonito!

 Agora tinha um emprego e, pra completar, um chefe muito bonito!

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