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Três dias haviam se passado, Miguel trabalhava a duras penas, pois seu coração estava estraçalhado ao saber que sua amada havia partido. Culpou-se o máximo que pôde. Se ele soubesse que seu amor era tão ofensivo, nada teria dito. Ele parecia carregar o mundo nos ombros, mas boa parte seria retirado, pois naquele dia muitas coisas se resolveriam. E o que faria em seguida? Não saberia, mas daria, pela graça de Deus, uma resposta a altura de todos aqueles problemas da Béni.

Estava sentado na sua sala, fechando alguns documentos e se preparando para a reunião que aconteceria dentro de uma hora, quando Liz se pôs diante dele com várias pastas em mãos e disse:

— Aqui estão as pastas das contas da Béni com tudo pago, depósitos feitos, capital intacto, orçamento para uma nova coleção e uma margem de lucro — Liz disse com tanto orgulho que parecia a empresa ser sua. Na verdade, participar de toda aquela luta e agora vitória era uma benção empolgante. 

— Os documentos da Trésor estão aí? — o presidente indagou.

— Sim, toda a apresentação da empresa, seu capital e lucro. Os investimentos que Bento fez junto com Maria no exterior estão dando os lucros e agora caminha com as próprias pernas, sem depender da Béni — Liz explicou a situação, deixando Miguel totalmente atualizado e informado.

— Maria era uma mestra nas finanças — Miguel elogiou a assistente com muita saudade batendo no peito.

Liz apenas assentiu. Bento havia contado suas desconfianças entre Maria e Miguel, por isso resolveu não falar mais nada. Enquanto pensava nisso, Bento entrou na sala e mostrou outras pastas para Miguel. Era sobre a  investigação de Raul, Paola e todos envolvidos no negócio criminoso, que seria exposto diante de todos. Não passaria daquele dia. Todos do batalhão, junto com Antony e Miguel, trabalharam assiduamente, quase sem dormir, para deixar tudo pronto.

***

Paulina organizava a sala de reunião e aproveitava para orar a Deus para que tudo ocorresse bem, pois sabia ser aquele dia extremamente difícil e desafiador. Enquanto colocava xícaras na mesa, Antony entrou na sala. Ele olhou para ela e sorriu, procurando logo um lugar para se sentar.

— Seu Antony, ainda falta um pouco para a reunião começar.

— Eu sei. Só que não quero pertubar ninguém com minhas muletas e assim chego antes e só recebo as pessoas. — Ele ajeitou as muletas ao lado da cadeira. — Como vai, Paulinho? Faz tempo que não o vejo. — De algum modo, ele havia mesmo se apegado ao menino.

— Está estudando e a tarde fica com minha vizinha. Graças a Deus, ela pode cuidar dele para mim — Paulina declarou, arrumando as cadeiras.

— Deve ser difícil para você deixá-lo o dia inteiro com outras pessoas — Antony imaginava que, como mãe, ela teria preferência ao filho.

Paulina parou o que fazia e suspirou. Sim, ela sentia muito a tristeza em não poder cuidar do seu pequeno de modo integral. Mas, o que poderia fazer?

— Gostaria sim, mas cometi meus erros e preciso arcar com as consequências. Tenho pedido a Deus auxílio. Sei que vai mandar ajuda. — Ela o olhou e apertou os lábios. — Não posso murmurar acerca da colheita dos meus próprios pecados.

Antony ficou pensativo acerca daquilo. Paulina demonstrava uma diferença de atitude que nunca encontrou em nenhuma outra mulher. Ela não buscava culpar outros, mas, sim, ser corajosa o suficiente para lidar com os problemas. Ele falaria mais, contudo, os acionistas começaram a chegar e a conversa seria deixada para depois. Ela se afastou para receber os participantes da reunião.

— Vejam quem está aqui? O Casablanca melhorou — Juan declarou. O homem havia passado uma temporada fora, pois alegou que não ficaria estático enquanto Béni não produzia nada. — Espero sinceramente que essa reunião seja útil e me diga que minha nova coleção poderá ser feita. Todos estão me cobrando. Meu talento não pode ser desperdiçado — murmurou sua condição, como se fosse a pior coisa do mundo, e se sentou.

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