EPÍLOGO

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3 anos depois...

— Ah, misericórdia! — Maria exclamou cansada, quando viu Joaquim e Rute fazendo a festa com os livros que eles tiraram das prateleiras. — Meus filhos, por que vocês fazem isso, hein? Ah!

"Oh, Jesus! Filhos gêmeos. Isso foi uma ótima ideia, com toda certeza! Assim eu surto e morro mais rápido de um infarto" Maria orou nos pensamentos e deu um sorriso fraco em seguida.

Joaquim e Rute tinham 1 ano e 3 meses de idade. Quando Miguel e Maria souberam sobre a chegada dos gêmeos, a alegria e o susto foram dois sentimentos constantes. A vida virou de cabeça para baixo, mas eles tentaram e ainda tentavam ajustar a vida.

Maria tentou tirar os filhos do meio dos livros todos revirados para cima, colocando-os mais perto do sofá, porém, depois de uns minutos ouviu um barulho forte no chão. Ela se virou e quase teve um treco ao ver que o telefone sem fio se despedaçou no chão.

— Joaquim! — Sem segurar, acabou dando um grito. O filho havia dado seus pequenos passos até a mesinha ao lado do sofá, balançado-a até o aparelho de telefone cair. Aquelas mãozinhas não paravam quietas. — Ai, meu Deus! Eu vou ter um treco! Eu vou ter sim!

— O que aconteceu aqui? — Miguel abriu a porta da sala e avistou toda aquela bagunça. Ele havia acabado de chegar do trabalho. O dia tinha sido um terror de reuniões.

— Ah! Eu não aguento mais isso! — Maria desabou no sofá. — Eu sou uma péssima mãe. As crianças derrubam e quebram as coisas e minha paciência vai para o ralo.

Miguel tirou o terno e a gravata, deixou suas coisas de trabalho em cima de um aparador e seguiu para ver mais de perto toda aquela bagunça. Parecia que havia passado um vendaval pela sala.

— Nossa! — Foi tudo que conseguiu expressar ao ver tudo aquilo.

A verdade é que desejava chegar em casa depois daquele longo dia e só comer e dormir. Estava exausto. No entanto, parecia que as lutas continuavam assim que regressava ao lar.

— Pela manhã, eu fui a cozinha rapidinho e quando voltei a Rute derrubou todas as coisas da mesinha de centro. Na hora do almoço, os dois bonitinhos fizeram uma meleca sem fim, agora vim vê-los e veja a situação dos livros e, por fim, ainda quebraram o telefone. E o mais difícil é que eles não dormem de tarde. Não conseguem. Eu tento e tento, mas não vai. Eu não sei mais o que fazer  — Maria soltou o ar e passou a mão entre os cabelos, demonstrando sua exaustão mais emocional do que física.

Miguel analisou bem a situação e perguntou:

— Eles já jantaram?

Maria assentiu.

— Vem aqui com o papai — ele falou pegando Joaquim no colo, o impedindo de se aproximar novamente dos livros, coisa que suas mãozinhas ágeis já estavam afoitas para fazer. — Quer dizer que você está fazendo sua mãe perder a cabeça, menino? — Joaquim sorriu para o pai e fez uma gracinha com ele. — Vamos tomar um banho?

Ele seguiu com o rapazinho para o banheiro, aqueceu a água e começou a limpar Joaquim que brincava naquele momento. Maria veio atrás e trouxe Rute que estava toda suja também, com a poeira dos livros. Miguel pegou a pequena, deu um beijo e continuou o banho dos dois. Após isso, ambos colocaram as fraldas e vestiram os pijamas pondo os gêmeos na cama. Miguel se virou para Maria e disse:

— Vai pra sala descansar. Eu fico com eles até dormirem.

— Tudo bem! — Ela deu um beijinho em cada filho e se retirou.

Miguel continuou ali e contou uma história para os pequenos, que não demoraram muito para pegar no sono. Ele orou pelos filhos e se retirou do quarto. Chegou na sala e viu que os livros já estavam organizados e tinha um prato de comida posto no balcão da cozinha. Maria terminava o suco quando ele se sentou e começou a comer.

— Obrigada por me ajudar. Eu não estava nada bem com todo esse estresse — ela declarou, se aproximando e colocando o copo de suco à frente dele. — Às vezes sinto que sou um fracasso — Maria se sentou ao lado do marido e respirou fundo, olhando para suas mãos vazias.

Miguel a olhou com alguns fios de cabelo fora do lugar, o rosto cansado e a rosácea de sempre atacada, ainda mais pelo estresse que estava quando chegou. Apesar da rotina, ainda eram Maria e Miguel, um casal totalmente improvável que mostrou a todos que o Amor de Cristo é único, porém é ofertado para pessoas totalmente diferentes. Ele tocou nas mãos dela e ajeitou alguns fios do seu cabelo atrás da orelha, olhando o rosto que acharia belo até seu último suspiro.

— Você não é um fracasso. Não mesmo. Está aprendendo e eu também. E nesse percusso nós vamos errando e acertando, isso faz parte da vida. — Ele sorriu, deu um beijo na pálida mão de sua companheira e voltou a comer.

Maria era muito grata por tê-lo como esposo. Miguel parecia lidar melhor que ela com situações de estresse, apesar de estar muito cansado, ainda conseguia servir sua casa.

— Como foi o trabalho?

— Cheio de reuniões, mas as coisas estão indo bem. Porém, é possível que as coisas pesem mais já que o Anthony vai sair de licença paternidade.

— Pois é! Quem diria que depois de um ano do nosso casamento ele e Paulina se casariam e agora ambos terão um filho. Paulinho não se aguenta de tanta ansiedade — Maria disse, ainda sentindo a surpresa de ver aquele casal funcionar. — Bom, se você quiser eu posso ajudar. Afinal, já fui sua assistente, não é? — Deu um sorrisinho charmoso.

— Não quero te ocupar mais do que já está. — Ele terminou a refeição e empurrou o prato. — As crianças não estão sendo fáceis.

— Não mesmo, mas acho que é uma boa para ocupar a cabeça com outras coisas. E eu gosto de cálculo, você sabe bem disso. — Maria retirou o prato e o copo, os colocando na pia. — Agora que a Béni e a Trésor estão juntas o trabalho é em dobro.

Miguel não podia discordar. Apesar de ter Bento junto dele no serviço com a Trésor, as coisas ainda eram bem puxadas.

— É, talvez eu precise da minha assistente de volta. Só o pagamento que vamos ter que rever — Miguel falou olhando com graça para a esposa.

— Ah! Uns beijinhos aqui e acolá, eu já me sinto satisfeita — Maria tirou uma brincadeira e fez o marido segurá-la pela cintura, a trazendo para seu colo e beijando-a em seguida.

— Ainda que essa casa esteja um caos quando eu chego, ter você assim no final do dia é o melhor para mim, independente de qualquer coisa — ele expressou, encostando a testa na dela e Maria o beijou novamente.

Eles foram até a sala e se sentaram, procurando assistir alguma coisa juntos, dado que sempre procuravam um modo de nunca perderem o contato um com o outro.

— Sabe, a vida sempre vai ser desgastante, não é? Dias de luta e dias de glória. Não tem pra onde fugir. —  Maria disse enquanto o marido procurava um filme na TV.

— É, o importante é viver isso dando graças. Senão, a murmuração nos engole e a vida fica mais difícil.

— Ainda bem que temos as pequenas pausas de descanso que fortalece nosso ânimo — Maria sorriu.

— É, ou...

"Heeeeeeeeh!"

Lá estava um dos gêmeos chorando novamente. Miguel e Maria se olharam, percebendo que o "descanso" tinha ido embora e precisavam logo socorrer o que chorava ou acordaria o outro.

— Vamos deixar o descanso total só para a eternidade mesmo. — Miguel riu e se levantou. — A luta é todo dia até a glória! Até lá, todos os dias é Tudo Outra Vez.

FIM

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora