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Maria não acreditava que havia se perdido. Ela só tinha ido tomar um sorvete, depois viu um edifício perto em que estava acontecendo uma exposição de artes e foi conferir, só que acabou saindo pela parte de trás do prédio e já não sabia onde estava. Então ela caminhou procurando voltar a praça do sorvete, contudo, seus pés nervosos a levaram por outro rumo. Seu coração estava a ponto de parar e as mãos tremiam violentamente. Ela só conseguia ouvir os sons dos carros, aquela multidão de gente andando pra lá e para cá, tudo parecia que ia a sufocando, deixando-a sem ar.

— Meu pai eterno, me ajuda!

"Ainda bem que eu vou morar no céu! Ainda bem que eu vou morar com Deus!"

Essa era a música do toque do celular de Maria que começou a tocar no seu momento de desespero, levando-a até a dar um pulo de nervoso. "Será que ela ia morrer e iria para o céu? Seria a música um sinal do seu fim?" Balançando a cabeça para afastar aqueles pensamentos ruins, respirou fundo e resolveu atender e, para a sua alegria imensa, era a voz de Miguel perguntando desesperadamente onde ela estava.

— Eu não sei, seu Miguel. Estou tentando me achar e dar algum ponto de referência, mas não tô conseguindo... — a voz de Maria começou a embargar e a ligação caiu.

Miguel, do outro lado da linha, imaginava em abundância os inúmeros desastres possíveis que poderia ocorrer com sua assistente. Pai do céu! Ele não sabia muito bem o porquê, mas o forte instinto protetor em relação a Maria ganhava vida em seu peito. Era assustador reconhecer a dor provocada pelo simples pensamento de tê-la em perigo e perdida, e mais espantosa era sua determinação de colocar um ponto final naquela angústia.

Ele atravessou aquela avenida correndo, deixando o corretor para trás, e saiu pedindo informações, seguindo para aquela galeria de artes e saindo pelo outro lado. Ligou novamente para sua assistente, pedindo para que ela se mantivesse calma e explicasse exatamente onde ela estava, finalmente, Maria deu uma boa explicação, fazendo-o seguir pela direção correta. Depois de andar quase meio quilômetro, Miguel encontrou sua assistente sentada na calçada à frente de uma cafeteria.

— Maria! — Ele gritou enquanto se aproximava, levando a menina se erguer rapidamente.

Maria imaginava que levaria uma imensa bronca do chefe, o que não seria errado pela preocupação que ela causou, mas o contrário aconteceu, ele ofegante segurou no braço dela e a puxou em um abraço com força, como se isso a impedisse de sumir da frente dele novamente. Foi uma sensação totalmente nova experimentada por Miguel, não era um sentimento protetor como tinha pela sua irmã ou alguém de sua família, era diferente, mais sofrido e doloroso. Ele nunca tinha se exposto daquela forma num momento de aparente desespero, mas o sentimento que experimentou era como se algo tivesse sendo arrancado dele próprio, causando profunda dor. Era como se não pudesse perdê-la, de jeito nenhum.

Maria se encolheu em meio ao amparo forte do chefe, o que obviamente a surpreendeu. Ela não pôde deixar de achar estranho aquela reação de seu superior, como poderia demonstrar tanto sofrimento por causa de sua vida? Ela só era uma assistente, que hoje está ali mas amanhã pode ser trocada. Porém, agradeceu a Deus pelo empenho de Miguel ao encontrá-la.

— Desculpa por causar tudo isso, seu Miguel — ela falou, e ele finalmente se afastou.

— Você está bem? Se machucou com algo? — ele perguntava, olhando-a de cima abaixo para checar algum possível ferimento.

— Não, não. Só o nervosismo mesmo de ter me perdido. — Ela sorriu com leveza.

— Como você fez isso?

Maria apertou os lábios e procurou se explicar, contando ao chefe seus passos até então.

— Graças ao bom Deus nada de terrível aconteceu!

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