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Maria se encontrava deitada em sua cama, com as mãos sobre a barriga e olhando para o teto. Seus pensamentos discorriam sobre a noite anterior, sendo bem sincera consigo mesma, ela não lembrava de mais nada depois que desmaiou, apenas recordava de ter aberto os olhos dentro de uma sala pequena, porém, com o som da música alta, sabia que ainda estava no local do desfile. Marta, Magnolia, Paulina e Aretha olhavam para ela e perguntavam se estava bem, enquanto ela tentava se restabelecer. Uma enfermeira, da Béni, foi examiná-la rapidamente lhe aferindo a pressão e constando que a mesma realmente havia baixado. Depois de uma leve melhora Marta e Magnolia lhe deixaram em casa, contando aos pais todo o ocorrido. A cabeça ainda doía e o corpo estava fraco, mas depois de ter sido cuidada por sua mãe e tido uma boa noite de sono acordou melhor. E soube, de manhã bem cedo, que Miguel havia lhe dado aquele dia de folga e, por conta disso, se preocupou.

— Ele deve estar me odiando por ter estragado o desfile da empresa! — Ela colocou a mão sobre os olhos e chorou. — Eu realmente sou uma vergonha!

Ela virou-se para o lado e se permitiu chorar mais, principalmente, ao se lembrar das matérias onlines que saíram sobre o desfile, e com também fotos suas espalhadas, carregando temas como:

"MULHER DESCONHECIDA CAI SOBRE A PASSARELA". (Revista Virtual)

"A ASSISTENTE DO PRESIDENTE DA BÉNI DESMAIA NA PASSARELA". (Blog de moda)

Nem podia se lembrar dos vastos comentários que falavam:

"Nossa! Como alguém pode ser tão feia assim?".

"Será que o presidente dessa empresa é cego para contratar alguém com essa aparência?".

"Como uma empresa de moda pode permitir que uma funcionária se vista assim?"

"Tão horripilante que faz meus olhos arderem!".

"Que cabelo é esse? Não há um pente em casa?"

E tantos outros comentários que lhe cortavam o espírito. Ela era realmente uma vergonha para a empresa, Miguel e para si mesma. Tinha certeza que o seu chefe lhe deu aquele dia de folga só para ela não levar a pancada de saber que seria demitida tão de cara. Miguel, como sempre íntegro, teve piedade da condição dela, mas logo prestaria conta sobre aquele ato horrível de aparecer diante das câmeras. Pior que a explicação, de que se perdeu, não seria forte o suficiente para lhe justificar diante dele.

"Ah, meu Deus! Logo quando tudo ia bem. O Senhor me dá esperança, depois tira tudo, e logo de uma forma tão humilhante". Ela reclamou com Deus e colocou o lençol sobre o seu rosto para esconder suas frustrações.

Não demorou muito e ouviu umas batidas em sua portas, mas nem precisou dá ordem para entrar, pois o "intruso" já estava lá dentro, tirando o lençol de sua cara.

— Oi, Bento —  ela disse com os olhos vermelhos.

— Queria saber como vc está —  ele se sentou na beira da cama e olhou firmemente para ela.

Maria tomou a coragem para se sentar e contar para ele tudo que havia ocorrido. A parte do mico, ele já sabia pois tinha lido na internet.

— Eu vou ser demitida e nunca mais ganharei um emprego. —  Ela afundou o rosto sobre as mãos.

— Você não deve tirar tantas conclusões antes do tempo. Seu chefe disse que ia te demitir? —  Ele ergueu a sobrancelha.

— Não, mas com certeza é o que vai fazer. Quem é que vai querer ter uma funcionária que é uma vergonha para a empresa? —  Ela soltou o ar triste. —  Nem seu Miguel tem tanta compaixão assim.

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