39

904 126 111
                                    

Muitos dias se passaram e a produção da nova coleção estava a todo vapor. Um pequeno desfile seria feito para alguns compradores que Aretha e Paulina conseguiram contatar, vendendo muito marketing sobre essa nova empresa desconhecida, Trésor. Maria e Bento haviam se entendido muito bem depois de todo o conflito anterior. Ele a explicou que não a contou sobre seus planos antes, pois dessa vez precisava tomar um outro rumo e fez isso na confiança do Senhor. Ela aceitou toda a situação e, de verdade, se sentiu feliz por ele e Liz. Mas não podia negar como a mudança na relação, de não ter ser amigo tão mais para si, lhe chocou por uns bons dias. Porém, como disse sua mãe: "a vida é feita de estações e precisamos estar sempre preparados para as mudanças". Era uma nova fase que ela precisava se acostumar e estava caminhando nisso.

E nesse percurso da vida, não podia negar o quanto depois daquela dança, se aproximou do chefe. Maria ainda podia sentir as borboletas dançando em seu estômago naquela noite. O toque das mãos de ambos e o som do compasso do coração de Miguel ainda eram tão reais. Depois disso as conversas diárias na Béni se tornaram mais frequentes e também sentia a diferença no olhar dele para ela, fazendo-a estremecer. Ela sabia que não tinha mais o mesmo sentimento em relação ao chefe e isso despedaçava seu coração por completo. Ao mesmo tempo que desejava partilhar de mais momentos com ele também ansiava por sumir e nunca mais vê-lo. Aquele conflito a consumia dia e noite.

— Não vai sair esta noite? — Bete perguntou por ver a filha jogada no sofá num sábado a noite.

— Eu não tenho para onde ir. — Maria fez uma expressão tristonha. — Bento agora tem uma namorada e eu já não sou mais importante na vida dele. Fazer o quê, não é?

— O Bento pode ter novas prioridades, mas isso não quer dizer que vai parar sua vida. Você sabia que isso aconteceria cedo ou tarde. Pode muito bem sair e ir tomar um sorvete na pracinha e ver se encontra alguém conhecido. — A mãe tentou ser otimista. — Vamos, levante-se! Vou chamar o Joaquim e vocês vão aproveitar um pouco o ar fresco da noite.

Maria, a contragosto, acatou a ordem da mãe. Estava cansada e desejava apenas ficar deitada assistindo seu filme preferido: Homem-Aranha. Mas a euforia de Joaquim a fez entender que seus planos não se concretizariam mesmo. O garoto pegou um casaco e foi com a irmã para a pracinha que ficava uns quarteirões longe de casa.

— Finalmente eu posso andar com minha irmã. As vezes nem parece que tenho uma — disse o menino para Maria.

— Ah! Não sabia que eu fazia falta pra você. — Ela bagunçou o cabelo dele, deixando-o irritado de propósito.

— Ei, eu demorei um tempo para fazer meu topete. Não ouse bagunçá-lo — declarou o menino, enquanto passava a mão pelo cabelo procurando arrumar o penteado. — Eu tenho uma reputação a zelar.

— Você deveria se preocupar mais com o seu coração diante de Deus do que com sua reputação diante dos homens.  — Maria se preocupava com o egocêntrismo demonstrado pelo irmão muitas vezes.

Joaquim crispou os olhos para ela, e Maria continuou:

— A reputação passa, mas o que somos diante do Senhor não. Sei que você é muito preocupado com essas coisas de querer ser o melhor em tudo e ama elogios, porém, isso nos cega e faz a gente se tornar uma pessoa horrível por dentro e por fora. Não quero que fique assim, Joaquim. Se isso acontecer eu mesma puxarei suas orelhas. — Ela deu um leve puxão na orelha do irmão, que reclamou passando a mão no pequeno membro machucado. — Está me entendendo bem?

Ele só assentiu.

— Ótimo! Agora pode ir brincar.

A fala de Maria tomou tanto a atenção do menino, pois nem havia se dado conta de como já tinham chegado a pracinha, que compartilhava de um parquinho, barraca de vendas e muitos bancos para se sentar, sendo um desses usado por ela. Enquanto avistava o irmão se aventurar com uma turma, notava também o vai e vem das pessoas e muitos olhares de desdém para ela, com certeza por causa de sua aparência. Ela apertou mais ainda o cardigã no corpo, como se assim pudesse se proteger dos outros. Naquele momento também se lembrou de quando era criança e seus pais a levavam ali e ninguém queria brincar com ela, pois muitos falavam:

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora