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O expediente de trabalho havia se encerrado a duas horas atrás, mas Maria e Miguel trabalhavam sem parar para a conclusão dos resumos financeiros. Realmente, quatro mãos trabalhando serviu para acelerar o processo, porém a exaustão já tomava conta de Maria, suas costas doíam, a vista começava a arder e a cabeça a pesar. Ela largou a tela do computador e se jogou no encosto da cadeira, descansando o corpo sem nenhuma intenção de aparentar ser uma mulher muito educada. Miguel acabou olhando para sua assistente estirada na cadeira, como um pano de chão velho, e riu daquela espontaneidade. Ele gostava que Maria não tentava impressioná-lo, mas acabava impressionando.

— Está cansada, não é? — ele perguntou, se permitindo ficar um pouco solto também no assento.

— E com fome! — Maria soltou a graça sem vergonha e deu uma risada.

Miguel riu também.

— Essa empresa fica tão estranha sem aquele formigueiro de gente pra lá e pra cá. Só estamos nós, o pessoal da limpeza e da segurança.

— Pois é! A qualquer minuto eles entram aqui e nos expulsam para fazerem seu serviço. — Miguel brincou. — Mas antes disso, vou pedir comida para nós — ele pegou o telefone. — Você quer comer o quê? Cheese burger? — Ele recordou do que ela quis comer no dia anterior "com o melhor amigo".

— Não, não. Esse só como quando estou triste — Maria deu um sorriso maroto.

— Você tem tipos de comida para os dias tristes? — ele indagou, achando aquilo muito curioso.

— E para os dias felizes também! — ela exclamou e Miguel foi surpreendido, pensava que só era uma graça de sua assistente, mas percebeu que não. Ela continuou: — Nesses dias eu gosto de fazer meus cupcakes. É a coisa mais maravilhosa deste mundo!

Ela deixou a mente vagar e fez um rostinho de apaixonada enquanto lembrava dos seus doces. Miguel apreciou aqueles olhinhos brilhantes, por trás dos óculos, de Maria. Era bonito ver como ela via beleza em coisas tão comuns e realmente ficava feliz com isso.

— O senhor tem alguma comida para os dias felizes?

Miguel arregalou um pouco os olhos para aquela pergunta, na verdade, ele nunca parou para pensar sobre isso.

— Acho que não tenho — ele declarou com um sorriso contido.

— Ah! Qualquer dia o senhor descobre! — Ela sorriu.

Miguel acabou pedindo dois sanduíches de frango, batata frita e refrigerante para os dois. Assim que o alimento chegou, ambos largaram aquele trabalho e se debruçaram para apreciarem aquela alimentação não muito saudável, mas que com certeza fazia todo mundo feliz.

— Sabe, eu vejo a bondade de Deus nisso — Maria declarou enquanto abocanhava um pedação do seu sanduíche.

— Nisso o quê? — Miguel indagou.

— Em dar talentos para as pessoas fazerem essas misturas — levantou o sanduíche —, de modo que se encaixe os alimentos e fique muito bom!

Ver Deus num sanduíche era algo sinceramente inacreditável para Miguel, mas a verdade é que um coração cristão de verdade enxerga o Senhor em cada canto.

— Maria, você já nasceu na igreja? — ele quis saber um pouco mais sobre sua funcionária.

— Sim — respondeu com a boca um pouco cheia. — Cresci num lar cristão e fui ensinada desde criança com as sagradas escrituras, e meu irmão também.

Ele balançou a cabeça pensativo.

— E o senhor?

Miguel permaneceu um pouco calado até que resolveu declarar como foi sua conversão.

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora