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"Jesus de misericórdia, tenha piedade do povo desta empresa porque entregamos nossas almas a ti, pois o corpo vai ser entregue as traças!".

Maria orava em seus pensamentos enquanto visualizava bem as expressões atordoadas de Miguel e Anthony. O chefe, no primeiro momento, ficou paralisado ao descobrir do roubo, e Anthony andava tanto de um lado para o outro que o chão uma hora iria se abrir pelo desgaste.

O rombo nos cofres da empresa estava gigante com aquele depósito à vista. Miguel tentou respirar fundo e pensar nas opções que teria para reverter aquela situação. Uma delas era, com certeza, comunicar o advogado da Béni para ver os meios jurídicos a serem tomados, de alguma maneira eles precisavam recuperar o dinheiro.

Anthony não sabia direito no que pensar e nem o que fazer. Ele estava abalado e se sentindo um fracassado, não que ele fosse expressar isso para Maria e Miguel ali naquela sala, por isso resolveu se retirar, deixando os dois para trás, completamente imerso em sua autopiedade.

Miguel não tinha o que falar para Anthony, na verdade, não sabia se sentia raiva ou misericórdia por seus atos empolgados, mas uma certeza ele tinha: Ele aprovou o depósito, então ia arcar com as consequências de sua escolha. Miguel olhou para Maria, e ela logo notou um brilho tempestuoso que passava no olhar do chefe, a fazendo sentir compaixão por ele.

— Seu Miguel, nós conseguiremos vencer isso.

Ela sabia que o dinheiro usado para o depósito era uma grande quantidade do lucro líquido da empresa, sendo assim, abalaria e muito no orçamento utilizado para os pagamentos da folha dos funcionários, os bancários, os de compra de produtos e tantas outras coisas indispensáveis.

— Maria, fecharemos essa empresa no vermelho este mês. Como teremos dinheiro para comprar os reais tecidos e todo acessório necessário para a produção da nova coleção? E assim repor o dinheiro? — Ele passou a mão pelos seus cabelos negros e fartos em um suspiro profundo.

Estava perdido!

— Nunca, em toda minha vida, isso aconteceu! — Ele estava com a voz nervosa.

Maria tinha consciência de tudo aquilo e, infelizmente, não tinha como dar uma ideia razoável para reverter aquela situação. Ela abaixou a cabeça entristecida.

"Oh, Senhor, por que permitiu que o seu Miguel sofresse um roubo desse?" Seu coração se ressentiu com Deus naquele momento.

Enquanto Maria se contundia com o Criador, Miguel se aborreceu consigo mesmo. E sem perceber, expressou:

— A culpa foi minha, o Senhor nos dá capacidade e conhecimento para gerir as coisas mas não impede que sejamos enganados pelos nossos próprios atos. — Suspirou cabisbaixo, principalmente, porque reconhecia sua falha em não ter orado devidamente e pedido discernimento de Deus em relação àquela decisão. — Mas, mesmo sem merecer, peço misericórdia!

Maria ouviu aquela conversa de Miguel com Deus e, instantâneamente, sentiu-se mal por culpá-lo. Que culpa Deus tem das nossas más escolhas? Precisava saber que Ele deixa os filhos dos homens colher as consequências de suas ações, porém, sabia que a Vontade de Deus seria sempre feita para o nosso bem.
Maria, entristecida, pediu perdão ao Senhor no mesmo instante por ser tão infiel. Mas isso só a fez admirar ainda mais seu chefe por saber reconhecer seus erros e voltar-se a Cristo com humildade.

— Maria, quero que você pegue o endereço dado pela empresa fantasma e pesquise na internet para ver o que aparece sobre eles. — Miguel a pegou de surpresa com sua fala repentina e logo estendendo para ela o documento da tal empresa, o que Anthony tinha o dado para ver a proposta no dia anterior, e, sem demora, ela seguiu para fazer seu serviço.

Acerca de uma hora depois, ela voltou com as devidas informações.

— Eu descobri que o endereço mostra um prédio muito bem localizado no Rio de Janeiro.

— Só isso? — Miguel a olhou de soslaio.

— Tem essa foto aqui — Maria estendeu para ele o papel que havia impresso com a imagem de um edifício moderno.

O chefe analisou bem aquela foto. Então, pelo telefone, chamou Anthony, que não demorou em comparecer.

— Esse é o edifício da tal empresa? — Miguel indagou estendendo a imagem até Anthony.

— É sim! Ele, pela câmera do telefone, me mostrou um pouco da empresa. Incrível como estava tudo na mais perfeita ordem. Nunca que eu desconfiaria que era uma armação. — Anthony cerrou os punhos pensando sobre como tinha sido um idiota para cair num golpe daquele.

Miguel balançou a cabeça.

O presidente da Béni não era um homem dado a agir por impulso, principalmente, em questões sobre negócios a serem fechados com outras empresas, na verdade era sempre muito cauteloso, mas ele quis dar um voto de confiança a profissionalidade do "amigo". Naquele momento, nem tinha chance de se arrepender do seu erro, o jeito era enfrentar de frente. Ele dispensou tanto Maria quanto Anthony para suas salas, querendo pensar sozinho e fazer algumas ligações.

Uma hora depois, ele chamou sua assistente. Ela logo foi ao seu encontro.

— Maria, prepare as malas esta noite que amanhã iremos ao Rio de Janeiro.

O queixo de Maria foi ao chão. Como assim iria viajar?

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