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Naquela manhã, ela acordou antes do despertador, pra bem dizer a verdade, ela mal dormiu a noite inteira, tamanha era a ansiedade. Se ergueu pronta para um dia de vitória! Vestiu seu melhor vestido: um floral de manga comprida, calçou o sapato de padre e pegou a bolsa, saiu do quarto arrumando os óculos na cara.

— Estou tão feliz que você vai começar a trabalhar — disse a mãe, vindo ao encontro da filha e a abraçando com força, na verdade, quase a esmagando.

— Bom, ainda não é algo concreto — pensou que tinha que está lá às 7h para que tudo desse certo —, mas é uma porta aberta.

— Venha comer logo e assim não perderá o ônibus — a mãe declarou e logo a serviu com torrada, requeijão e um chocolate quente.

Maria podia admitir que tinha a melhor mãe do mundo!

— Agora vá, vá..  — Dona Bete começou a m "expulsá-la" de casa assim que terminou de comer.

— Já vou... — Maria foi a pia lavar a boca, pegou novamente a bolsa e saltou porta fora.

Ao sentir o vento suave daquela manhã, ela inalou fundo e se deixou ser inundada pela boa sorte daquele dia fresquinho.

"Tudo vai dá certo!" disse pra si mesma e partiu para a parada do ônibus.

Maria leu atentamente o nome na placa de ferro e comparou mais uma vez com o nome escrito no cartão

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Maria leu atentamente o nome na placa de ferro e comparou mais uma vez com o nome escrito no cartão. Ao entrar, reparou que o ambiente possuía uma recepção climatizada, com paredes pintadas de cores pastéis e assentos de couro branco ficavam dispostos ao centro. Havia também belos jarros de flores nos cantos das paredes e um largo espelho a direita, proporcionando uma ilusão de maior dimensão.

Os olhos da recepcionista e, de algumas das muitas pessoas espalhadas por aquela sala, repousaram sobre ela e, de certa maneira, se intimidou um pouco. Mas tomou coragem e chegou mais perto para falar:

— Eu vim para uma vaga de emprego. — As palavras dela soaram para a recepcionista, de cabelos loiros e boca vermelha de batom, como se fosse uma grande piada. Maria percebeu o deboche na risada da funcionária.

— Desculpe, querida, mas não temos vagas de emprego disponíveis — ela falou usando aquele mesmo timbre de voz que todas as outras usavam.

— Mas, ele disse para eu vim. — Maria contraiu o cenho.

— Ele quem? — a recepcionista perguntou.

— Bem é... — Olhou no cartão e não havia nenhum nome, somente o endereço do lugar. Droga! — Ele tem cabelo preto e liso.

A funcionária a olhou como se ela tivesse dito uma grande asneira. Talvez tenha dito mesmo, pois qualquer homem pode ter cabelo preto e liso. Maria bateu na própria testa! Como ela pudia ser tão burra a ponto de não perguntar o nome dele? Além de ser feia ainda ser idiota? Aí é pra acabar de vez.

— Moça, agora eu preciso atender outras pessoas — a loira informou, fazendo um movimento com as mãos para Maria se afastar do balcão.

Ela virou-se e todo mundo a olhava com o mesmo olhar que dizia sempre: como alguém pode ser assim? Por que essa menina não se cuida? Que coisa mais horrenda! Elas se afastavam como se feiúra pegasse. Na verdade, se boa parte da alma desse povo fosse mostrada, eles sairiam correndo eram de si mesmos.

Ela estava já prestes a virar a fechadura para sair quando uma pessoa entrou pela porta como se fosse um vulcão. Era um homem vestido de forma bem elegante e...

— Aí, meu Deus, o que é isso?!

Ele interrompeu os pensamentos de Maria quando deu grito quase na frequência de um "Lá" perfeito. Ele olhava na direção dela, então a mesma virou a cara para fora, procurando o que poderia ter ocasionado aquele surto repentino... Até que percebeu que era ela o motivo daquela exclamação.

— Meu pai! O seu vestido parece ter sido costurado com os retalhos das minhas costureiras — ele declarou, apontando para as roupas de Maria. 

Ela fitou rapidamente para as suas vestimentas diante daquele comentário.

— Então ele deve ser muito bonito, já que os tecidos desta empresa são de boa qualidade. Até os retalhos fazem obras primas — ela respondeu, com ousadia e um sorriso cínico no rosto.

Ele estreitou os olhos e empinou ainda mais aquele nariz.

— Bom, agora eu vou embora. — Maria fez um aceno de cabeça para todas as pessoas da sala e virou-se, mas, de repente, bateu de frente com um corpo forte e sólido.

Ela se afastou pra ver quem era o muro no qual havia tombado e, para sua grande surpresa, era o homem que lhe ofereceu a oferta de trabalho.

— Você veio — ele falou e esboçou um sorriso.

— Sim, eu vim. Mas sua recepcionista disse que não tinha vaga de emprego, então acho que já vou. — Ela deu um sorriso seco e foi ágil em abrir a porta atrás dele.

Ele rapidamente segurou seu braço e declarou:

— Quem te ofereceu o emprego foi e não a recepcionista — ele disse num tom alto suficiente para todos ouvirem, principalmente, a mulher loira atrás do balcão que logo abaixou a cabeça. — Agora venha comigo que eu vou mostrar seu posto.

— O quê? — O tal zombador da Maria começou um novo piti. — Trabalho? Essa... Essa... Essa menina — enfim, achou a voz  e uma palavra que não ofendesse, só pra variar —, ela vai trabalhar aqui?

— Vai, por quê? — indagou o homem que queria contratar Maria.

— Miguel, mas você não pode fazer isso! — o homem disse batendo o pé, parecendo menino birrento. Mas, no meio daquilo, ela descobriu o nome do seu "talvez patrão".

— E o que me impede de contratá-la, Juan? — Miguel cruzou os braços e o fitou. Maria e todas as outras pessoas assistiam aquela cena que parecia uma guerra fria sendo travada.

— O juízo? O bom senso? Um olhar apurado? — O tal Juan respondeu, com o olhar semicerrado para Maria.

— Uma boa jogada. Mas já falei que devemos olhar além do quesito físico. Além do mais, ela aqui vai fazer uma experiência e avaliarei o seu desempenho.

— Oh, God! — Juan botou a mão na testa, fingindo que iria desmaiar diante de todos.

— Bom, se é só isso, então vamos. — Ele olhou para sua quase recém-contratada e começou a andar e, em silêncio, ela o seguiu.

Assim que passaram da recepção, uma empresa muito bonita se descortinou diante dos olhos de Maria. Nossa! Ela nunca imaginou — nem nos seus mais loucos sonhos — que um dia trabalharia numa empresa de moda. Ela olhou para o teto e disse em pensamentos: "Senhor amado, eu te peço um emprego simples e Tu vem com um no ramo da moda. Logo pra mim? As vezes acho que faço orações contrárias". Maria riu pra si mesma. "Mas vamos lá!".

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