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O final de semana foi muito significativo para Maria. Sua chegada repentina na fazenda deveria ter sido um motivo de briga, da parte de Miguel, mas se tornou numa oportunidade em que os dois puderam se conhecer um pouco mais, porém, como nem tudo são flores, a segunda-feira já chamava e Maria corria para o trabalho. Béni estava cheia e a euforia de todos os dias estava a mil por hora.

— Maria, preciso falar com você! — Marina proclamou assim que a assistente da presidência colocou os dedos dos pés na recepção da empresa.

— O que houve? — Maria perguntou com os ombros murchos.

— O que houve pergunto eu! Eu lhe dei uma missão na sexta-feira e você sumiu! Como pode ser tão irresponsável? — Marina se desbaratou a falar raivoso, de modo a realmente constranger Maria, que começava a ficar vermelha e as mãos trêmulas pelo nervosismo, e o pior, ela fazia isso em público. Os demais funcionários acabaram parando para ver a discussão. — Você se coloca numa pose tão responsável e quando queremos comprovar isso, simplesmente, não acontece. Se não consegue levar um simples documento para ser assinado, o que eu posso esperar de você? — Aquele insulto tinha chegado a conta de Maria.

Ficou um silêncio ensurdecedor no local e todo mundo só olhava um para o outro.

— Não pode esperar nada porque ela não é sua secretária! — De repente a voz grave e, inconfundível, de Miguel ecoou no ambiente, e os funcionários ao redor não conseguiram disfarçar o espanto.

Miguel havia escutado o insulto assim que a porta do elevador em que ele estava se abriu. Ele estava farto daqueles maus-tratos de Marina com sua funcionária. Não podia aguentar alguém ser humilhado e não fazer nada. Se aproximou mais de Marina e disse:

— Vamos até meu escritório, agora! — Não disse mais nada e foi na frente.

Com a sua pose imponente, Marina o acompanhou. Maria, ainda em choque pela agressividade da mulher, foi auxiliada por Paulina e Aretha que ouviram tudo e estavam mais perto.

— Nossa! O que foi isso? — Paulina perguntou ainda surpreendida com aquele excesso de raiva de Marina.

— Por todos os anos que trabalho com ela, nunca a vi tão vermelha — Aretha alegou de braços cruzados e com uma expressão de incredulidade no rosto.

Maria não disse nada para as duas, apenas abaixou a cabeça e pediu pela misericórdia de Deus. Não sabia o real motivo por aquela mulher a odiar tanto! Paulina lhe entregou um copo de água, e Aretha colocou um sachê de hortelã no líquido gelado para ajudar no alívio da tensão de sua colega.

Com o tempo, Marina saiu da sala de Miguel com fogo nos olhos e quando mirou Maria queria fuminá-la ali mesmo, tamanho era o ódio que sentia por aquela assistente de quinta categoria, segundo seu próprio parecer. Odiava Maria! Odiava com todas as forças! Bateu os pés no chão e partiu, soltando fogo pelas ventas, para sua sala.

Maria estremeceu diante do olhar mortal de Marina. O que será que o Sr. Miguel havia dito? Ela não queria admitir mas tinha medo. Ela fitou o teto branco, cruzou as mãos, que estava rentes ao corpo, e disse:

"Senhor, que minha morte seja rápida e sem muita dor. É só o que te peço."

— Maria, seu chefe te chama — a voz de Paulina a trouxe para a terra.

Ela viu quando Miguel estava entrando novamente na sala. Maria respirou fundo e seguiu. Ela chegou na presidência meia cabisbaixa e sem muita certeza do que viria pela frente.

— Maria, você está bem? — Aquela pergunta lhe pegou um pouco de surpresa.

— Ah... É... Bom — respirou fundo, precisava parar de gaguejar —, estou sim. Ao menos, eu acho.

Tudo Outra VezOnde histórias criam vida. Descubra agora