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Miguel estava espantando ao ver sua assistente bem na sua frente naquela condição (como poderia se dizer?) bem deplorável. Ele perguntou mais uma vez:

— Maria, o que faz aqui?

— Sr. Miguel, eu vim porque a dona Marina me enviou para que o senhor assinasse um documento importante, mas no meio do caminho a chuva desceu e o carro não podia passar mais adiante na estrada, e eu não podia voltar sem a sua assinatura. Eu resolvi vir andando, contudo, eu caí no barro molhado e me sujei por inteira e agora estou aqui nesta condição! —  ela disse tudo num fôlego só e bateu as palmas das mãos ao lado das coxas, deixando cair mais um quilo de barro na varanda do seu chefe e naquele momento já estava sentindo os olhos marejarem, simplesmente, estava cansada de ser uma humilhação para aquele homem.

Miguel não disse mais nada, porém, a conduziu para dentro, ainda que por onde ela passasse ficasse sujo, e indicou o banheiro na cozinha.

— Você precisa tirar essa lama primeiro. Tome um banho.

— Mas eu não tenho roupas, senhor.

— Vou ver se consigo algumas — ele declarou e a apressou para que entrasse no banheiro.

Maria entrou no box e ligou o chuveiro deixando aquela água lavar toda a sujeira do seu corpo. A porta do banheiro abriu e fechou novamente. Quando ela saiu do banho avistou uma toalha, uma calça de moletom e blusa de manga comprida para se vestir, também havia um saco plástico, provavelmente, para colocar suas roupas sujas e molhadas. Ela se arrumou, prendeu o cabelo num coque e pôs seus óculos. Ao sair, avistou uma menina de cabelos loiros, com idade, aproximadamente, de 17 anos. Ela observou que a jovem moça tinha um leve grau de síndrome de down, contudo, o sorriso nos lábios transparecia muita gentileza.

— Você está melhor agora? — a menina perguntou com a fala um pouco pesada.

— Sim, obrigada. Acho que essas roupas são suas. — Maria sorriu e apontou para as vestimentas.

— Não tem problema. Que bom que serviu. Eu sou a Linda, e você quem é?

Maria se encantou rapidamente com a espontaneidade de Linda. 

— Eu sou a Maria. Muito prazer! — Maria estendeu a mão e a moça logo correspondeu ao cumprimento.

Miguel apareceu, e Linda logo se aproximou dele.

— Mano, essa Maria é bem legal. Gostei dela.

Maria franziu o cenho ao ouvir aquela palavra "mano". Seu chefe tinha uma irmã mesmo?

— É, ela é — ele disse, abraçando a jovem menina de lado. — Ela é a minha assistente que veio trazer documentos para eu assinar, não é mesmo, Maria?

Maria arregalou os olhos ao ver Miguel com a sobrancelha arqueada e com uma expressão tão séria naquele momento.

— É... É... É... — Ela bateu na própria garganta. Por que estava gaguejando?

— Então venha. Melinda, pode voltar para o seu ateliê.

A menina obedeceu, e Maria seguiu o chefe para uma pequena sala, mas no meio do caminho encontrou sua bolsa jogada perto da porta de entrada e tirou dela a pasta com o devido documento. O ambiente no qual entrou não era um escritório. Tinha bastante livros e um sofá cinza com uma mesinha na frente do mesmo, então deduziu ser uma mini biblioteca. Miguel se sentou e pediu para ela se acomodar ao lado dele. Naquele instante, Maria notou que seu chefe não estava vestido com terno e gravata e, sim, como ela: calça de moletom e blusa de manga comprida, mas, claro, tudo com o dobro de seu tamanho e bastante masculino. Ele estava muito bonito ao modo natural.

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