Melhor Amiga

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"No qual nosso herói canta ópera, nossa heroína se arrepia, a campainha toca e algo desafina."


Nada como um bom banho de manhã para despertar e começar bem o dia! Enquanto eu aproveito a espuma da banheira e a água deliciosa na temperatura certa, canto a plenos pulmões uma das minhas óperas favoritas, O Barbeiro de Sevilha!

As últimas semanas vêm sendo maravilhosas. Maria se entendeu com o irmão brucutu antes que ele partisse para Richmond — a cidadezinha no estado da Virgínia onde ela também vivia antes de se mudar para Nova York —, e desde então, o raio de sol voltou a brilhar com todo o seu esplendor.

Não há qualquer sinal daquela tristeza que eu vi em seus olhos quando Jimmy Carbonell veio visitá-la e os dois brigaram. Seja lá o que ele lhe trouxe de problema na ocasião, parece ter virado história passada e resolvida.

Maria anda mais leve e feliz desde então, e isso me deixa leve e feliz automaticamente. É como ação e reação ou átomos ligados. Impossível não ficar bem se ela está bem.

Não menos importante, ao contrário do que fez quando estava estremecida com o irmão e sem clima para romance, Maria nunca mais dispensou o calor do meu corpo em sua cama. E isso me deixa mais leve e mais feliz também, não vou mentir.

O único problema é que tem sido arriscado invadir o Griffith para ficarmos juntos toda vez e não gosto da ideia de colocar Maria em risco assim. Por mais que o perigo seja excitante e compense muito, se Miriam Fry descobrir que eu tenho entrado no quarto da minha dama mordaz todas as noites, Maria poderá ficar em maus lençóis.

Venho pensando numa maneira de contornar isso. Só não sei se o raio de sol vai gostar da solução que encontrei ou se fará alguma objeção.

Ah! Quem eu estou tentando enganar? É obvio que irá fazer muitas objeções, é dela que estamos falando. Terei de ser muito convincente para que Maria pelo menos considere a opção.

Ainda reflito sobre isso enquanto me visto. E ainda estou cantando quando deixo meus aposentos logo depois.

O que vejo no corredor me silencia de forma abrupta e pigarreio para disfarçar que talvez — apenas talvez — eu tenha desafinado um pouco com a surpresa.

Ela está aqui.

Com o uniforme bordô e simples de arrumadeira, de pé ao lado de um balde de alumínio, segurando o esfregão, o rosto corado pelo esforço braçal e olhando para mim com ar divertido, Maria é a imagem mais sensual que eu já vi. E olha que eu já vi muitas, mas nenhuma se compara a ela.

Estou perdido por essa mulher.

— Nossa, Sr. Stark... Eu não sabia que o senhor cantava tão bem. — Maria estica o braço para me mostrar algo nele. — Olha só, fiquei até arrepiada.

Ela ri do próprio comentário ou — o mais provável — de mim, e um súbito calor me incendeia.

Muito perdido.

Olho de soslaio para a porta recém fechada e penso em como eu poderia abri-la com um mero e certeiro girar da maçaneta agora mesmo.

Estreito o olhar na direção de Maria e avalio quantos segundos, depois que nos trancasse no quarto, eu levaria para livrá-la do uniforme. E dos sapatos que adornam com fivelas delicadas seus lindos tornozelos. E o cabelo? Quanto tempo eu levaria para soltá-lo, permitindo que as mechas douradas e macias caíssem livres por seus ombros nus?

— Eu sei fazer outras coisas muito bem e que te deixam ainda mais arrepiada — insinuo. — Quer relembrar?

As bochechas do raio de sol ficam mais vermelhas e a boca meio entreaberta na mesma hora. O calor inflama, e não é só em mim. Aposto como ela está se lembrando da noite passada no Griffith. E das noites anteriores a ela.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora