Imprudência

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"No qual nosso herói e nossa heroína têm uma conversa séria."


Inquieta, mexo-me nos braços de Howard pelo o que deve ser a milésima vez. Ainda não acredito no que aconteceu entre nós e em como foi bom. Não que bom seja uma palavra justa para definir tudo que senti, mas é a única que me vem à cabeça agora já que meu cérebro virou algum tipo de mingau.

Por outro lado, minha consciência nunca esteve tão em alerta. Isso porque, quando as chamas da paixão pararam de me consumir e o momento íntimo cessou, eu me dei conta de algo que não poderia ter esquecido. Nem Howard, aliás. Não acredito que fomos tão imprudentes...

Mexo-me de novo, as pernas resvalando sem querer nas dele sob o lençol. Howard expira profundamente. Se não está dormindo, está à beira disso. O que é, no mínimo, impressionante. E irritante.

Como ele consegue relaxar depois de ter me tomado para si sem qualquer proteção? Como não está com os nervos à flor da pele como eu? Será que não se deu conta do que fizemos e do que isso pode nos trazer?

Se ele não se deu conta ainda, que Deus o ajude porque eu preciso jogar as cartas na mesa nesse instante.

Decidida, desvencilho-me dele, puxo parte do lençol para me cobrir e disparo sem rodeios:

— Nós precisamos conversar!

Minha voz sai mais afoita e urgente do que eu poderia prever, porém não abala o semblante sereno dele. Parece que aquilo deixa os homens bem relaxados depois.

Lutando contra o sono inoportuno, Howard finalmente abre os olhos e murmura:

— Claramente, você tem algo a dizer. Qual o problema, Maria?

Ele flexiona os braços atrás da cabeça, como um apoio, e me lança um sorriso preguiçoso.

— O problema? Como você pode estar tão calmo?

O sorriso se alarga, e ele dá de ombros.

— Não é calma. Chama-se plenitude.

Não nego que é muito bom ouvi-lo dizer isso e meu peito se aquece na mesma hora. É maravilhoso saber que tenho o poder de fazê-lo se sentir tão bem e fora de órbita assim.

Só que esse momento exige certo foco, e o gênio infame parece enfim perceber isso porque se senta também, cruza os braços e me encara com mais atenção.

Engulo em seco e, por mais que eu lute, não consigo evitar olhar para ele com mais atenção também...

Os cabelos desalinhados por minha culpa, a satisfação estampada em cada traço do rosto, o peito nu praticamente me convidando para um toque despretensioso, bem como os braços que, há poucos minutos, estavam me prendendo com tanto ardor enquanto Howard se afundava no meu corpo repetidas vezes.

Uma palpitação me agita ao lembrar disso, das sensações, do calor abrasador me reduzindo a nada, de cada toque e tudo que provocou em mim.

Continuo descendo o olhar, inclinando a cabeça de leve para o lado, recordando a maciez da pele, a rigidez do abdômen e o discreto caminho de pelos que termina no limite do quadril com o lençol.

Mordo o lábio, desejando que essa barreira inconveniente evapore como num passe de mágica.

Meu rosto arde ao perceber o que estou fazendo e, às pressas, ergo a cabeça. Sou recepcionada com um sorriso torto puramente masculino e muito convencido.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora