Cabeça e Coração

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"No qual o nosso herói ouve duas risadinhas e fica pasmo com o que descobre ao seguir o infame som."


Se eu já não estava trabalhando direito quando me enfurnei no laboratório mais cedo, a discussão com Maria apenas agravou tudo. É impossível encontrar o mínimo de foco ou qualquer disposição no estado irascível em que ela me deixou.

E o pior não é isso. O pior é que um lado da minha consciência está me alfinetando com doses cavalares de culpa desde que Maria saiu daqui chispando fogo.

Ela que mente para mim, e eu que me sinto culpado? Altamente ilógico!

O fato é que Maria pode ter me enganado, porém eu não queria machucá-la com as palavras como sinto que machuquei. Havia tanta dor em seus olhos enquanto eu despejava minha ira, que mal posso suportar ter sido o causador do seu sofrimento.

Por falar em seus olhos... É estranho, porém nos momentos em que cravei meu olhar neles, não havia sinal daquela borda verde mais escura que costuma aparecer quando Maria não é franca sobre alguma coisa.

Isso significa que ela estava me dizendo a verdade?

E nos breves momentos em que desviou do meu olhar ou se afastou? Por que o fez? Para que eu não visse que estava mentindo sobre algum detalhe? O que tentava me esconder? Algo específico sobre a maldita carta? O que seria?

Queria voltar no tempo e repassar cada detalhe da discussão para entender melhor o que aconteceu, porém minha mente está tão caótica quanto o laboratório ao meu redor.

Só o que sei é que, apesar da fúria que me consumiu, eu tive que resistir muito para não esquecer tudo e abraçar Maria bem forte quando ela se encolheu em sinal de dor pelas minhas palavras duras.

E bem antes disso, fiz das tripas coração para não tomar a dama mordaz nos braços quando ela chegou me oferecendo um beijo de maneira tão inocente e ousada ao mesmo tempo.

Mesmo agora, só de pensar em tudo isso, a vontade de sucumbir, de ir atrás dela, pedir perdão de joelhos e mergulhar em sua boca, faz meu corpo inteiro arder e o coração bater com força.

Só que eu não posso fazer isso, posso? Porque se Maria mentiu para mim...

Se mentiu?

Aonde foi parar toda a minha resolução? Ela mentiu mesmo! Não foi? Ela é noiva, afinal! Não é?

— Argh! Ora, que inferno!

Deixo o laboratório na esperança de que nenhum pensamento me acompanhe e sigo sem rumo certo pela casa, praticamente marchando para descontar a frustração no chão por onde piso. Quando passo pela sala, ouço um som vindo lá de fora e me detenho um tanto surpreso.

É uma risadinha.

Não, duas risadinhas.

Femininas. E familiares. Seguidas por vozes.

— E ele não desconfiou mesmo de nada?

Ouço Peggy indagar, soando muito interessada.

— De nada! O tonto ficou em choque com a minha armação!

E Maria responder com ar orgulhoso.

Tais palavras e mais risadinhas fazem meu sangue ferver nas veias.

Do que raios essas duas estão falando?

Só pode ser de mim, é claro!

Muito me admira que Maria esteja abrindo o jogo assim com Peggy, porém que outra explicação haveria? Estou furioso, não surdo, eu ouvi muito bem!

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora