Entre Livros

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"No qual nosso herói confronta nossa heroína, e chega a uma conclusão animadora para ele e desesperadora para ela."


Quem diria que a orgulhosa Maria Carbonell fosse enfim sair um pouco da defensiva e se render a pelo menos uma das minhas inúmeras qualidades?

Ainda não acredito que ela reconheceu o meu senso de humor, mas foi exatamente o que aconteceu ontem. Maria riu de uma piada que fiz, pareceu à vontade comigo pela primeira vez e ainda me chamou de palhaço nato — o que vindo dela é um elogio e tanto, não posso reclamar.

Isso somado ao sorriso franco e encantador que dirigiu a mim, antes de toda a confusão causada pelo meu primogênito Bernard Stark no jardim, mostra um claro progresso na sua forma de me enxergar. Um progresso misterioso também, pois ainda não sei o que fiz para merecer aquele bendito sorriso. Nem como vou tirá-lo da cabeça.

Diabos... Como pode um simples sorriso mexer tanto com um homem? E um homem como eu, habituado a recebê-los aos montes de todas as mulheres que cruzam meu caminho e desde sempre!

Por falar nisso, uma vez minha falecida mãe contou que a parteira estava sorrindo largamente quando me trouxe à mundo. Disse que eu era um bebê lindo, risonho e simplesmente não conseguia parar de sorrir para mim.

Parece que enfim Maria Carbonell percebeu como sou encantador também. Talvez não haja nenhum mistério nisso, apenas o bom senso falando mais alto e vencendo a hostilidade inicial que ela de cara nutriu pela minha pessoa.

Olha só! Já estou me referindo à sua hostilidade como uma página virada!

Sem querer me gabar muito, acredito que seja página virada mesmo. E, uma vez vencida essa barreira, acho que posso voltar a sonhar com uma possível conquista.

Se continuarmos nos aproximando, como senti que nos aproximamos tão naturalmente ontem, Maria verá minhas outras qualidades e não será mais capaz de resistir ao meu charme inegável.

Quando eu beijá-la então... Ah, aquela dama mordaz ficará sem palavras! E quando recuperar a capacidade de pensar e falar alguma coisa, tenho certeza que será apenas para pedir por outros beijos, por mais, por tudo que tem direito. E eu darei o paraíso a Maria Carbonell. Simplesmente o paraíso! Ela jamais vai esquecer.

Foi com esses pensamentos que fui dormir à noite e com eles que acordei essa manhã. Ao contrário dos últimos dias, dormi magnificamente bem. Inebriantes sonhos envolvendo tornozelos e sorrisos vêneros.

[...]

Depois de um banho revigorante e de me vestir, checo as horas no relógio que ajusto no pulso. São oito e quinze, e isso significa que Maria está muito perto de chegar para iniciar mais uma jornada de trabalho.

Ansioso, sigo para a varanda e estico o pescoço para espiar o caminho que dá no portão frontal. Para meu deleite, ela logo surge, porém de outra direção e acompanhada por Jarvis.

Ontem, meu mordomo contou que Maria tomou o café da manhã com Ana. Jarvis não conseguiu acompanhá-las na refeição porque estava ocupado demais correndo atrás do meu temperamental flamingo. Hoje, tudo indica que os três conseguiram se reunir.

Parecendo muito satisfeita e tranquila vista daqui, Maria sorri para Jarvis quando ele comenta algo que não escuto por causa da distância. E é então que eu me lembro por que corri para a varanda com tanta ansiedade. Quero que o raio de sol me veja antes de entrar na mansão e, assim, possa me agraciar com um sorriso como o de ontem.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora