No qual nossa heroína mente para si mesma. E não se convence.
Há duas coisas que não consigo compreender. 1. Como eu pude concordar com a proposta de amizade do gênio infame mesmo desconfiando, fortemente, que ele está mentindo e tramando algo com essa história toda de apenas bons amigos? 2. Como eu regredi tão rápido em datilografia após me dedicar tanto nas últimas aulas?
— Pare de catar milho, Srta. Carbonell! — O Sr. Richards, um homem esguio, meio pálido e um tanto impaciente para um professor, me repreende pela terceira vez desde que a aula começou.
E pela terceira vez, estremeço com o sobressalto porque não havia reparado que ele passou perto da minha mesa. Ah! E pela terceira vez, ouço o burburinho de risadas maldosas que vêm das fileiras de alunas ao meu redor.
Expiro com força e olho com raiva para a folha de papel enrolada ao cilindro da máquina. Escrevi não mais do que três linhas do exercício ditado pelo Sr. Richards.
Enquanto espero ele repetir o texto do começo, para acompanhar direito dessa vez, deixo-me levar por um rompante de travessura e aperto algumas teclas. Catando milho mesmo, que seja!
É então que uma palavra se forma. E me encara de volta com ar de desafio. Seis letras, três vogais e três consoantes. Nada mais.
Patife.
Tão logo me dou conta de que escrevi isso, puxo a folha às pressas, forçando um pouco a prensa da máquina com o movimento, e amasso o papel de qualquer jeito. Jogo-o no cesto de lixo aos meus pés, dentro do qual outras folhas amassadas, testemunhas do meu retrocesso hoje, se amontoam.
Pensativa, encontro a resposta da segunda pergunta pelo menos. Eu regredi em datilografia porque o patife em questão me tirou qualquer foco com seu retorno a Nova York.
Sobre a primeira pergunta... Ainda não tenho uma resposta que me satisfaça.
Deixo a aula quando me convenço de que o meu cesto já não tem espaço para um alfinete. Que dirá para mais uma folha amassada!
O Dr. Strange ficou animado quando eu mencionei que tinha me matriculado num curso de datilografia. Ele adquiriu uma máquina de escrever há pouco tempo, o equipamento fica em sua sala por enquanto, mas ele afirmou que pretende colocá-lo na minha mesa para que eu redija os prontuários atualizados dos seus pacientes e outros documentos do consultório.
Venho frequentando as aulas na Escola de Datilografia Remington três vezes durante a semana, sempre após o expediente, e juro que estou evoluindo. Ainda cato muito milho? Sim, admito que cato, porém estou progredindo pouco a pouco.
Exceto, por hoje. Hoje fui mesmo um completo fiasco.
— Patife... — xingo baixinho.
[...]
Enquanto caminho apressada pelas calçadas, procuro não me recriminar tanto pelo mal desempenho na aula e tento desanuviar a mente. Então, concentro-me no que realmente importa: Howard Stark deve estar mentindo.
Ele só pode estar mentindo.
Não fiquei maluca, não sofro de alucinações; ele me olhou de um jeito caloroso por baixo de toda aquela postura descompromissada que quis vender de si mesmo.
E quando flertou comigo, entre um comentário e outro, não foi só porque é de sua natureza flertar feito um descarado. Ele estava me dando corda, sutilmente, jogando sua isca. Se eu me deixasse fisgar, aposto como pararia com todo aquele teatro na mesma hora.
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...