Anjo Diabólico

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"No qual nosso herói pega a nossa heroína. Duas vezes."

Admito que andei evitando a Srta. Carbonell desde a nossa última conversa. Para ser franco, acho que vou precisar de muito tempo ainda para digerir aquele momento.

A forma como ela se aproximou de mim, insinuando a possibilidade de um beijo, seu corpo tão próximo a cada passo que dava em minha direção, os olhos cintilando com uma luz própria dela, o suave toque de suas mãos no meu peito... para então revelar que tudo não passou de um teste de caráter! Aquilo foi muito frustrante!

Apesar disso, inflamou ainda mais o interesse que eu senti desde a primeira vez que coloquei os olhos nela. E, para completar o martírio, acho que despertou outra coisa também. Algo misterioso, desconhecido e assustador que não entendo direito.

Por tudo isso, fiz um esforço estratégico para nunca ficarmos no mesmo ambiente e torci para nem mesmo esbarrar com ela por acidente nos corredores da mansão.

Tive sorte — ou azar, não sei bem — porque a tática funcionou até agora.

Longe da sua presença, pensei que estaria a salvo da influência misteriosa e do encanto que me intrigam tanto nela. Ao menos, com a distância forçada, fui capaz de cumprir a promessa sobre tratá-la com respeito e apenas como minha arrumadeira. Sem vê-la, não tive como nem sonhar em quebrar minha palavra, claro.

Acontece que hoje, depois de quase uma semana sofrendo de uma estranha abstinência, coloquei os olhos na dama mordaz de novo.

Em minha defesa, não procurei por isso. Ela simplesmente brotou como mágica no jardim, pouco tempo depois que eu, já acordado de um sono inquieto, abandonei a cama, a mulher que passou a noite comigo ainda dormindo profundamente e fui em busca de ar fresco na varanda.

Então eu a vi. Um verdadeiro deleite para os olhos. E não tive como desver.

Foi impossível não acompanhar o caminhar tranquilo de Maria Carbonell pelo jardim, enquanto se afastava cada vez mais da casa de Jarvis e Ana, de onde devia ter saído momentos atrás. Impossível não admirar seus tornozelos e todo o resto em perfeita harmonia. Impossível não achar graciosa a maneira como a luz do sol incidia nos cabelos dourados dela, deixando-a ainda mais linda, como um anjo diabólico. E definitivamente impossível não sorrir quando ela estancou no lugar e me pegou em flagrante observando-a com tanta atenção.

Eu esperava um olhar nada amigável, porém, me surpreendendo até o último fio de cabelo, Maria acabou sorrindo de volta.

Ela. Sorriu. De. Volta.

A criatura orgulhosa ao extremo, que tanto me julga e despreza meu comportamento com as mulheres, sorriu para mim! Em que mundo uma reação dessas é possível, me digam?

Fiquei surpreso, descrente, pensei até ter sido vítima de um delírio. Então estreitei o olhar em sua direção e me vi completamente preso no discreto e despretensioso sorriso que enfeitava o seu belo rosto, ao mesmo tempo em que algo no meu peito acelerava em resposta. Meu coração.

Uma fada... Maria Carbonell é uma fada. A única que realmente existe.

Devo ter me distraído muito com esse pensamento, pois só notei que havia algo errado — correndo justo na direção dela —, quando Jarvis gritou para que tomasse cuidado.

Eu mesmo tentei alertá-la sobre o perigo iminente de um desgovernado Bernard Stark se aproximando com passadas ligeiras, mas já era tarde demais para Maria sair da frente.

Nem eu nem Jarvis pudemos evitar, e ela foi atropelada por um flamingo, despencando na grama de maneira cômica com o impacto inesperado.

Confesso que eu teria rido. Muito, na verdade. Sim, eu quase caí na gargalhada! Porém, quando Maria não moveu um músculo sequer para se reerguer, percebi que havia algo errado. 

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora