"No qual nosso herói e nossa heroína debatem sobre beijos e exceções."
Na primeira vez que lustrei as molduras dos autorretratos de Howard Stark pela sua mansão, tive que resistir ao ímpeto de revirar os olhos e confesso que empreguei uma força bruta extra ao trabalho de esfregar as bordas.
Não fui muito zelosa, admito.
Entretanto, hoje... Hoje tem alguma coisa diferente no ar. O sorrisinho nos lábios do homem retratado não me irrita nenhum pouco, tampouco o acho ridículo como costumava me parecer. Hoje, eu até gosto de observar cada traço, pois aquece meu coração de um jeito muito bom e chego a me divertir com a nuance presunçosa que estica um dos cantos de sua boca. Hoje, reconheço que há certo charme nesse sorriso e tenho que resistir a um novo ímpeto: o de passar a ponta dos meus dedos pela boca atrevida do modelo em questão.
— Boca atrevida... — murmuro baixinho, interrompendo o trabalho e sendo levada para as lembranças de ontem na biblioteca.
Howard Stark tem uma boca muito atrevida. Pecaminosamente habilidosa. E o beijo mais doce do mundo.
Não que eu tenha beijado muitos homens antes dele. Foi somente um, aliás. Ainda assim, tenho certeza que não existe beijo mais perfeito.
É estranho pensar que, até pouco tempo, eu não dava nada pelo patife. De um jeito que eu não podia imaginar, o mundo deu voltas e as coisas mudaram por completo. Meu olhar mudou. E o meu coração, sem dúvida, foi o que mudou ainda mais.
Depois que acertamos nossos ponteiros ontem, depois que eu finalmente entendi que não sou uma qualquer para Howard e o beijei naquela bendita poltrona, ele retribuiu de maneira desconcertante. Howard me beijou de volta com um ardor doce ainda mais forte do que das outras vezes. E, mais uma vez, me perdi nos seus lábios. E no seu corpo depois porque... Bom, não deu para resistir.
Foi intenso. Maravilhoso. Especial mais uma vez.
É assustador, mas eu não acho que seja possível viver sem os beijos dele agora. Sem os abraços. Sem ele por inteiro.
— Bom dia, raio de sol!
Mergulhada nessas reflexões, tenho um sobressalto nada elegante e grito alarmada quando a voz do patife irrompe pelo escritório. O quadro que eu lustrava — antes de me distrair, é claro — escapa das minhas mãos, caindo com um baque estrondoso sobre a mesa de cerejeira diante de mim.
— Argh! — praguejo, recompondo-me o mais rápido que consigo. — Deus do céu! Custava fazer algum barulhinho antes de entrar?
Howard sorri com diversão, apoia o corpo de lado na porta e cruza os braços com uma graciosidade preguiçosa.
— Eu te chamei três vezes, mulher.
— Chamou? — De súbito, fico sem graça. — Eu não... Eu não ouvi.
— Deu para perceber. No que estava pensando tanto, Maria? — Howard arqueia as sobrancelhas de leve, como se soubesse muito bem a resposta ou, ao menos, tivesse uma boa ideia do que rondava minha cabeça. — Pela sua cara, só podia ser coisa boa.
Engulo em seco, sentindo que meu rosto começa a ficar quente. Muito quente. Meu coração traidor dispara, bombeando mais sangue para as bochechas já em chamas.
Um sorrisinho masculino de pura satisfação se desenha nos lábios de Howard e, de repente, ele está caminhando até mim. Fico tensa no mesmo instante. E cheia de expectativa ao mesmo tempo. Eu sei, altamente ilógico.
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...