A Maldita Pulga

220 13 24
                                    


"No qual Jarvis dá um empurrãozinho em nosso herói."


Conheço Edwin Jarvis há uns bons anos, desde antes da Segunda Guerra. Sem querer soar sentimental, nós temos um laço que vai muito além da relação patrão e empregado. Mais do que meu mordomo e braço direito, ele é meu amigo. Daquele tipo verdadeiro e raro.

Era de se esperar que, a essa altura, eu o conhecesse como a palma da minha mão e nada mais me intrigasse. Porém, às vezes, Jarvis se transforma em uma esfinge. Como agora. Chega a ser irritante não conseguir decifrar o que se passa por trás do olhar vazio que ele sustenta na minha direção.

Incomodado com a postura enigmática, decido retomar o que eu fazia antes dele adentrar o laboratório há alguns minutos. Assim, continuo a busca por um componente específico na estante ao meu lado, dando um tempo para Jarvis processar o que lhe confidenciei e que reencontre o som da própria voz.

Enquanto percorro as etiquetas coladas aos frascos com a ponta do dedo, avalio se eu disse alguma coisa imprópria para deixá-lo mudo e paralisado feito uma estátua.

Jarvis estava curiosamente agitado quando chegou aqui, visivelmente ansioso para saber se a visita do raio de sol, mais cedo, teve um resultado promissor para a nossa relação de agora em diante.

Óbvio que ele não queria saber detalhes, jamais me perguntaria algo assim pois é um cavalheiro como poucos, e eu jamais diria algo íntimo sobre Maria também.

No entanto, sem dúvida, ele captou tudo nas entrelinhas quando contei que sim, eu e a dama mordaz nos entendemos muito bem e que o resultado foi mais do que promissor, foi... perfeito.

Confessei ainda que Maria declarou o seu amor por mim e que essa foi a melhor coisa que eu já ouvi em toda a minha vida.

Meu fiel escudeiro ficou muito feliz ao saber de tudo isso. Juro que, por um momento, pareceu que ele daria um pulo de alegria e sairia saltitando pelo laboratório tamanha euforia, porém se conteve e respirou fundo uma vez antes de emendar uma nova pergunta ao assunto.

E desde que ouviu a resposta, emudeceu.

Oh, droga... O que foi que eu falei de errado para deixá-lo assim? E por que Maria também ficou meio estranha depois de dizer que me amava? Inclusive, ela mal falou no caminho de volta ao Griffith. Não me destratou nem nada do tipo, porém me apareceu um tanto... apática.

— Sr. Stark, temo não ter compreendido muito bem o que falou por último — Jarvis, de repente, mostra que ainda sabe se comunicar verbalmente. — Poderia repetir, por gentileza?

— Você ficou congelado aí por uns setenta anos e espera que eu me lembre do que falei?

Quem estou querendo enganar? É óbvio que me recordo muito bem, só pretendo ganhar tempo. Ganhar tempo porque, no fundo, sinto que fiz algo errado e imagino estar em maus lençóis. Busco ganhar tempo numa tentativa de contornar a situação em que pareço ter me metido por algum deslize tolo.

Que deslize será esse, Santo Einstein?

Encurralando-me ainda mais, Jarvis desenvolve o assunto:

— O senhor comentou que a Srta. Carbonell declarou que o ama e o quanto ficou feliz ao ouvir as palavras dela. Então, eu quis saber como ela reagiu ao ouvir o mesmo, e o senhor respondeu que...

— Que eu não disse.

Inferno.

Já sei por que Maria estava tão reservada e distante quando lhe dei carona. Eu não disse a ela como me sinto. Não foi um deslize tolo, foi um tremendo escorregão. Talvez... imperdoável.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora