Fora de Órbita

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"No qual nossa heroína é surpreendida por um visitante."

Angie anda de um lado para o outro do seu pequeno apartamento, gesticulando com empolgação e despejando uma frase atrás da outra no ritmo acelerado que lhe é tão comum. Juro que tento acompanhá-la, porém é simplesmente impossível. É como ouvir um solilóquio em grego, embora eu saiba muito bem que Angie está falando comigo no bom e velho Inglês.

Confusa, abaixo a cabeça e examino o cálice vazio em meu colo. Só tomamos uma dose do seu licor de framboesa, duvido que a dificuldade de concentração esteja relacionada ao álcool.

Ah, quem eu quero enganar? Sei muito bem por que estou tão fora de órbita assim. Ou melhor, por causa de quem.

A verdade é que desde que Howard me trouxe ao Griffith e nos despedimos em seu carro, o dito cujo não me sai da cabeça. Seu sorrisinho torto, o olhar com aquele perigoso brilho endiabrado, o sabor doce de sua boca na minha, todas as lembranças dos nossos momentos juntos antes disso e como meu nome soa especial naquela voz rouca...

— Maria!

Alarmada, endireito-me na cama e ergo o olhar na direção de Angie. Postada na minha frente, ela me encara de cenho franzido e com a cabeça inclinada num ângulo engraçado.

— Desculpe, o que você disse?

Pela sua postura, é óbvio que ela terminou algum relato importante e me convocou para a conversa questionando alguma coisa também relevante.

Ainda com ar desconfiado, Angie esclarece:

— Eu pedi a sua opinião. Você acha que passei no teste?

Oh! O teste! Era disso que ela falava!

Angie sonha em ser atriz e fez uma audição para uma peça hoje. Agora me lembro que, no começo do seu desabafo, captei algo sobre isso mesmo.

— Claro que sim! — Sorrio para minha amiga, tentando lhe transmitir tal segurança. — O papel sem dúvida é seu, não se preocupe.

No entanto, meu apoio não surte o efeito esperado. Angie não só não parece convencida, como cruza os braços e estreia o olhar ao contrapor:

— Mas como será meu se eu sinto que nem de longe dei o melhor de mim? E como se as outras candidatas pareceram muito mais confiantes do que eu jamais serei?

Oh... Acho que perdi essa parte do relato.

Abro a boca para argumentar de volta, porém torno a fechá-la, pois me dou conta de que não sei o que falar.

— Você não ouviu uma palavra do que eu disse antes, ouviu?

Ante o tom retórico de Angie, tudo que faço é encolher os ombros e lamentar sem jeito:

— Desculpe, estou meio desligada hoje.

Ela volta a me encarar. Depois, senta-se ao meu lado. Não parece brava, apenas curiosa.

— Meio desligada não passa nem perto, doçura. Isso é outra coisa. Você mal está aqui comigo. O que aconteceu?

— Nada — desconverso, sem saber por onde começar, nem mesmo se quero falar sobre a recente reviravolta em minha vida agora. É tudo tão novo e surpreendente.

Além disso, como contar para Angie que eu e meu infame patrão estamos intimamente envolvidos se, há pouquíssimo tempo, eu assegurei a ela que não acreditava em nada romântico vindo de nós?

Inquieta, desvio do seu olhar inquisidor. E num gesto patético, levo o cálice vazio à boca, sorvendo um gole invisível. Angie arqueia as sobrancelhas diante da cena, enquanto minhas bochechas esquentam pela gafe cometida e que em nada me ajuda.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora