Advogado do Diabo

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"No qual nossa heroína ganha uma carona. Depois de ter perdido aquela pedra."

Não sei o que deu em mim. Geralmente não sou uma pessoa desbocada e indelicada. Pelo menos, não com alguém que acabo de conhecer.

Quando vi que o dono daquela mansão - e autor do infame anúncio - era ninguém mais ninguém menos do que Howard Stark, no entanto, o sangue simplesmente ferveu em minhas veias e não pude evitar.

Em minha defesa, eu já estava uma pilha de nervos porque a pedra - aquela maldita pedra que eu tive a brilhante ideia de pegar na calçada um pouco antes, a fim de estilhaçar alguma janela -, havia rolado pelo chão da sala e desaparecido no momento em que eu ia escondê-la dentro da bolsa. Justamente quando eu ia aproveitar a ausência do Sr. Jarvis para ocultar a prova de minha quase-transgressão, deu-se tal desgraça.

Então, antes que eu a encontrasse, o Sr. Stark apareceu, vestindo um robe que mal cobria o seu traje de banho, interrompeu a busca, me deu aquele tremendo susto e não perdeu tempo em despejar sorrisos, gracejos e olhares impróprios para mim, como deve fazer com toda e qualquer mulher.

Por tudo o que há de mais sagrado, qual era o problema dele com os meus pés, afinal?

Quer saber? Ele mereceu sim ouvir umas boas verdades! O típico homem que não pode ver uma nova mulher por perto e já se sente compelido a bancar o macho alfa. Alguém que diz admirar as mulheres, mas que não as respeita de verdade. Um patife!

Aposto que nem ficou tão magoado, afinal eu não insinuei nenhuma mentira e ele deve se conhecer muito bem para não me julgar por dizer apenas a verdade.

A essa altura, talvez nem se lembre mais de uma mísera palavra que saiu da minha boca. Não quando tem um séquito de mulheres aos seus pés para lhe dizer justamente o contrário todos os dias, para levantar sua autoestima rumo ao Everest e inflar seu ego até a Lua.

Fui noiva de um homem como ele por seis anos. Um conquistador barato. Bem mais discreto do que o famoso inventor e empresário das Indústrias Stark, no entanto, William não me deu qualquer pista do seu verdadeiro caráter volátil até ser tarde demais...

Não, não posso nem quero pensar nesse fantasma agora.

Expiro com força e aperto a bolsa contra o colo, enquanto o Plymouth sedã serpenteia pelas ruas de Nova York.

Fiquei tão incomodada com o flerte daquele playboy metido a besta que acabei entrando no veículo tão logo o Sr. Jarvis me ofereceu uma carona.

Ao avistar o prédio da companhia telefônica alguns quarteirões à frente, e doida para que esse dia acabe logo, aviso:

- Pode parar logo ali. Eu moro perto e ando o restante sem problemas.

- De maneira alguma, isso seria muito rude - ele soa abismado com a mera sugestão. - Deixar uma dama no meio do caminho? Mesmo se estivéssemos a uma esquina de distância, eu não me perdoaria por tal grosseria. Além disso, meu patrão foi muito claro, eu devo acompanhá-la até a sua residência.

Tenho a impressão de que o mordomo - e, pelo jeito, motorista também - disse a última parte sem querer porque uma ruga de tensão surge em sua testa logo depois.

- Não me diga. E por que ele fez questão disso?

O pobre homem engole em seco, antes de se explicar sem desviar os olhos da rua:

- Apenas uma gentileza, Srta. Carbonell. Embora ele não admita, é também uma forma de compensação. Não foi intenção do Sr. Stark insultá-la com o anúncio ou com aquele comportamento... comportamento...

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora