No qual a nossa heroína procura ter foco. E um novo emprego também.
Tento me concentrar apenas no que estou fazendo já há alguns minutos. Na limpeza das janelas da sala de estar. Concentro-me apenas na flanela ligeiramente úmida e em deixar os vidros reluzindo enquanto faço movimentos constantes e meticulosos contra uma superfície por vez.
Nada de pensar nos eventos desastrosos dessa manhã no laboratório e depois no escritório de Howard, nada de pensar nesse patife, nada de...
— Droga — resmungo baixinho, dando-me conta de que tentar não pensar nele automaticamente me leva a pensar nele.
Os vidros. As janelas. Tenho que me esforçar mais.
De repente, avisto um veículo conhecido adentrando a propriedade e dedico parte da atenção a isso também. Não demora muito, o Sr. Jarvis estaciona e sai do carro. Ele se apressa a fim de dar a volta para abrir a porta do passageiro e estende a mão para Ana descer.
Mesmo à distância, consigo enxergar nitidamente que não há apenas cavalheirismo nesse gesto tão simples. Há devoção e... muito amor.
Já de braços dados com o marido, Ana repousa a cabeça em seu ombro e faz algum comentário que arranca um sorriso carinhoso dele.
Eu não sei de muitos detalhes, só que, há cerca de um ano, Ana foi vítima de um ato covarde e almejada por um tiro. Ela mencionou certa vez que ficou em estado muito grave e o Sr. Jarvis, muito abalado. Por dias, ele permaneceu no hospital ao lado dela, não comia, não dormia, apenas vigiava seu leito. Embora, Ana tenha se recuperado no fim de tudo, houve uma sequela irreversível. Ela nunca poderá gerar um filho deles.
Uma tragédia assim poderia arruinar qualquer relacionamento menos sólido. Contudo, no caso de Ana e Jarvis, acredito que o momento difícil e a terrível consequência fortaleceram ainda mais o que, claramente, eles sentem um pelo outro, unindo-os ainda mais.
O cuidado do Sr. Jarvis com Ana aumentou consideravelmente após o ocorrido, segundo ela. O marido faz questão de acompanhá-la a qualquer consulta médica desde então. Hoje, por exemplo, eles foram em uma delas pouco depois que cheguei.
Nesse momento, vendo os dois juntos assim, tão cúmplices e harmoniosos, sinto um vazio estranho e uma saudade inconveniente de... Howard.
E de tal modo, a tentativa de não pensar nele se mostra falha mais uma vez.
Pela janela, vejo o mordomo dele se despedir da esposa com um beijo afetuoso. Então, ela segue para a casa dos dois, do outro lado da propriedade, e o Sr. Jarvis vem caminhando na direção da mansão.
— Srta. Carbonell — ele me cumprimenta de modo educado pela segunda vez hoje, ao adentrar a sala.
— Sr. Jarvis — cumprimento de volta, abandonando a limpeza dos vidros para lhe dar atenção. — Ana está bem?
Seus olhos têm certo brilho quando responde:
— Sim, perfeita como sempre. Eis uma mulher forte e fabulosa. Por mais que eu seja suspeito para dizer isso, é claro. — Ele olha em volta por um instante e depois pergunta: — Tudo bem por aqui?
Como devo responder?
— Claro.
Com uma mentira, por que não?
O mordomo hesita por alguns instantes, como se estivesse procurando assunto ou, o mais provável, enrolando para ir direto ao ponto.
— Sabe me dizer aonde a Srta. Carter está?
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...