"No qual nosso herói escapa do Griffith. Mas não do carma."
Depois de uma boa espiada nos dois lados do corredor silencioso e vazio, encosto a porta e me volto para o homem no meu quarto. Howard me pediu para checar se o andar está deserto, para que assim ele possa ir embora. Será desastroso para mim se ele for flagrado nessas dependências, homens não são permitidos além da recepção e eu serei despejada se a verdade vier à tona.
— Nem sinal dela.
Ele franze o cenho.
— Dela...?
Um riso me escapa diante da morosidade do seu raciocínio geralmente tão rápido. Acho que Howard ainda está meio desnorteado pelo que fizemos juntos essa manhã, na cama bem atrás dele.
Um rubor ameaça tomar conta do meu rosto ao relembrar. Ao mesmo tempo, me sinto como uma deusa poderosa por tê-lo tirado dos trilhos a tal ponto.
— A Sra. Miriam Fry, gênio! Não era dela que você estava fugindo quando invadiu o meu quarto?
Howard engole em seco e se empertiga um pouco antes de responder:
— Exato.
Porém, quando torno a abrir a porta e indico o caminho livre para zarpar, ele indaga com receio:
— Tem certeza que não tem mais ninguém aí fora? Alguém que possa denunciar você? Eu não quero te causar problemas, raio de sol.
Acho difícil uma alma viva ter se materializado no corredor nos últimos segundos, entretanto, como o seguro morreu de velho, dou mais uma espichada de pescoço e depois afirmo sem sombra de dúvida:
— Ninguém à vista. As garotas ainda devem estar tomando o café da manhã. Não dá para negar que a refeição é uma das melhores coisas no Griffith.
— Ótimo!
O semblante de Howard relaxa de imediato e, como se fosse tirar o pai da forca, ele cruza a porta me arrastando pela mão. Meio aos tropeços, tento acompanhá-lo pelo extenso corredor enquanto o movimento rápido balança meu vestido.
— Você não pode descer pelas escadas, é muito arriscado — sussurro porque o seguro morreu... — Como conseguiu subir aqui, aliás? A Sra. Fry é praticamente um cão de guarda sobre a regra mais importante desse lugar.
— Digamos que Jarvis distraiu o cão de guarda. Ele não sabia quanto tempo eu ia demorar e tinha ordens para me esperar no carro a um quarteirão daqui depois que eu subisse.
E assim o meu rosto arde ao imaginar o mordomo esperando esse tempo todo pelo patrão e, certamente, tirando uma conclusão óbvia sobre a demora dele.
Não que eu esteja envergonhada do que fiz. Eu não podia imaginar que um dia me entregaria ao homem que segura minha mão agora, mas não estou nem de longe arrependida. O que é uma grande reviravolta, devo admitir.
Pensei que Howard Stark fosse o último homem na face da Terra por quem me apaixonaria, e agora... Agora ele tem o meu coração nas mãos. É assustador e, ao mesmo tempo, me parece a coisa mais certa do mundo.
Ainda assim, gostaria de manter o momento de paixão apenas entre Howard e eu. Não gostaria que o Sr. Jarvis concluísse que aconteceu algo íntimo entre sua colega de trabalho e o nosso patrão em comum. Ainda mais sabendo que o mordomo acompanhou de perto as conquistas dele e pode muito bem concluir que eu fui fisgada essa manhã como todas antes de mim. Pode pensar que eu sou, portanto, mais uma qualquer na cama de Howard Stark.
O pensamento me faz diminuir o passo até parar de vez. De súbito, meu coração fica apertado e uma pontada de dor surge.
Será que sou exatamente isso para Howard? Apenas mais uma conquista no meio da sua lista extensa? Será que, assim como meu ex-noivo, Howard despejou palavras doces e fingiu gostar de mim só para conseguir o que queria e logo irá me descartar?
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Gênio Infame, Dama Mordaz
FanfictionDepois de sofrer uma desilusão amorosa, Maria Carbonell prometeu que nunca mais cairia nas garras de mulherengos traidores. Agora, ela só quer seguir em frente de cabeça erguida. Cientista e empresário brilhante, Howard Stark não esconde de ninguém...