Desafio Irresistível

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"No qual nosso herói aproveita um saboroso café da manhã e tenta convencer nossa heroína a se juntar a ele."

Poucas coisas me tiram o sono. Exceto mulheres, claro. Só que, nesse caso, não me importo porque perco o sono em prol da diversão.

Eis o problema: algo mudou na noite passada, depois que Jarvis voltou da incumbência que lhe dei e me contou sobre a conversa que teve com a Srta. Maria Carbonell. Resultado: perdi o sono do jeito nada divertido.

Meu leal mordomo pareceu bem constrangido ao reportar a decisão da peculiar criatura. Mesmo quando Jarvis, em meu nome, lhe ofereceu o triplo da remuneração, ela disse não à vaga de arrumadeira.

Exato. Como assim ela disse não?

Essa pergunta me tirou o sono, serpenteando minha mente, sempre acompanhada pela imagem da dama mordaz que me encantou com seu nariz empinado, o olhar impetuoso e os sedutores tornozelos.

Ah, aqueles tornozelos...

Pelas longas horas da madrugada, fiquei olhando para o teto e girando entre os dedos a misteriosa pedra - que encontrei na sala após sua partida intempestiva.

Eu nunca vou atrás de mulher alguma. Elas vêm até mim. E quando preciso terminar um envolvimento, Jarvis se transforma em meu mensageiro. Como lembrança dos bons momentos que viveram comigo, ele sempre leva um bracelete de diamantes para presentear minhas paixões efêmeras. Algo que não impede que muitas delas desfiram tapas contra o coitado, já que não podem me atingir.

Nunca imaginei que quebraria a rotina por uma mulher que nem sequer deu brecha ao meu galanteio.

Surpreso com minha decisão, opto por fazer uma parada antes de Jarvis me levar ao Griffith. Quem sabe assim eu volte às minhas plenas faculdades mentais e desista da ideia absurda de procurar Maria Carbonell?

Enquanto ele espera no carro, cruzo a porta da Marsh's Bakery, uma pequena padaria no centro de Nova York e, como sempre, sou recepcionado aos suspiros pelas atendentes. Faço questão de arquear as sobrancelhas de forma sugestiva para cada uma delas.

Até que o dono, um homem de cabelos grisalhos e feição simpática, toma a frente, dispersa as encantadoras jovens com um gesto de mão, e elas voltam a atender os poucos clientes espalhados pelo lugar.

- Sr. Stark! Bom dia! - Ele sorri para mim, oferecendo a sua melhor mesa. - É uma honra recebê-lo mais uma vez no meu estabelecimento. Como tem passado?

- Muito bem, Sr. Marsh.

- O que deseja hoje? O de sempre?

- O senhor já me conhece - brinco, com um sorriso afável.

- Fique à vontade.

Assim que ele se afasta da mesa, todo feliz, abro o jornal de hoje e tento me concentrar nas manchetes. Em vão. Não demora muito para que as cotações da bolsa de Nova York virem um emaranhado ilógico e meu pensamento voe para outra direção.

Eu devia esquecer aquela moça atrevida, porém não consigo. Algo nela me intrigou. Algo além da sua beleza de Afrodite. Talvez, justamente, o jeito ousado de dizer o que pensa e a imunidade ao meu charme. E, claro, o fato de ter dito não, quando eu tentei consertar a má impressão e reiterei a oferta de emprego através de Jarvis.

Foi por isso que não preguei os olhos essa noite. Porque Maria Carbonell se transformou num desafio irresistível. Mais do que isso, uma questão de honra.

Não me entendam mal, eu não pretendo seduzi-la, caso ela decida trabalhar para mim. Adoraria, mas não pretendo. Não sou tão canalha quanto podem me julgar por aí. Quanto ela, de certo, me julga.

Gênio Infame, Dama MordazOnde histórias criam vida. Descubra agora